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A força de tubarão

Porto de Tubarão em construção, anos 60

Depois da construção do porto, Tubarão deslocou do centro de Vitória o eixo da economia capixaba

Quando o cais de minério de Paul dava sinais de saturação, no início da década de 60, a CVRD projetou um novo porto para navios gigantescos —que ainda nem haviam sido fabricados. A exportação anual de minério em Paul era de seis milhões de toneladas. Para viabilizar Tubarão, numa escala de 10 a 20 vezes maior do que Paul, a Vale criou uma empresa de navegação (Docenave) e encomendou navios de porte inédito a estaleiros do Japão, país que financiou o porto e surgiu como o novo grande comprador de minério de ferro do Brasil.

Tubarão e tudo que veio em consequência dele constituem o pólo mais dinâmico da economia capixaba. Inaugurado em 1966, desde sua construção Tubarão traz caras novas para Vitória. Primeiro foram seus construtores. Depois, trabalhadores fixos ou em trânsito. Tanto que, hoje, um bom pedaço da economia do Estado depende diretamente do que sai de Tubarão.

A Vale nasceu na II Guerra

A Companhia Vale do Rio Doce foi criada pelo ditador Getúlio Vargas em 1942 como parte de um grande acordo político-econômico com os Estados Unidos e a Inglaterra. Pelo acordo, o Brasil forneceria minério de ferro para a Inglaterra, com financiamento americano. Os ingleses que exploravam a Itabira Iron e a Estrada de Ferro Vitória a Minas saíam do cenário, deixando tudo para a Vale — uma estatal que começava teoricamente rica, mas teria dificuldades para decolar, pois a mina produzia pouco e mal. E a Estrada de Ferro era literalmente um desastre, quase sucata. Uma estatística feita em 1942 registrou 110 descarrilamentos num único mês.

A Vale levou cerca de 10 anos para reformar a ferrovia e modernizar o processo de produção da mina de Itabira. O fluxo de exportações tornou-se contínuo a partir de 1945, com a inauguração do cais de minério do morro do Atalaia, na baia de Vitória. Mas foi somente nos primeiros anos da década de 50 que a Vale do Rio Doce conseguiu finalmente exportar 1,5 milhões de toneladas anuais de minério. Esse número tinha sido colocado no acordo de 1942 como meta anual da companhia, que se transformou na maior mineradora do mundo e na quinta maior empresa do Brasil, com vendas de 2,1 bilhões de dólares — algo equivalente a um terço do Produto Interno Bruto do Espírito Santo, estimado entre 6 e 7 bilhões de dólares.

Vitória. Antes e depois

A influência da Vale do Rio Doce sobre o desenvolvimento de Vitória foi por muito tempo o tema de estudo do economista mineiro Marcos Benevenuto, atualmente contratado pelo Instituto Jones dos Santos Neves, órgão de estudos e planejamento do Governo estadual. Embora não tenha concluído a tese de mestrado que faria sobre o assunto, ele lembra prontamente os pontos fundamentais da cidade, antes e depois da Vale.

Em 1963, quando foi iniciada a obra do porto de Tubarão, Vitória tinha duas características fundamentais que se entrelaçavam. Era um porto de exportação de café; e o centro burocrático do Estado.

Em 1966, ano da inauguração do porto, a atual Avenida Dante Michelini não era essa festa praiana, mas um caminho com algumas casas esparsas. A vida de Vitória transcorria naquele miolo central junto ao cais antigo. Somente alguns anos depois os prefeitos pensariam na Avenida Beira-Mar, que invadiu área de Marinha, no aterramento de grandes áreas de mangue e na ponte sobre o canal de Camburi.

Se a obra de Tubarão irrigou a economia de Vitória com os salários e as encomendas pagos a milhares de pessoas, o funcionamento do porto desenvolveu e estabilizou urna série de atividades subsidiárias decorrentes do maior número de navios nas águas capixabas. Não apenas empresas de serviços abriram os primeiros cursos superiores de Engenharia no Espírito Santo.

Com a inauguração da primeira de seis pelotizadoras de minério de ferro, em 1969, o complexo de Tubarão deu maior consistência ao desenvolvimento de Vitória. Depois, quando a Vale aninhou ao seu lado o projeto da Siderúrgica de Tubarão, a capital capixaba ficou tão pequena que transbordou para as cidades vizinhas.

Uma locomotiva chamada CVRD

Para Buffon, a Vale mudou o panorama econômico do ES

Em sua tese de mestrado sobre a economia cafeeira e a urbanização do Espírito Santo, apresentada em fevereiro na Universidade Estadual de Campinas, o economista José Antonio Buffon, ex-aluno e atual professor da Ufes, colocou a Companhia Vale do Rio Doce como um marco significativo da modernização da economia capixaba.

Lembrando que todo pesquisador precisa de referências temporárias para demarcar os grandes períodos históricos, Buffon admite ter escolhido como marcos da modernização econômica capixaba os anos de 1942 e 1966, que registram simultaneamente momentos importantes das transformações da lavoura cafeeira e da implantação da CVRD, empresa que liderou nitidamente o esforço de industrialização recente no Estado.

