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Caieiras

Ilha das Caieiras, 1986 - Fonte Memória Capixaba, Fábio Pirajá

Compondo a paisagem da Grande São Pedro, uma pequena península — que até 1940 geograficamente era uma ilha — integra o cenário daquele aglomerado urbano: são as Caieiras. Pouca gente a conhece. Fica isolada, num canto da ilha de Vitória, quieta, solitária, pouco se importando com as fugazes visitas dos que ali aportam para a compra de mariscos ou para uma cerveja de fim de tarde. Saindo de Maruípe, em busca da estrada do Contorno, vamos encontrando uma paisagem única. São casas simples construídas no sopé dos morros, bananeiras entre granitos que afloram em todo o trecho e, mais à frente, a chácara do Jacaré. Antigas palafitas, barracos de madeira e zinco se transformam em casinhas de alvenaria. Surgem unidades de saúde, boas escolas, centros comunitários, vida social e comunitária ativa. É o bairro São Pedro, "lugar de tanta pobreza" na visão iluminada de Amylton de Almeida e que hoje ressurge das cinzas como um centro irradiador de ideias e lideranças. Integrando esse cenário, coladas à ilha de Vitória, como um enclave poético: as Caieiras. Em meados dos anos setenta, tive a oportunidade de travar conhecimento com esse pedacinho de terra, escondido entre a colina e o mar, de beleza simples, densa, original. Entrava-se na ilha através de uma estradinha de barro e logo avistávamos o campo do Racing — tradicional time da região, onde jogávamos ferrenhas partidas de futebol. Do outro lado da baía, uma paisagem de sonhos: a desembocadura do rio Santa Maria, com o seu manguezal em flor e uma fartura de peixes, crustáceos, moluscos. Nas Caieiras o que se via — e o tempo não mudou muito — eram festas ingênuas e o tempo andando devagar, quase parando. Entre pescadores e homens que viviam de biscate, uma criançada alvoroçada que transformava em permanente festa a quietude do lugar. Local calmo, destinado exclusivamente à preguiça e ao modesto ócio, habitado por pessoas ordeiras, águas até então razoavelmente limpas, canoas e redes emoldurando essa paisagem de sossego e paz. Numa pequena colina, abençoando esse lugar, a igrejinha de Nossa Senhora da Conceição. Lugar silencioso, com o barulho sonolento das ondas batendo docemente nas pedras. Ruído de crianças em algazarra mergulhando nas suas águas calmas. Bons botecos ao longo da estreita e única rua que desemboca na velha creche da LBA. Bem próximo, o morro, cujo desmonte ensejou o aterro onde hoje é a enseada do Suá. De um lado e de outro da rua, mulheres e crianças, catando siri, caranguejos, limpando camarão. Naquela época, havia ainda pitangueiras junto à maré. Andorinhas, sanhaços, bem-te-vis realizavam o seu bailado vespertino e avistávamos garças solitárias junto às suaves marolas que se desmanchavam na faixa de areia ainda desnuda que acompanhava o extenso manguezal. Cheiro de mar, cheiro de terra fresca, a igrejinha, os pescadores — suas canoas, suas histórias, sua ingenuidade, sua doce preguiça.

Visitando-a hoje, vejo que o tempo não alterou a sua maneira de ser. Ela continua como uma miniatura de um presépio no outro lado da ilha.

 

ESCRITOS DE VITÓRIA — Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES.

Prefeito Municipal: Paulo Hartung

Secretário Municipal de Cultura e Turismo: Jorge Alencar

Diretor do Departamento de Cultura: Rogerio Borges

Coordenadora do Projeto: Silvia Helena Selvátici

Conselho Editorial: Álvaro José Silva

José Valporto Tatagiba

Maria Helena Hees Alves

Renato Pacheco

Bibliotecárias

Lígia Maria Mello Nagato

Cybelle Maria Moreira Pinheiro

Elizete Terezinha Caser Rocha

Revisão: Reinaldo Santos Neves , Miguel Marvilla

Capa Pedra dos Olhos, Foto de Carlos Antolini

Editoração Eletrônica: Edson Maltez Heringer  

Impressão: Gráfica Ita

 

Fonte: Escritos de Vitória 12 – Paisagem - Secretaria Municipal de Cultura e Turismo – PMV
Autor do texto: Domingos Azevedo
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2019

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