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Centenário do Dr. Antonio Athayde - Parte I

Mesa que presidiu a sessão solene do IHGES, nas comemorações do centenário de Antônio de Athayde

Notícia

O Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo prestou, no dia 22 de setembro de 1960, significativa homenagem à memória do Dr. Antônio Francisco de Athayde, engenheiro, professor, historiador e sociólogo de reais méritos e um dos fundadores deste sodalício. A solenidade teve por objetivo registrar a passagem do centenário de nascimento do ilustre espírito-santense.

Na sede do IHGES, sob a presidência do Dr. Ceciliano Abel de Almeida, realizou-se, naquele dia, a sessão solene comemorativa. Presentes altas autoridades do Estado e do Município, membros da Família Athayde — especialmente convidados — professores, consócio do Instituto e numeroso grupo de amigos e admiradores de Antônio Athayde, o senhor Presidente, depois de ressaltar a justiça da homenagem àquele a quem tanto ficou a dever o Espírito Santo, pelo rol marcante de seus trabalhos e estudos, deu a palavra ao Professor Nelson Abel de Almeida — orador oficial da Casa — para proferir o discurso alusivo à efeméride e fazer o elogio do saudoso capixaba o que fez, sob aplausos dos presentes, com a eloqüência e o ponderado espírito de historiador e crítico que o caracteriza.

Em seguida, com a palavra o Dr. Aníbal de Athayde Lima — ilustre neto do homenageado — e falando em nome da Família Athayde, pronuncia expressivo discurso, também vivamente aplaudido por todos os presentes.

Ambas essas orações vão transcritas adiante, em páginas desta Revista.

Encerrando a sessão, o senhor Presidente, após ressaltar, mais uma vez, o alto e inestimável valor do trabalho intelectual de Antônio Francisco de Athayde, focalizando ao vários setores em que foi ele útil prestante à coletividade espírito-santense, agradece o comparecimento das autoridades, dos membros da Família Athayde, dos consócios e demais pessoas presentes à expressiva solenidade.

Antônio Francisco de Athayde

DISCURSO DO PROFESSOR NELSON ABEL DE ALMEIDA, ORADOR OFICIAL DO INSTITUTO, NA SESSÃO SOLENE DE 22 DE SETEMBRO DE 1960

"Não se pode bem avaliar a relevância dos serviços prestados por um homem, senão depois da sua morte".

Este pensamento lapidar, um dia, há quinze anos passados, serviu-me para encerrar um discurso de elogio a uni espírito-santense, dos mais eminentes.

Com este pensamento, admirável de sabedoria, estou iniciando esta modesta e desvaliosa oração que, em nome da "Casa de Domingos Martins", devo proferir, rememorando a vida repleta de bons serviços à sua gleba, à sua gente e à sua Pátria, daquele que se chamou Antônio Francisco de Athayde.

E muitos hão de indagar, curiosos e ávidos — De quem é este pensamento? Quem o exprimiu?

Satisfazendo a curiosidade de toda esta seleta assistência, responderei — de Antonio Francisco de Athayde, o capixaba ilustre, o espírito-santense eminente, cujo centenário de nascimento está, neste dia, sendo comemorado não só neste Sodalício, mas em toda a terra de Maria Ortiz.

Há cem anos passados, naquele longínquo 22 de setembro de 1860, nascia Antônio Francisco de Athayde, filho do comendador Antonio Francisco de Athayde e de D. Luiza Maria Siqueira de Athayde.

Passada a sua meninice e realizados os exames de madureza, ei-lo parte integrante do corpo discente da antiga Escola Politécnica de onde, em 2 de abril de 1884, sairia laureado engenheiro civil.

E, agora, vai-se iniciar a vida pública de Antônio Francisco de Athayde que chegaria aos sessenta e um anos de intenso labor, eis que o insigne capixaba só vê encerradas as suas atividades, quando o Senhor o chamou, ao seu seio, aos 15 de Fevereiro de 1945.

A vida pública de Antônio Athayde há de ser examinada, não apenas pela sua extensão horizontal, mas, também, pela sua profundidade vertical, pela marca de que impregnou o seu tempo; a atividade que ele desenvolveu foi encontrar eco, em setores vários da comunidade espírito-santense; e em todos eles ficaram as marcas das suas pegadas e do seu trabalho diuturno.

