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A história do Colégio Marista - 3ª Parte

Marista Foto 1968/69

Colégio Marista em construção - Foto Hugo Musso, acervo de Edward D'Alcântara

 

Continuação de uma série de relatos sobre o Colégio Marista de Vila Velha, que tenho certeza que mantigos alunos contribuirão com outros preciosos dados, que ficaremos agradecidos.

- terceira parte -

Nessa parte pretendo adentrar em detalhes a respeito do terreno do Colégio Marista de Vila Velha e das bolsa de estudo que tanta dor de cabeça acabou causando dado o ciúme, inveja, ódio e cobiça que despertou.

Pela lei municipal de nº 85 de 1950, os Vereadores aprovaram que fosse adquirido por desapropriação o Sítio Batalha (que foi medido mais na frente resultando em 173.400 m² - sendo que essa área não é citada na lei), podendo ser despendido para tanto Cr$ 300.000,00 (trezentos mil cruzeiros - moeda da época), para ser doado à UBEE para a construção de um estabelecimento de ensino secundário, com internato e externato, cuja direção ficará entregue aos Irmãos Maristas.

Nessa época a UBEE tinha como sede o quartel general dos Maristas em Mendes, então distrito de Barra do Piraí no Estado do Rio. Depois é que mudaram a sede para Belo Horizonte (MG). Na lei cita a amarração dos Irmãos Maristas com a UBEE, e cita em outros termos o sonho dos vilavelhenses em ter aqui o ensino secundário e ainda com internato e externato. Na época, o primeiro grau de hoje era desdobrado no curso primário de 4 séries, quando a criança só poderia ingressar com 7 anos, e no ginasial (considerado como parte do ensino secundário) também com 4 anos quando o jovem teria de ter no mínimo 11 anos para iniciar.

No primeiro grau de hoje, houve a fusão do ensino fundamental com o primeiro grau anterior (da reforma dos anos 70 quando acabaram com a denominação de primário e o ginásio), entrando a criança com 6 anos a cumprir 9 séries. No secundário estava inserido também o científico, clássico, ou normal (formação de professores para o curso primário), de 3 anos de duração, que corresponderia essa parte ao segundo grau de hoje.

Quanto a internato e externato, era um sonho de muitos pais terem a opção de internarem seus filhos em colégio de padres. Ainda mais em tempos de outrora que no Brasil era difícil o deslocamento diário de alunos, era muito comum a existência de internatos inclusive laicos.

Externato seria a opção praticada na esmagadora maioria dos colégios de hoje, o aluno vai para casa após as aulas, tanto assim que depois surgiria o fenômeno do transporte escolar, imitando coisa de primeiro mundo. Pela lei municipal havia as condições:

- a obra teria de iniciar 6 meses após a data da escritura da doação;
- a obra teria que durar no máximo por cinco anos, inclusive das instalações do internato;
- a Prefeitura de Vila Velha teria disponível a indicar jovens para aproveitar bolsas totalmente gratuitas em cada série, sendo 3 no curso ginasial e 2 no colegial (entenda-se como se referia na época o curso científico, clássico ou normal que houvesse).

Então pelas contas, seriam 12 alunos no ginasial e 6 alunos no colegial. Caso não fosse seguido o estipulado, a doação seria desfeita, com o pagamento por parte da Prefeitura do valor das benfeitorias implantadas. De auxílio concedido à Prefeitura pelo Governo do Estado do Espírito Santo, viriam Cr$ 200.000,00 (moeda da época), e os R$ 100.000,00 restantes a municipalidade poderia pagar aos proprietários do terreno até em um ano da data da escritura de compra e venda.

Pois bem, tudo pelo visto andou bem, as obras iniciaram e as primeiras turmas já funcionavam em 1954, na inauguração conforme relatei na terceira parte. Curiosamente a Lei municipal não falava que seria necessário haver um decreto que regulamentasse a mesma, sendo que prosseguindo, não tenho esclarecimento ainda da razão do porque na escritura pública de doação condicional conforme cópia xerox que tive acesso, ainda que não autenticada, houve modificação de algumas condições.

