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A Penha em poesia – Por Múcio Teixeira

No píncaro do monte, o templo se alevanta

conservando no seio a Imagem sacrossanta

da Imaculada Mãe dos náufragos aflitos

desses a quem o Céu jamais foi surdo aos gritos,

quando em horas de dor, de angústia ou de perigo,

nos braços maternais da Cruz acham abrigo.

 

É belo, e é solene o prisco monumento,

exposto dia e noite aos gorgolões do vento

na solidão do monte, ao frio das alturas,

perto do Criador... longe das criaturas!

 

A um lado, o mar, bufando, em convulsões tamanhas,

que chega a borrifar d'espumas as montanhas...

Outras vezes, opiado em sonolência mansa,

 fazendo recordar as lendas que, em criança,

a gente ouve no lar; de um príncipe que dorme,

aos beijos de uma fada... ou um gigante enorme,

forte como Sansão, grande como Golias,

perdendo lentamente a ação, as energias,

do veneno subtil dos sensuais abraços

das Dalilas do mal! Onfales, que nuns laços

astuciosos, fatais, enredam os amantes:

chegando a escravizar os Hércules possantes! ...

 

Aí flutua, à flor das ondas agitadas,

verdejante porção de ilhotas arejadas,

onde floresce o galho, e amadurece o fruto

entre a vegetação do solo nunca enxuto.

Doutra banda enroscado em curvas caprichosas,

o Rio da Costa deixa as águas buliçosas,

lamber lascivamente a margem verdejante

da planície que vai à povoação distante.

da Barra do Jucu;

aí, a horas mortas,

quando os ventos do Sul batem às amplas portas

daquelas solidões um murmúrio instantâneo

cavernoso abafado, extenso subterrâneo,

soa sinistramente, em pleno Mar das Éguas,

ecoando confuso além de quatro léguas...

 

Que riquezas, ó povo, escondem essas terras,

desde a planície verde até as negras serras!

E dormes indolente, em meio disso tudo,

como aos sons de uma orquestra um triste surdo-mudo!...

Ou o índio que adora o astro que deslumbra,

sem a idéia do Ser que o segue na penumbra...

Faltam-te braços? Não! Quereis um grande exemplo,

um estímulo eterno?

 

Entra naquele templo,

 

Na solene nudez daquele edifício em ruínas,

ainda ecoa o som das músicas divinas...

das orquestras do Céu! ... Como que a Providência

deu aquele silêncio a mística eloqüência

da linguagem subtil das coisas silenciosas...

 

— Conversam, entre si, pelo perfume, as rosas!

Os ecos pelos sons... Os sois pelos lampejos...

Os prismas pela cor, as rolas pelos beijos,

a almas pelo olhar... Em fim, o som, a cor,

o perfume, o lampejo... é todo um verbo — Amar!

Foi esse sentimento — eterno e imutável

quem levantou tão alto a crença inabalável

de um obscuro asceta!

 

O Amor! — o amor Divino!..

 

Vasado no crisol de um rígido destino;

amor, que tem no olhar azul do firmamento.

enquanto sangra os pés momento por momento

nas sarsas do caminho aspérrimo, tortuoso,

de lágrimas molhado, um córrego lodoso.

 

Por ele os crentes vão, seguindo a lentos passos,

pedir amparo à Cruz que a todos abre os braços!

 

Oh! crença de meus pais! Oh taboa salvadora

dos náufragos da vida! Oh! luz núncio da aurora.

que há de raiar depois da noite da mortalha...

Espalha sobre mim os teus clarões! Espalha

sobre a minha cabeça a convicção que é,

para as chagas morais — o bálsamo da fé!

 

Múcio Teixeira

 

Fonte: O Relicário de um povo – O Santuário de Nossa Senhora da Penha, 2ª edição, 1958
Autora do livro: Maria Stella de Novaes
Autor da poesia: Múcio Teixeira
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2018

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