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A Estrada de Venda Nova do Imigrante a Castelo

Fonte: Câmara Municipal de Venda Nova

Na década de 30, a estrada utilizada pelos caminhoneiros na condução de café e madeira de Venda Nova do Imigrante a Castelo era mal traçada e, na estação chuvosa, intransitável.

O trajeto poderia ser encurtado pela metade, tomando outro itinerário, seguindo de Castelo até Povoação e dali até Venda Nova do Imigrante. A metade deste percurso, de Castelo até o pé da serra da Povoação, já havia sido construída pela Prefeitura de Castelo. Até ali, os caminhões transitavam normalmente. Era comum transportar pranchas de madeira em lombos de burros de Venda Nova até o pé da serra da Povoação, de onde seguiam em caminhões até Castelo.

Os projetos de abertura dos 20 quilômetros restantes até Venda Nova do Imigrante eram interrompidos pela timidez com que se pensava em transpor a comprida e íngreme serra da Povoação. A serra era um desafio! A Prefeitura de Castelo, com a crise do café, estava sem recursos financeiros. Enquanto isso, os proprietários rurais reclamavam e pediam solução. No final, foi posta em cheque a união sempre existente entre as comunidades locais que seriam beneficiadas pela abertura da estrada. Houve reuniões dos interessados. Esse era um assunto habitual no bate-papo nas praças das capelas, nos botecos e no seio das famílias. Era preciso aceitar e vencer o desafio da estrada.

Liderados por Arquilau Vivacqua, em Castelo, por Vitorino Caliman, Antônio Roberto Feitosa, Angelo e Deolindo Perim e Pedro Cola, em Venda Nova do Imigrante, além de Francisco Carnielli, os interessados, durante freqüentes reuniões, debateram o problema e elaboraram o projeto, Feito o estudo, foram unânimes em acreditar que o problema seria resolvido conclamando a comunidade para um trabalho de mutirão. Cada proprietário matricularia dois a três trabalhadores que se empenhariam na execução da obra aos sábados.

À frente dos trabalhadores, chefiando a turma, estavam Vitorino Caliman, Antônio Roberto Feitosa, Pedro Cola e Francisco Carnielli. Os dois primeiros, que tinham bons conhecimentos de topografia, ficaram encarregados do traçado da estrada. Fizeram um serviço tão bom que a atual rodovia asfaltada segue, com ligeiras modificações, o mesmo traçado.

Iniciados os trabalhos, entre 100 a 200 voluntários compareciam aos sábados munidos de foices, machados, enxadas, enxadões, pás e picaretas. Foram levando à frente a construção da estrada com destacado entusiasmo e em perfeita ordem. É interessante registrar que o maior empresário capixaba de hoje, no setor de transportes, o comendador Camilo Cola, na época residente na Fazenda Pindobas, calejou as mãos manejando o enxadão e cavando barrancos.

Aos domingos, comentava-se os progressos da obra. À medida que a construção prosseguia, mais voluntários somavam-se aos outros. O trabalho braçal de escavação de barrancos e retirada da terra do leito da estrada era exaustivo, mas nem por isso arrefecia o ânimo dos trabalhadores. Vez por outra, acontecia que os mais jovens, entre eles, Deolindo Perim e Camilo Cola, saíam à procura de uma cana-de-açúcar. Escolhiam a caiana, por ser mais mole e doce e passavam horas à sombra de uma árvore, escondidos da turma, pedindo a Deus que por ali não passasse o Sr. Pedro Cola.

Os trabalhos prosseguiam. Os voluntários eram distribuídos em diferentes grupos, conforme a localidade em que residiam e aptidão. Havia gente qualificada, por exemplo, para a construção de pontes de madeiras e bueiros.

Com este espírito comunitário, imbuído de bravura e teimosia, o desafio foi vencido. Quando menos se esperava, a obra chegou ao seu termo.

Não se cuidou de comemorar a inauguração com festejos. Tão logo terminada, a estrada foi aberta ao tráfego.

A estrada, naquela época, era a mais bem construída do interior do Município, oferecendo todas as vantagens. Cito um exemplo da rapidez do transporte: O Sr. Américo Comarella, ao volante de um Ford, semana após semana, saída de lavrinhas de madrugada com uma carga de feijão, descarregava o caminhão em Castelo e voltava a tempo par ao almoço em casa. Descia novamente na parte da tarde com outro carregamento e voltava antes do pôr do sol. Repousava e, no dia seguinte, amanhecia novamente com as mãos no volante.

Aberta a estrada, não demorou que o Sr. Otávio Perim adquirisse um pequeno ônibus e passasse a fazer diariamente o transporte coletivo de passageiros. Foi um grande melhoramento. Antes, os chefes de família eram obrigados a pernoitar em Castelo, quando desciam para fazer as suas compras. Agora, com o ônibus, desciam de manhã, faziam folgadamente suas compras e, à tarde, voltavam economizando tempo e dinheiro. As porteiras das estradas, que fazendeiros menos esclarecidos supunham ter o direito de conservar, impediam o trânsito livre. Entretanto, a persistência e as boas maneiras do Sr. Otávio Perim fizeram com que, com o passar do tempo, mesmo os mais teimosos fazendeiros construíssem, auxiliados pela Prefeitura, os mata-burros.

Vieram outros melhoramentos. Foi instalada a primeira indústria d extração de madeira, a Serraria São Domingos, do Sr. Deolindo Perim, Essa serraria impulsionou o comércio madeireiro, permitindo o aproveitamento de outras madeiras, além do cedro. Os proprietários rurais passaram a vender a madeira em toras, economizando tempo, trabalho e dinheiro. Porém, a venda em toras prejudicou o comércio da cabiúna ou jacarandá. Desconhecia-se o real valor desta preciosa madeira e as melhores árvores foram vendidas a preços insignificantes, tendo em vista que acompanhavam o preço do cedro. Ninguém adivinhou que 20 anos depois a procura por aquela madeira se tornaria intensa e o seu valor seria astronômico. Houve, no entanto, uma compensação quanto ao comércio do cedro, sempre em alta no período da extração e posteriormente, em baixa, equiparando seu preço ao de outras madeiras, tais como o jequitibá e o angico.

 

Fonte: Venda Nova do Imigrante – 100 anos da colonização italiana no Sul do Espírito Santo, 1992
Autor: Máximo Zandonadi
Local da Pesquisa: Casa da Memória de Vila Velha, livro doado pela  Família de Almir Agostini,1995
Compilação: Walter de Aguiar Filho,dezembro/2011
Nota do Site: Atualmente é a Rodovia Pedro Cola (ES-166) que liga o Município de Venda Nova do Imigrante ao Município de Castelo

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