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As paneleiras de Goiabeiras

As panelas de barro de Goiabeiras

A produção

Ao ser extraída, a argila recebe os primeiros tratamentos, como a retirada de impurezas e material orgânico visível. Depois é transformada em bolas. Estas vão para as mãos das paneleiras, onde vão passar pelo processo de modelagem. Ali, com habilidade as paneleiras controlam a espessura das peças. Nessa fase, com o uso do arco são detectadas e retiradas as bolas de ar que possam existir no interior da argila. Se essas bolhas não forem eliminadas, a panela, depois de queimada, apresentará rachaduras.

Em seguidas as peças passam por um processo de secagem até serem levadas para a queima a céu aberto. Primeiro é preparada a “cama”, com madeira, e sobre ela colocadas as peças. Em seguida os vasilhames são cobertos por mais madeira e é colocado fogo numa das cabeceiras da “cama”. As paneleiras preferem os ventos Nordeste ou Norte e com velocidade moderada para que a queima seja feita de forma uniforme.

Conta a paneleira Laurinda Lucidato que, quando não há vento, as paneleiras assoviam chamando o vento. Sem o vento o fogo não entra no interior da fogueira e das panelas. Quando atingem o ponto – chegam a ficar vermelhas com o calor do fogo – elas são retiradas para receber o tingimento com o tanino, substância retirada das árvores do mangue. A tinta do tanino é que dará a coloração escura às panelas de Goiabeiras.

Um nome bastante lembrado pelos moradores é o de Ana Ferreira da Conceição, mais conhecida como Mãe Ana, já falecida. Além de confeccionar as panelas de barro, ela fazia também outros objetos e ganhou projeção nacional, com seus trabalhos sendo expostos em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Outras também são muito citadas, como Laurentina Sales, Marcionilha Barbosa Loureiro, Letícia Pinto, Maria Ferreira Cesar, Lucia Alves do Nascimento, Afia Gomes do Nascimento e Leonor Sales.

 

Tradição

 

A confecção das panelas em Goiabeiras é uma atividade estritamente familiar e que vem passando de geração para geração. “Aprendi com minha avó. A gente fica na beira da minha avó olhando ela fazendo”, lembra Domingas Correia da Vitória. “Aprendi com minha mãe e com minha irmã mais velha. O aprendizado foi feito fazendo panela feia e levando cascudo”, relembra Ivanilda Fernandes Correia.

Boa parte das paneleiras tem domínio completo de todas as etapas da confecção das panelas, mas as mais jovens, por inexperiência, só executam algumas etapas do processo, A jornada de trabalho é bastante irregular. Quando há uma encomenda grande elas trabalham em conjunto, mas cada uma fazendo a sua cota de peças. A jornada, neste caso, vai durar o tempo necessário para atender a encomenda, Já na produção normal a jornada diária varia de duas a sete horas. No caso do trabalho em conjunto, cada paneleira recebe pelas peças que produziu.

Não há também uma política de preços definida. De acordo com as paneleiras, os valores podem ir de R$ 3,00 a R$ 100,00 ou mais. Tudo vai depender do tamanho da peça ou ainda da quantidade encomendada. A comercialização das panelas é feita diretamente no galpão da associação, no galpão Arnaldo Gomes e em alguns pontos da Grande Vitória. Restaurantes do Espírito Santo, Bahia, São Paulo e Brasília também fazem encomendas e compram as peças das paneleiras de Goiabeiras.

 

Concorrência

 

Nos últimos anos as paneleiras vêm enfrentando uma concorrência que consideram desleal. A das que produzem panelas no município de Guarapari. Lá, é utilizado um outro tipo de argila, além de técnicas de torno, queima em forno, que conferem uma qualidade inferior às de Goiabeiras. Em consequência, o preço é menor.

As de Guarapari, por serem feitas em tornos, são bastante uniformes, ao contrário das de Goiabeiras, feitas manualmente. Como não utilizam o tanino, as de Guarapari têm uma cor amarronzada e, segundo paneleiras mais experientes, elas deixam no peixe um gosto amargo, o que não ocorre com as panelas de barro de Goiabeiras.

Há ainda, um outro fator que preocupa, principalmente no que se refere a manutenção da tradição., Pesquisas realizadas recentemente revelam que a idade média das paneleiras está na faixa dos 40 anos, e uma parte considerável delas passou dos 50 anos. Além disso, torna-se cada vez mais complexo o recrutamento dos jovens para a atividade, que não vislumbram nela uma boa opção para o futuro.

 

Associação

 

A Associação das Paneleiras de Goiabeiras surge em 1987 como instrumento de defesa dos interesses da categoria e para lutar pela tradição e desenvolvimento da atividade. O estatuto foi elaborado pela já falecida vereadora Etta de Assis. Com a criação da entidade objetivava-se uma forme de colocar recursos ao alcance das paneleiras, assim como ter um mecanismo que assegurasse a representação dos seus interesses.

Já na época da criação da associação, as paneleiras de Goiabeiras recebiam convites para participarem de feiras ou mesmo representarem o Espírito Santo com o seu artesanato. Mas como eram, e são, carentes de recursos, não tinham como participar ou estarem presentes nesses eventos. Organizadas na associação, as paneleiras orientaram a sua atuação no sentido da manutenção do barreiro de Joana D’Arc, divulgação do seu artesanato e preservação da cultura popular.

Na luta da associação vieram importantes vitórias, Conseguiram junto à Prefeitura de Vitória que fossem melhoradas as condições de trabalho. A prefeitura melhorou as condições de transporte da argila do Vale do Mulembá e conseguiu junto à Companhia Vale do Rio Doce a construção do atual galpão, onde as paneleiras concentram as suas atividades. Através de um acordo, conseguiram, também, estabelecer que somente as paneleiras cadastradas pela entidade tivessem acesso ao barreiro.

A organização e a mobilização das paneleiras de Goiabeiras fortaleceram ainda mais a identidade cultural que, associada a uma nova identidade política, pôde representar a garantia da preservação da mais significativa tradição da cultura popular do Espírito Santo.

 

Fonte: Goiabeiras – Coleção Elmo Elton. 2000
Autor: Nilo de Mingo Jr.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2012 

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