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As Cinco Pontes (Florentino Avidos)

Ponte Florentino Avidos-Acervo: Carlos Botelho

Até as primeiras décadas do século XX, os navios que chegavam a Vitória permaneciam ao largo para carga e descarga de mercadorias, assim como para embarque e desembarque de passageiros. Não havia um porto em Vitória capaz de atender à demanda dos grandes transatlânticos que singravam os mares e litoral do país. Também a elite política da Capital que não queria perder a primazia de Vitória como sede do Porto do Estado. Por isso, sua construção na antiga Ilha de Santo Antônio, quando estudos e projetos foram aprovados em 1910, iniciando-se em 1911, no Governo Jerônimo Monteiro, a construção do Porto de Vitória.

No entanto, devido à situação insular de Vitória, o complexo portuário em implantação necessitava de um sistema de ligação ao continente e isso só poderia ocorrer por meio de pontes para circulação rodo-ferroviária que o porto estaria a exigir.Daí, a construção simultânea ao Porto da Capital das pontes metálicas conhecidas como “Cinco Pontes” (oficialmente Ponte Florentino Avidos), cujo material inteiramente importado do exterior foi também montado por uma empresa alemã. Tudo isso, graças à arrecadação do exército fazendário 1924-1925 que respaldou o empreendimento, no governo Florentino Avidos. Nessa ocasião, o superávit superou a 18 mil contos de réis. Fato que permitiu reforçar a infra-estrutura do modelo econômico seguido.

Na realidade, desde há muito, já existia uma ligação da ilha ao continente, construída, possivelmente, nos inícios do século XIX, durante o governo Silva Pontes (1800 – 1804), a Ponte da Passagem, mais uma “pinguela” em madeira, que ligava o lado norte da ilha ao continente, em demanda do município da Serra.

Essa ponte, localizada onde hoje se encontra a “Ponte da Passagem”, fora construída de “peões” de madeira de lei e sustentada por cavaletes; foi ela que permitiu o deslocamento por terra para a Serra até o início do século XX.

Possibilitava a passagem apenas de pedestres, carroças ou animais. Em 1927 se encontrava em péssimo estado de conservação, quando o então prefeito Aristeu Borges de Aguiar contratou a Construtora Christian & Nilsen para construção de uma nova ponte, em concreto armado, que foi inaugurada em 1930.

Esta nova ponte tinha como apoio as pedras de suas cabeceiras e possuía um vão de 34 metros por 6 de largura. Permaneceu incólume até 1969 quando, após acidente com uma barca guindaste, teve que sofrer uma grande reforma, só concluída em 1973. Nessa reforma, perdeu as “treliças” e os arcos que eram sua característica arquitetônica principal. Em compensação, no entanto, ficaram duplicadas suas faixas de rolamento, no vão. Assim é o novo cartão postal de Vitória, inaugurada em agosto deste ano, com 279 m de extensão, ficou conhecida ao lado da velha ponte de 1930, que ali permanece com marco da ligação norte Vitória-Continente.

Mas foi a Ponte Florentino Avidos, do lado sul da cidade, que reinou absoluta em Vitória por várias décadas. Esta ponte também conhecida como “Cinco Pontes”, durante muito tempo foi a 2 maior do Estado em extensão. Inicialmente, constituiu-se de seis vãos, de 26 metros cada. Data de 1925 o início da construção que ficou concluída ainda no período governamental de Avidos. Liga a parte sul de Vitória ao continente.

Inicialmente, essa ligação era feita à ilha do Príncipe e desta por meio de cinco vãos ao continente, por isso a denominação de “Cinco Pontes”. É que, com o aterro e a incorporação da ilha do Príncipe à ilha de Vitória, a ligação passou a ser direta ao continente.

Florentino Avidos (1924-1928), governando em um novo período favorável à cafeicultura, após o fracasso virtual dos esforços industrializantes iniciados no governo Jerônimo Monteiro (1908-1912), seu cunhado, preferiu promover um projeto que ficasse marcado por importantes obras infra-estruturais, mas sem ferir a fé liberalista predominante no seio da elite agroexportadora. Nesse contexto, transfere empreendimentos industriais estatais à iniciativa privada e passa a dedicar-se à sua política de modernização da infra-estrutura urbana de transportes. Assim sendo, ainda que o governo não investisse diretamente no setor agrícola, ele deixou de estimular o setor industrial e passou a investir nas áreas, que, indiretamente, beneficiavam a grande lavoura. Principalmente na área de transportes, até que, a “Grande Depressão”, dos fins dos anos 1920, abalou a economia periférica regional, assim como a de todo o resto do país.

