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Cachoeiro De Itapemirim: Pioneira Capixaba De Energia Elétrica - Por Gabriel Bittencourt

Ilha da Luz - Cachoeiro de Itapemirim

Quando em 1896 se inaugurou o Teatro Melpômene, em Vitória, a cidade engalanou-se pelo acontecimento. Todo construído em pinho de Riga, estilo renascença e capacidade para 1.200 pessoas, causou assombro pelo sistema de iluminação elétrica que possuía, alimentado por um pequeno gerador existente no próprio teatro.

Isso equivale dizer que não existia energia elétrica pública em Vitória naquela ocasião.

Era a iluminação pública da capital baseada no gás comburente e sujeita a interrupções muitas, que geravam constantes reclamações da população, insatisfeita com o serviço. Essa situação ainda persistiria por mais de uma década, retrocedendo-se até mesmo a iluminação a querosene, com as paralisações do gasômetro de que se servia.

Nessa época, Cachoeiro de Itapemirim já se constituía em um pólo de atração micro-regional. Próspera por suas terras ocupadas pelo café, atraíra, desde cedo, importante infra-estrutura de transporte, que colocava o município em contato mais rápido com o Rio de Janeiro, o mais importante centro do país e capital nacional, por onde se escoava boa parte do café capixaba.

Desde 1876, navegavam no rio Itapemirim os vapores do capitão Deslandes. Onze anos depois, integrar-se-iam à primeira ferrovia do Espírito Santo, a Estrada de Ferro Caravelas (Cachoeiro-Alegre-Castelo). Por tudo isso a cidade catalisara, tão logo, importante comércio de armarinho, ferragens, entre outros gêneros e, principalmente, café, consolidando esse pólo de atração econômica, que já superava o município de Itapemirim, do qual se desmembrara a 25 de março de 1867. Paradoxalmente, até 1887, não possuía iluminação pública de qualquer natureza.

A partir de 1887, portanto, tem início um sistema local de iluminação pública a querosene. Seu custo girava em torno de 10$700 por combustor individual/mês. Essa situação perdurou até o governo dinâmico de Bernardo Horta de Araújo, que ocupou o governo municipal de Cachoeiro por mais de uma vez.

O desejo da elite cafeicultora cachoeirense em demonstrar progresso e avanço, sem dúvida, deve ter incentivado esse presidente da Câmara Municipal, em 1902, a contratar a criação de um serviço de iluminação pública elétrica para sua cidade.

Assinado o contrato com o engenheiro Antônio Gonçalves Neves, em janeiro de 1903, escolheu-se como sítio para a captação hidráulica a ilha da Boa Esperança, que a população passa a denominar "Ilha da Luz"; a partir de então.

Rapidamente conclui-se o serviço, tanto que, em setembro do mesmo ano, oficiou-se à Câmara a fim de que se marcasse data para entrega do melhoramento urbano à população.

Vistoriadas e aprovadas as instalações (por um técnico alemão, que para tal viera especialmente do Rio de Janeiro), procedeu-se à inauguração oficial — ato que se revestiu de grande solenidade e teve lugar no salão nobre do novo prédio da Câmara Municipal, também inaugurado naquele dia 1 de novembro de 1903 (Festa de Todos os Santos).

Destarte, Cachoeiro de Itapemirim tornou-se a primeira cidade do Espírito Santo a ser dotada de serviço público de energia elétrica, e décima do Brasil.

Curiosamente, antes dessa inauguração, já funcionava o serviço extra-oficialmente, que, a partir da primeira experiência do empreendimento, fez a população municipal um abaixo-assinado, prontamente atendido, solicitando o apagar definitivo dos lampiões a querosene e sua substituição pela luz elétrica.

 

A Gazeta — (Vitória) 28 de junho de 1985

 

Fonte: Notícias do Espírito Santo, Livraria Editora Catedra, Rio de Janeiro - 1989
Autor: Gabriel Bittencourt
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2021

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