A Cruz das almas ou de Santo Antônio – Por Maria Stella de Novaes

Era costume antigo firmar-se uma Cruz, — um Cruzeiro, dizia-se, — nos lugares em que houvesse ocorrido algum fato impressionante, doloroso ou trágico: — morte súbita de algum viajante, desastre fatal, homicídio, visões sobrenaturais, etc. E o transeunte, que divisasse o augusto sinal da Fé, descobria-se. Raramente omitia uma prece. Rezava, pelo repouso eterno do finado, ou para que Deus perdoasse a alma penada, responsável pela assombração.
As Cruzes indicavam igualmente pontos envoltos em mistérios ou lendas, como, por exemplo, a que existia na Fazenda Santo Antônio, hoje, bairro adiantado, na Cidade da Vitória. Indicava o sítio em que foi encontrado o cadáver de um padre muito respeitado, pelas suas virtudes, e que vinha celebrar a Santa Missa, na Cidade. Pessoas devotas ergueram, ali, numa pedra, uma Cruz substituída sempre quando arruinada pelo tempo. Situava-se o ponto à beira-mar, onde pela profundidade, chamava-se perau. Notabilizou-se, na imaginação popular, em conseqüência de acontecimentos diversos e trágicos: — morte de um barqueiro, de duas crianças, de uma senhora, etc. E o povo considerava-o assombrado, porque, à noite ou pela madrugada, ao lado da Cruz, aparecia um vulto sentado; outras vezes, surgiam raios luminosos que, aliás, uma senhora viu, na aurora, quando apanhava água. E tudo passou a ser relacionado com a lenda: — "Certa vez, um padre, ali, jogara uma caixa de ferro, com objetos de ouro". Evitava talvez o confisco de bens, em conseqüência da expulsão dos missionários jesuítas. E a lenda atraía sempre a atenção geral. Seu poder crescia, de modo que os remadores, principalmente os de Santa Leopoldina, atiravam n’água moedas de cobre, — o vintém daquele tempo, quando passavam diante da Cruz das Almas.
Nos jornais antigos, lemos notícias de romarias à Cruz das Almas. Assim, a 3 de maio de 1876, alguns estudantes mandaram preparar uma Cruz; enfeitaram-na, depois de benzida, na capela da Santa Casa da Misericórdia, pelo Revmo. Pe. Bermudes de Oliveira. Transportaram-na, com música e cânticos, até o lugar. Registra a imprensa que "a Banda de Música do São Francisco, ou Caramuru, acompanhou o préstito, sem moleques e negras"...
Escolheu-se o dia 3 de maio, porque dedicado à Exaltação da Santa Cruz. E tornou-se tradicional a romaria. A 3 de maio de 1886, por exemplo, os alunos da Escola Noturna da Maçonaria foram, com a Banda de Música, levar capelas de flores naturais, para a Cruz de Santo Antônio ou das Almas.
(Parte desta lenda nos foi referida pelo Sr. Cassimiro Fonseca, residente, em Santo Antônio, e conhecedor das estórias locais.)
Fonte: Lendas Capixabas, 1968
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2016
O teatro que sucedeu o Melpômene foi o Carlos Gomes, inaugurado em 1927, seis anos depois do nascimento de Luiz Buaiz
Ver ArtigoPor onde andam os tipos populares que em outros tempos enfeitavam de maneira pitoresca as ruas da cidade?
Ver ArtigoLembro da “Lapinha” de origem pernambucana, aqui introduzida nos fins do século XIX pelo Desembargador Antonio Ferreira Coelho, grande incentivador dos festejos canela verde de então
Ver ArtigoAtualmente, em Vila Velha, Leonardo Santos (Mestre Naio) e a Mônica Dantas, conseguiram restabelecer os festejos de São Benedito
Ver ArtigoVila Velha comemorava as festas de Santo Antônio, São João e São Pedro, respectivamente nos dias 13, 24 e 29 de junho
Ver Artigo