Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

Bilro - Tipos populares de Vitória

Mercado da Capixaba - década de 1940

Tinha este apelido porque, filho de rendeira, vendia, quando menino, bilros que ele próprio confeccionava com coquinhos de cuité. Quando o conheci, em Guarapari, no verão de 1935, lá fora visitar parentes e amigos, tendo desembarcado do vaporzinho Montreal, cujas periódicas estadias naquela cidade constituíam atração para seus moradores. Guarapari, embora, de há muito, já oficialmente cidade, era, contudo, pouco mais do que um povoado de pescadores.

A notícia da chegada de Bilro se espalhou de imediato, tão estimado era ele pelos habitantes do lugar, alguns velhos companheiros de infância, aos quais, entre abraços e gargalhadas, ia transmitindo, loquazmente, as novidades de Vitória, onde morava.

Dia seguinte, Bilro, meio alcoolizado, tornou-se a figura central da pracinha: - andou em cavalos-de-pau, brincou de picolé e cabra-cega, plantou bananeira, deu cambalhotas, cantou cantigas de roda. Era, dir-se-ia, um menino outra vez, como que por imposição das recordações e saudade de sua infância distante, outrora ali vivida, sob os cuidados do pai pescador e da mãe rendeira.

Depois desse primeiro encontro, ainda o vi, outras vezes, já agora em Vitória, no Mercado da Capixaba, para onde, todas as manhãs, levava o gelo destinado às bancas de peixe. Usava, então, culote, botinas e perneiras, lenço vermelho amarrado ao pescoço, uma moedinha de tostão enfiada na orelha direita, sempre se proclamando constitucionalista, defensor da lei, democrata por excelência.

Quando não preocupado em exibir suas convicções políticas, dizia-se advogado gratuito dos pobres e inimigo da prepotência policial. Caso visse, mesmo de longe, algum ajuntamento maior de pessoas, quer no mercado ou em qualquer outro lugar, corria, ligeiro, a ver o que estava acontecendo. Fosse alguma discussão ou briga, com soldado prendendo alguém, aí, tomando a dianteira dos demais, defendia o preso, citava parágrafos do Código Penal, afirmando, categórico:

“Sou testemunha ocular. Este homem é inocente, não merece ser preso. Exijo, pois, sua i-me-di-a-ta soltura.”

E arrancava o infeliz (fosse este malfeitor ou não) das mãos do policial, valendo-se para isso não só de sua coragem e força, como também, da pronta adesão dos cabras do mercado, sendo que, diante de sua presença, a atenção dos curiosos se desviava toda para ele, discussão e briga logo esquecidas, para que só Bilro fosse ouvido, visto que dono de um fraseado especial, de comparações jocosas, a voz cheia, sonora, única.

Bilro (os meninos diziam Birro), acaboclado, grosso, olhos apertados e vivos, gostava de contar aos companheiros sobre convites que recebia para aperitivos, almoços e jantares. Certa vez, recordo tê-lo ouvido falando a propósito de um jantar em casa de alto funcionário da Bolsa do Café:

Imaginem que o jantar começou às 8 em ponto e só terminou de madrugada. Uma coisa formidável. For-mi-dá-vel! Mais de cinquenta pessoas, afora eu, Ismaé e João Redondo.

Ismaé e João Redondo, carregadores, também tipos populares, eram amigos inseparáveis de Bilro, cujo falecimento (suicídio) ocorreu depois de 1940.

 


Fonte: Velhos Templos e Tipos Populares de Vitória - 2014
Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter Aguiar Filho, fevereiro/2019

Literatura e Crônicas

Elias Hauer - Por Sérgio Figueira Sarkis

Elias Hauer - Por Sérgio Figueira Sarkis

O imóvel pertencia à firma Hard & Rand, estando localizada ao lado da penitenciária, no bairro da Glória, no Município de Vila Velha

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

Ano Novo - Ano Velho - Por Nelson Abel de Almeida

O ano que passou, o ano que está chegando ao seu fim já não desperta mais interesse; ele é água passada e água passada não toca moinho, lá diz o ditado

Ver Artigo
Ano Novo - Por Eugênio Sette

Papai Noel só me trouxe avisos bancários anunciando próximos vencimentos e o meu Dever está maior do que o meu Haver

Ver Artigo
Cronistas - Os 10 mais antigos de ES

4) Areobaldo Lelis Horta. Médico, jornalista e historiador. Escreveu: “Vitória de meu tempo” (Crônicas históricas). 1951

Ver Artigo
Cariocas X Capixabas - Por Sérgio Figueira Sarkis

Estava programado um jogo de futebol, no campo do Fluminense, entre as seleções dos Cariocas e a dos Capixabas

Ver Artigo
Vitória Cidade Presépio – Por Ester Abreu

Logo, nele pode existir povo, cidade e tudo o que haja mister para a realização do sonho do artista

Ver Artigo