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Azambuja Suzano – Por Levy Rocha

Livro: Guia do Processo Policial e Criminal, de Azambuja Suzano

Um carioca injustamente esquecido pelos capixabas é Luís da Silva Alves de Azambuja Suzano. O Dicionário Bibliográfico de Inocêncio Francisco da Silva, publicado em Lisboa, no ano de 1860, informa que ele nasceu a 20 de agosto de 1791, em discordância com os dados coligidos por Afonso Cláudio, que na sua "História da Literatura Espírito-Santense" nô-lo apresenta mais velho seis anos.

Suzano fez o curso de humanidades no Seminário de S. Joaquim, mas seus pais, lavradores, não lograram o intento de vê-lo um eclesiástico. Ao atingir os vinte anos, isto é, em 1811, ele obteve uma cadeira de gramática e língua latina, em Vitória, onde conseguiu, igualmente, fazer-se escriturário da Contadoria da Junta da Fazenda da província.

Batalhador pela causa da independência brasileira, foi eleito secretário da Junta Provisória Provincial, cargo que ocupou por dois anos, passando a oficial da respectiva secretaria. Exerceu cargos de eleição popular: Juiz de Paz; Juiz de Órfãos e outros, que se diziam obrigatórios. Em 1836 foi nomeado, por decreto, Tesoureiro da Fazenda e após uma década, outro decreto promoveu-o a Inspetor da Tesouraria, cargo no qual se aposentou.

Nos quarenta e cinco anos de trabalho desenvolvido no serviço público, as horas que lhe sobraram foram aproveitadas em intensa atividade intelectual. Da sua vasta bagagem, notadamente de obras jurídicas, destacamos:

"Memória sobre o restabelecimento da província do Espírito Santo, oferecida ao doutor João Fortunato Ramos, deputado às cortes de Portugal". Bahia, 1821; "Regulamento interno das escolas primárias", publicado no Correio da Vitória, outubro de 1849; "Compêndio de Gramática Portuguesa para uso das escolas primárias", escrito em 1848, para ser adotado nas escolas espírito-santenses, por ordem do presidente da província, Luís Pedreira do Couto Ferraz. Escreveu, ainda: - Princípios de Aritimética Mercantil"; "Compêndio de Ortografia"; "Compêndio de Arte de Agricultura", em cujo frontispício os editores cariocas adulteraram-lhe o nome. Teve a mesma contrariedade repetida com a primeira edição do seu "Digesto Brasileiro", em três volumes, quando os editores Laemmert, com a intenção de despertarem maior interesse do público, omitiram-lhe o nome, imprimindo essa indicação: obra póstuma, de um antigo Desembargador do Porto, emigrado no Brasil. Na segunda edição, em 1854, aumentada e revista pelo autor, foi reparado o erro.

Azambuja Suzano fez diversas traduções de autores clássicos, algumas que deixou inéditas, como "Odes de Anacreonte"; "Apologético de Tertuliano" e "Episódios da Ilíada". O poema "Orlando Furioso", de Ariosto, que ele traduziu em prosa, em 1875 — diz Afonso Cláudio — "trabalho que nunca foi impresso, estava em poder de um de seus genros, inteiramente esquecido e desaproveitado". O Dicionário Bibliográfico Português informa, todavia, que essa tradução veio a lume em 1833, editada no Rio, em quatro volumes, na Tipografia de Miranda & Carneiro. Das suas composições literárias, acusa o registro bibliográfico o romance que escreveu em 1843: "Um roubo na Pavuna"; outro romance: "O Capitão Silvestre e Fr. Venoso, ou a plantação do café no Rio de Janeiro", vol. de 58 págs, editado pela Tip. Laemmert, em 1847, publicado também na Folhinha (mesmo ano), dos seus editores. Sátira à boçalidade dos lavradores, registro de costumes, essa composição constitui o primeiro romance brasileiro sobre a plantação do café que Frei Venoso e o Marquês do Lavradio se empenharam em difundir. Tal prioridade, arrancou a produção literária do olvido. Afonso d'E. Taunay dela se ocupou em sua "História do Café no Brasil" e em artigo no Jornal do Comércio, Carlos Stelfeld comenta-a no estudo "Os dois Velloso-; e Basílio de Magalhães teve a feliz idéia de a transcrever, integralmente, no livro "O Café", da Coleção Brasiliana.

Suzano publicou mais outro romance, de 63 pgs, na Laemmert, em 1858: "A baixa do Matias, ordenança do Conde dos Arcos, vice-rei do Rio de Janeiro", romance histórico e jurídico, o qual foi inserto nas Folhinhas da mesma editora, em 1859.

Grande trabalho às letras nacionais, merecedor de todos os aplausos, seria a publicação, num volume, pelo Instituto Nacional do Livro, ou por uma das nossas editoras cariocas, dos três romances de Azambuja Suzano. A exumação de um exemplar de "Um roubo na Pavuna", para cópia, talvez se conseguisse, com a ajuda de um bibliográfico da estirpe de Adir Guimarães.

Azambuja Suzano teve, no Espírito Santo, atividade destacada, não só no ministério, que exerceu por mais de meio século, como na advocacia e na política, tendo sido, também, deputado da 1a Assembléia Provincial. Em 1837, seu nome foi o mais votado para vice-presidente da província. A sua casa, que em 1856 situava-se acima do Cais Novo das Colunas, entre este e o Palácio do Governo (antigo Colégio dos Jesuítas), era freqüentada pelas pessoas mais gradas, a começar do Barão de Itapemirim, seu amigo, e do Desembargador Domingos Rodrigues Souto. Comentários da época diziam-no conivente no tráfico de escravos e o presidente da província, Felipe José Pereira Leal, em relatório ao Ministro do Império, fez essas graves revelações a respeito da sua conduta: "... Casou-se aqui com uma senhora idosa que supôs rica e que tinha oito escravas. Antes de um ano de casado as escravas que não estavam paridas, estavam prenhes dele; desterrou a senhora para um sítio fora da cidade. Dava-lhe dez mil réis por mês para seu sustento, enquanto ele, na cidade, tinha uma concubina de quem tem filhos, assim como de todas as escravas; tem este homem doze ou quatorze filhos mulatos e qualquer deles de uma conduta e moral depravada, sendo até um deles acusado de um roubo que houve na Tesouraria; faleceu sua mulher e foi ele e três de seus mulatos filhos quem à noite carregaram o cadáver da miseranda para ser sepultado! Este homem, unido ao Barão (que tem em sua casa sua mulher e duas concubinas, sendo uma sua nora e outra sua escrava, de quem tem filhos, além das dúzias que tem em outros lugares), pretendeu impor a lei a quem quer aqui venha, e por certo não fará a mim. Dele me tenho queixado oficialmente, e antes que esta chegue a seu poder, estará ele suspenso e processado aqui, já que aí não querem demiti-lo pelos seus altos feitos."

O brilhante intelectual; cavalheiro de Cristo; oficial da Ordem Imperial da Rosa; versado no português, latim, grego, italiano e francês, não foi escolhido, em tempo oportuno, patrono de uma cadeira da Academia Espírito-Santense de Letras; não teve, ainda, o seu nome homenageado em nenhuma escola capixaba; ele que trocou a terra carioca para eleger a terra de Maria Ortiz a sua preferida e nela desempenhar 62 anos ininterruptos de um fecundo labor, desde a mocidade até a morte, ocorrida em Vitória, a 16 de agosto de 1873.

 

Fonte: De Vasco Coutinho aos Contemporâneos
Autor: Levy Rocha,1977
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2015

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