Embora o café seja o pano de fundo das transformações ocorridas na economia capixaba nos últimos 50 anos, Buffon afirma que a Vale foi o elemento novo que desencadeou uma série de mudanças, a partir de sua fundação, em 1942. A Vale estendeu um ramal que punha o minério de ferro de Minas Gerais numa autêntica vitrine para o centro urbano de Vitória: o cais de Atalaia, no outro lado da baía, em terras de Vila Velha, mas à vista da população da capital.

Na década de 50, enquanto a exportação de minério de ferro dava novo movimento a um porto praticamente especializado em café, a economia capixaba iniciava a integração ao mercado nacional. A indústria madeireira, em grande pique no norte do Estado, abastecia Rio e São Paulo. A indústria de cimento e calcário de Cachoeiro do ltapemirim contribuía também para a construção civil e o processo de urbanização das maiores cidades brasileiras.

A modernização da economia capixaba começa efetivamente em 1966, quando a vale do Rio Doce inaugura o Porto de Tubarão, mudando radicalmente a escala de suas exportações. A partir daí, a Vale implanta suas usinas de pelotização (atualmente são seis), influi na localização da Aracruz Celulose e participa da fundação da Companhia Siderúrgica de Tubarão. "A própria localização do Centro Industrial de Vitória no município da Serra foi influenciada pela polarização exercida pela Vale", afirma Buffon, lembrando que o café não fez e não faria isso.

Segundo Buffon, foi o processo desencadeado pela Vale que gerou a massa de salários que está por trás da explosão imobiliária e das transformações ocorridas no setor de serviços de Vitória. Na década de 70, efetivamente, a cidade foi ocupada por grandes lojas como Mesbla, Americanas e C&A. Ou construtoras como a Encol.

O crescimento de diversos bairros de Vitória está ligado diretamente à presença da Vale. Camburi, Fátima e Goiabeiras, por exemplo, representam uma espécie de efeito urbano do funcionamento da empresa no município. A operação da Vale também fez inchar municípios vizinhos como a Serra, Cariacica e Vila Velha. "Foi a Vale que começou a Grande Vitória", diz o economista, usando uma imagem propositalmente exagerada para lembrar que, exceto Viana, nenhum município da Grande Vitória escapou da influência exercida pelos negócios gerados pela Vale em Tubarão.

CST, especialista em placas

A Companhia Siderúrgica de Tubarão é uma empresa especializada na produção de semi-acabados (placas de aço), utilizados por outras siderúrgicas. Sua usina começou a operar em 30 de novembro de 1983, com capacidade instalada de 3 milhões de toneladas por ano. Ela é a maior abastecedora de placas no mercado mundial.

Localizada na Serra, a 14 quilômetros de Vitória, suas principais datas são as seguintes: março de 1974 — constituição da empresa-piloto; junho de 1976 — constituição da empresa; abril de 1978 — início da terraplenagem; dezembro de 1980 — início da montagem; novembro de 1983 — início da operação; e julho de 1992 — a privatização.

A transferência da empresa do Governo federal para a iniciativa privada foi viabilizada por consórcio entre os bancos Bozzano/Simonsen, Unibanco e Companhia Vale do Rio Doce, para aquisição da quase totalidade do lote de 51 por cento das ações com direito a voto. Com isso, a composição acionária da CST passou a ser a seguinte: Grupo Bozzano, 28,58 por cento; Unibanco, 21,09 por cento; CVRD, 20,79 por cento; Grupo Ilva, 5,24 por cento, Grupo Kawasaki, 5,24 por cento; empregados, 12,23 por cento; e outros, 6,83 por cento.

Mercado

A CST é responsável por 16% da produção nacional de aço bruto e, em 1991, chegou a ser a terceira maior exportadora do Brasil, ficando atrás apenas da CVRD e Usiminas. No período de 1984 a 1991 a empresa gerou divisas da ordem de US$ 3,4 bilhões.

A maior parte da produção é escoada pelo Porto de Praia Mole, localizado em área contígua à usina. A usina da CST adota um sistema integrado de produção a partir do minério de ferro, do carvão mineral e do calcário. Seu ciclo operacional compreende quatro fases de processamento: preparo de matérias-primas, produção de ferro gusa, produção de aço bruto e, finalmente, produção de placas.

Até 1991, a empresa investiu US$ 273,9 milhões, instalando equipamentos e processos antipoluentes. Até 1994, projeta investir mais USS 66 milhões em melhorias ambientais. Além disso, a empresa plantou mais de 1,5 milhões de árvores, mantendo, inclusive, um parque ecológico interno, para preservação e desenvolvimento da fauna e da flora da região.

No momento, a CST emprega diretamente cerca de 4.200 empregados. É uma das maiores fontes de ICMS do Espírito Santo (no biênio 91/92 gerou USS 27.106 milhões).

Antes de Tubarão, a indústria do Espírito Santo era pouco expressiva. Os maiores empreendimentos eram a Cofavi, a Garoto e a Braspérola. Em 1960, a indústria madeireira e a de produtos alimentares absorviam 50% do pessoal ocupado e representavam 56% do produto industrial capixaba. A média geral de pessoal ocupado na indústria era de 4,5 operários por fábrica. Isso porque uma fábrica de cimento tinha 388 empregados e a siderúrgica, 159.

 

 

Fonte: A Gazeta -  Documento Estado, 26/10/1992
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2015

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