O magistério, a engenharia, a história, a política, a administração seriam atividades suas, constantes, sempre a exigir-lhe a sua dedicação e o seu devotamento.

Professor, o Dr. Athayde, nos idos de 1884, ilustrou o corpo docente Escola Normal "Pedro II", ministrando as aulas de Pedagogia. Àquele tempo, no Brasil, não eram acessíveis, aos jovens, os compêndios dessa matéria. E o mestre, sempre amigo, sempre desejoso de cooperar para a cultura de sua gente, cuidadosamente, elaborava as apostilas, que guiariam as jovens estudantes de então.

E também lecionaria no Ateneu Provincial e no Colégio Nossa Senhora da Penha.

Como engenheiro, Antônio Athayde não foi um contemplativo, não se quedou a olhar a paisagem, não se contentou em admirar a vastidão da Pátria, nem se limitou a lamentar a falta de recursos técnicos e sanitários, peculiares à sua época. Também, não limitou as suas atividades ao Espírito Santo.

Com alma de pioneiro, engenheiro por vocação, por volta de 1908 ou 1909 arruma as malas, levanta acampamento, diz um "até breve" ao seu querido Espírito Santo, e larga-se, com a família, em demanda da Amazônia, ainda indevassável, para dirigir a Estrada de Ferro de Alcobaça à Praia da Rainha, às margens do misterioso rio Tocantins.

A sua ausência da terra natal não seria longa. Estava escrito que, na terra capixaba, teria de transcorrer a maior parte de sua utilíssima vida; a ela, à sua terra natal, seriam prestados os seus melhores serviços.

E 1910 o trouxe de volta, batido pelo impaludismo da paisagem longínqua, de saúde gravemente abalada. Agora, também estava escrito, não mais se ausentaria da terra de seus maiores e sua.

Mas, antes de se dirigir à Amazônia, exerceu Antônio Athayde a sua profissão, em nosso Estado.

Assim, em 1885, foi nomeado Inspetor Geral de Obras da Província; em 1887, quando da chefia do engenheiro Pantoja, Antônio Athayde, como engenheiro ajudante da Comissão de Terras e Colonização de Santa Leopoldina, prestou serviços nos núcleos Conde d'Eu e Senador Antônio Prado, serviços concluídos em 1889, quando o ilustre capixaba passou a desempenhar a chefia da referida Comissão.

Desejoso do progresso de sua Província, Antônio Athayde, homem culto e de visão, não demorou a sentir que o imigrante seria fator de aprimoramento, no Brasil. E 1888 assiste à fundação do núcleo Acioli de Vasconcelos, como 1906 vai vê-lo fundar, em Baixo Guandu, o núcleo Afonso Pena.

Era a colonização racional, e com a colonização racional, a certeza de dias mais promissores, para a economia da terra moça.

Distante está o ano de 1895. Poucos, deste ilustre auditório, o conheceram. E os que o conheceram, não mais se recordam dele. E a Vitória de 1895? Como seria ela? Como seriam as suas ruas? Como seria a sua iluminação? o seu abastecimento de água? Como seriam os seus meios de transportes urbanos?

Poucos, aqui presentes, podem responder a essas perguntas. Todos são enamorados da Vitória atual, da Vitória Cidade-Presépio, que não é mais a Vitória de antanho, com as suas figuras populares, com as suas festas religiosas, sempre movimentadas, sempre agitadas, sempre belicosas.

E muitos sabem, por ouvir dizer, por ouvir contar, que na Vitória antiga, nos Pelâmes, existia um brejal e que um reguinho que ia da Fonte Grande até o mar. Mas tudo isso são coisas afastadas, distantes, desconhecidas de nós outros e, entretanto, essa outra Vitória foi contemporânea de Antônio Athayde que, naquele 1895, foi chefiar as obras de drenagem do brejal dos Pelâmes e canalizar as águas do reguinho, para o que usou os canos União-Continua (cimento armado), organizando ainda planta geral da sua cidade.

Ainda poderia referir, aqui, nesta pálida homenagem, a figura de Antônio Athayde, como homem público, como político. E muito haveria que falar.

Também, poder-se-ia encarar o Antônio Athayde, chefe de família exemplaríssimo.