Não sei se na época a legislação vigente permitia isso. É bom frisar que na lei municipal, não fala da confrontação das divisas e nem faz referencia a terrenos de marinha já que o Rio da Costa em seu leito original era vizinho contornando o sítio e dotado de manguezal. Não faz referência a uma poligonal topográfica, e nem nas residências que já existiam ao longo da Av.Jerônimo Monteiro, entre a casa de dona Amália (depois um pequeno prédio adjacente ao estacionamento do Carone) até o cruzamento com a rua Antonio Ataíde, e dessa seguindo até o atual acesso ao Ginásio de Esportes.

Na época, creio que no Estado do Espírito Santo pouco ou nada se falava de terrenos de marinha, não obstante a lei que deu origem a questão é ainda do tempo do Império (a república não quebrou curiosamente esse estado de direito que traz vantagens para o Governo Federal embora proteja em muito o meio ambiente).

Na época muito menos no mundo se falava em ecologia (esse vocábulo ainda não havia sido inventado). Os manguezais eram incompreendidos, vistos como estorvo para muitos e nem se sonhava ainda em estudo de impacto urbano e ambiental, e outras exigências que um empreendimento do porte do Colégio Marista de Vila Velha exigiria hoje.

A escritura foi assinada em 13 de setembro de 1950 e registrada no cartório de registro geral de imóveis. O português Alfredo Álvaro da Silva, no ato atuou como procurador da UBEE (representando os Maristas) e de outro lado o Prefeito Municipal de Vila Velha Domício Mendes.

Nela cita que o sítio Batalha chamava-se também sítio da Cruz, e pela frente ou ao norte confrontava com a Av.Jerônimo Monteiro (hoje Av.Champagnat). Pelo sul confrontava com os terrenos de Emilia Mascarenhas ou quem de direito. Pelo lado leste com as marinhas do Rio da Costa e mangues (não cita explicitamente terrenos de marinha). E pelo lado oeste pela "rua e estrada" que vai para "Itapoan". Essa rua é o prolongamento da rua Antonio Ataíde, que sua conclusão de abertura chegou propriamente em Itapoan por volta de 1989 quando da inauguração da terceira ponte, onde conflui com a rua Professora Francelina Carneiro Setúbal, que era por onde se passou a acessar Itapoan por muitas décadas (a rua Luciano das Neves não havia tido o prosseguimento que teve somente por volta de 1974).

Na escritura condiciona que:

- o terreno deveria ser entregue devidamente cercado (não fala de que modo se por cerca de arame farpado ou com muro) e desembaraçado;
- que a obra iria iniciar em 6 meses, da data da escritura;
- que no prazo de 5 anos seria concluída a obra do educandário destinado ao externato ficando as do internato a serem prosseguidas na proporção das necessidades;
- que as bolsas seriam 3 para a primeira série do ginasial, sendo acrescentados alguns detalhes sobre como se daria esse aproveitamento;
- poderia haver pena de reversão para a Prefeitura do imóvel, com indenização para a UBEE do valor das benfeitorias implantadas.

Como diz o ditado popular: a cavalo dado não se olha os dentes. Pelo lado do recebedor, não havia muita resistência em ganhar um terreno às vezes "micado" e da parte do doador havia a angustia em dotar enquanto antes da municipalidade de um ginásio, que também não estava dando um presente de grego. Se o recebedor fosse uma empresa privada que visasse lucros, teria também dificuldades em cumprir integralmente as condicionantes iniciais, e no caso tratando-se de uma entidade de utilidade pública, sem fins lucrativos, e tocada por abnegados, a municipalidade tinha mais que compreender e fazer vista grossa mesmo a qualquer não cumprimento não intencional de compromisso ou mesmo por agirem, acredito, mesmo na totalidade dos casos em boa fé, pelas circunstâncias. Não é fácil cuidar de um colégio, da educação, que é uma sublime atividade fim, e cuidar ao mesmo tempo, tim tim por tim tim das atividades meio.

Na próxima parte falarei sobre os problemas que começaram surgir nos anos 60 por conta das invasões de terrenos e a questão das bolsas de estudo, que vieram a dar muita dor de cabeça nos Irmãos.

 
Juvenistas do Colégio Marista (1970)
À direita, embaixo, o Irmão Plínio Roque Loss e na 2ª fila à esquerda o Irmão Lauro Venturini.

Por: Eng° Civil Roberto Brochado Abreu. Fundador e membro da diretoria da Casa da Memória de Vila Velha. (09/03/2010)

 

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