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Ação Policial – Por Pedro Maia

Rodoviária Ilha do Príncipe

Carmelo e Vitorina eram recém-casados e se extasiaram quando viram Vitória pela primeira vez. Lá na cidadezinha deles, no interiorzão do Estado, ouviam falar das belezas da capital, mas não supunham que a cidade fosse tão grande e tão bonita assim. A altura dos prédios, as ruas largas, o movimento do comércio, carros de todo tipo com todo tipo de gente ao volante, as pessoas apressadas pelas ruas, tudo era novidade para o casalzinho que vinha à capital para gozar uma merecida lua-de-mel.

Logo perto da rodoviária — "grande de dá dó", pensava o Carmelo — o casal viu um hotelzinho com aparência de simpático e com o nome da cidadezinha de onde eles tinham vindo. Adoraram aquilo que, de pronto, acharam que era uma homenagem à terra deles. E depressa resolveram passar a lua-de-mel naquele local que seria o "ninho de amor" no início da vida dos dois. Foram até o hotel, reservaram um quarto, tomaram banho, vestiram roupas novas e saíram para conhecer a capital.

Passearam por todo canto, à moda do interior, ou seja, a pé e devagar, absorvendo ao máximo as delícias de estar acompanhado pela pessoa amada e conhecendo coisas novas. A Vitorina ficou deslumbrada com as vitrines e teve até a audácia de entrar numa das tais "boutiques" de que tanto ouvia falar lá no matão. Carmelo, então, não conseguia disfarçar o espanto, toda vez que passava por uma boazuda com aquelas roupas curtinhas e provocadoras. Foi tudo maravilha pura que se complementou quando os dois chegaram à praia de Camburi, onde, pela primeira vez, viram a beleza do mar com todo o seu azul esplendoroso (esplendoroso é ótimo!). Foi uma festa! Carmelo e Vitorina tiraram os sapatos e entraram na água salgada até as canelas, tal e qual duas crianças satisfeitas com a vida.

À tarde, voltaram para o hotel e se trancaram no quarto, onde, minutos depois, já trocavam juras de amor eterno garantidas pelo casamento, no civil e no religioso, realizado com muita festa na fazenda onde o pai da noiva era capataz. E quando já começavam aquilo que realmente é bom no tal de casamento, deu-se a tragédia: a porta do quarto foi arrombada e três ou quatro canas, armados e dispostos, invadiram o "ninho de amor", na maior decisão:

— Olha aí: os dois pombinhos, de pé e com as mãos na cabeça! É a cana! Cadê os documentos, ô piranha? Tá todo mundo autuado... todo mundo em cana!

E de nada adiantaram ao pobre do Carmelo suas alegações de que eram legitimamente casados e estavam fazendo justamente aquilo que manda o casamento. A polícia estava efetuando uma operação de "guerra à prostituição" e quem está de tarde em hotel suspeito só pode estar fazendo o que não presta.

No outro dia, pela manhã, depois de muitas explicações e da intervenção de um conhecido do casal que estava em Vitória metido na política, é que foram liberados. Dias depois, já seguro em sua cidadezinha natal, o Carmelo contava, espantado:

— Terrinha boa aquela tal de capital! Mas lá, negócio de fazer filho dá uma complicação danada...

E jurou nunca mais voltar!

 

Capa: Helio Coelho e Ivan Alves
Projeto Gráfico: Ivan Alves
Edição: Bianca Santos Neves
Lúcia Maria Villas Bôas Maia
Revisão: Rossana Frizzera Bastos
Produção: Bianca Santos Neves
Composição, Diagramação, Arte Final, Fotolitos e Impressão:
Sagraf Artes Gráficas Ltda
Apoio: Lei Rubem Braga e CVRD
Fonte: Cidade Aberta, Vitória – 1993
Autor: Pedro Maia
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2020

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