Posteriormente, em face do extraordinário movimento rodoviário do Estado, o Governo construiu uma nova ponte, em concreto armado, em paralelo à ilha do Príncipe, como um desvio pelo continente para o transporte pesado e desafogo do centro urbano. Mesmo assim, já naquela época, se cogitava de uma terceira ponte, já que as duas outras menores ligam a parte norte da ilha ao continente, que são a da Passagem e a de Camburi não atendiam as necessidades de comunicação com a parte continental sul da Capital, pois elas estão localizadas na parte norte da ilha.

Curioso é que, em início de 1975, época em que estava sendo construída a 2 Ponte (conforme denominação consagrada pelos capixabas), cogitou-se na duplicação da Ponte “Florentino Avidos”. Caso se concretizasse a iniciativa, ela deveria ser muito bem aceita pelos ilhéus. É que, já naquela época, o tráfego rodoferroviário entre o continente e a Ilha já estava se tornando insuportável, pelo trânsito engarrafado que progressivamente se multiplicava. Para a superação do problema, falava-se em acréscimos laterais à ponte. No entanto, alguns advogavam que, mais viável ainda seria o aproveitamento da estrutura existente e, sobre ela, em concreto armado, se promovesse uma segunda pista para tráfego mais leve, permanecendo a parte inferior para o tráfego mais pesado. Isto é, sua transformação em uma ponte de dois andares. O acesso do lado continental partiria, em elevação e, alcançando-a, seguiria em direção à parte alta da Ilha do Príncipe e, dali, atingiria em descida a zona do cais do porto, por meio de ampla e moderna avenida.

Não era essa uma idéia original. Talvez o fosse como ponte em dois andares sobre o mar. No Rio de Janeiro e em São Paulo, àquela época, estavam-se tornando comuns os elevados, considerados salvadores do trânsito caótico, com que essas metrópoles se defrontavam.

A parte metálica da Ponte ”Florentino Avidos” fora toda construída na Alemanha, sob supervisão do engenheiro Moacyr Avidos, filho do então Presidente do Estado Florentino Avidos. Iniciados os trabalhos de construção dos pilares que sustentam a ponte, esses foram solidamente concretados nos locais em que se encontram. As peças que vieram da Alemanha foram montadas sobre enormes flutuantes que ficavam ao lado do cais do porto. A colocação em seus lugares definitivos se realizava com o aproveitamento dos fluxos e refluxos das marés, mediante reboque até o vão pronto cuja colocação se dava quando a maré atingia o seu ápice. Manobravam-se os vãos com as extremidades direcionadas para o alto dos dois pilares. À medida que a maré vazava, o vão ia ficando no seu exato e definitivo lugar. Esse trabalho era uma festa para a população que se aglomerava nos dois lados da Baía de Vitória, vibrando a cada vão colocado. A ponte foi inaugurada em 27 de junho de 1928, ao apagar das luzes do governo Florentino Avidos.

Em que pese às profundas modificações ocorridas no perfil da “Grande Vitória”, continuamos apenas com essas insuficientes ligações entre Vitória e o continente. Isto é, do lado norte, a Ponte da Passagem, a Ponte Ayrton Senna e a Ponte de Camburi, que cruzam o canal deste nome. Um braço estreito de mar que a separa da parte continental do município. Enquanto do lado sul, a ponte Florentino Avidos, em paralelo a 2 Ponte, ou Ponte do Príncipe, “continua sendo um ponto importante na definição do fluxo de automóveis da capital”.

Por outro lado, a 3 Ponte (Ponte Darcy Castelo Mendonça – 1989), já começa a dar mostras de saturação. Já não estaria na hora de exumar os projetos existentes, desde o início do século XX, a propósito de uma “Ponte em Curva” para a travessia da Baía de Vitória, a partir do “Forte São João”, ou ainda de uma nova ponte no bairro de Santo Antônio? Isto é, a construção de uma quarta ligação entre continente e ilha. Uma possibilidade de ligação da Rodovia Serafim Derenzi, em Vitória, ao Porto de Santana, em Cariacica, ou mesmo o “Túnel Submarino” do antigo “Terminal D. Bosco”. Fica aí a sugestão.

 

Fonte: Escritos de Vitória, 27 – Pontes 2010
Autor: Gabriel Bittencourt 
Compilação: Walter de Aguiar Filho-setembro,2011

 

LINKS RELACIONADOS:

>> Fotos da Ponte Florentino Avidos
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Serafim Derenzi




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