Desnecessário, a meu ver, dele falar sob esse prisma. Ainda não faz tanto tempo do seu desaparecimento, e os seus filhos, os seus netos, os seus descendentes, enfim, ai estão, em nosso meio social, convivendo conosco, dignificando, honrando e enaltecendo, cada dia e cada hora, a memória do seu antepassado ilustre, eis que lhe seguem as pegadas, e pautam as suas vidas no exemplo que ele lhes deu.

Embora, rapidamente, tentarei bosquejar o Antônio Athayde historiador.

E abro o livro de atas do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. E ele registra:

"Aos doze dias do mês de Junho do ano de mil novecentos e dezesseis em uma das salas do edifício do Congresso Legislativo do Estado do Espírito Santo, cedida para a fundação e a sede provisória de uma associação destinada ao estudo da história nacional e da geografia, especialmente no que se referisse ao Estado do Espírito Santo, reuniram-se além dos promotores da idéia —Drs. Antônio Francisco de Athayde, Carlos Xavier Paes Barreto e Farmacêutico Arquimimo Martins de Matos, os seguintes cavalheiros..."

Antônio Athayde foi o presidente dessa primeira e memorável reunião.

E, assim, iniciou o eminente capixaba a sua vida de trabalho e de amor, de fé e dedicação a esta Casa e à História e Geografia do Espírito Santo.

Estudioso, e acérrimo defensor da memória de Domingos Martins, publica, no primeiro volume da nossa Revista, substancioso trabalho, que subordinou ao titulo — CULTO PÚBLICO, — com os sub títulos — Sua preeminência nos destinos humanos; — A Glorificação de Domingos Martins, — defendendo, aquele tempo, a necessidade das comemorações cívicas, e manifestando conceitos, sem dúvida, de atualidade.

E pontifica Antônio Athayde, em 12 de Junho de 1917:

"o regímen republicano baseando-se no profundo sentimento de fraternidade universal, não pode bem manifestar-se, sem um sistema de festas públicas, destinadas a comemorar a continuidade e a solidariedade de todas as gerações, devendo cada Pátria instituir o culto próprio a essas festas, segundo a veneração que cada uma delas possa invocar, pelas relações especiais que ligam os seus destinos aos destinos de todos os povos".

E mais adiante, refutando a opinião de Tollenare, expressa em NOTAS DOMINICAIS, lamenta Antônio Athayde que, ao estudar a nossa história, sirvam-se muitos de fontes suspeitas, e tem, então, palavras de repulsa, e candentes, que bem demonstram o seu estado de alma, ao escrever, expondo idéias suas:

“é uma infelicidade para nós, que tratando-se de cousas nossas, tenhamos ainda de beber informações em fontes suspeitíssimas, e além disso, estrangeiras!... É admissível que naquele tempo, o governo da tirania tivesse empenho em baralhar os fatos, para seqüestrá-los da verdade histórica, desvirtuando assim o patriotismo da causa; mas, agora, não é justo que através de um século se escreva ainda na República as mesmas contradições desrespeitosas à memória dos mártires pernambucanos, que sagraram com o seu sangue o advento do regimen atual”.

Este trecho, do artigo referido, mostra-nos Antônio Ataíde, o historiador de raça, conclamando os seus conterrâneos, conclamando a nós outros para irmos às fontes históricas, nacionais e autênticas, restabelecer a verdade sobre o inconfundível movimento de 1817. 

Teremos atendido à conclamação?

Verdadeiro professor de civismo, o venerando Dr. Athayde, em 7 de Setembro de 1921, ao receber o título de Presidente Honorário desta Casa, fala-nos do interesse que o povo deve ter pela sua gleba, pela sua história, pela sua gente. E preleciona:

"povo sem interesse pelo seu sagrado patrimônio; povo que não fundamenta as suas esperanças no pedestal de glórias do passado; povo, que não lhe acende n'alma, a saudade infinita por essa legião fecunda de obreiros beneméritos que desapareceu objetivamente, mas que continua guiando-nos subjetivamente, cuja língua em que falamos, é o maravilhoso instrumento, é o opulento legado, é o monumento incomparável de sua sabedoria; povo, indiferente a tudo isso, é um povo infeliz, que agoniza, que se degrada, que se dissolve pela incapacidade moral, pela ignorância e pela incapacidade de seus filhos!"

Teria Antônio Athayde pressentido os dias que, hoje, está o Brasil atravessando? Quem sabe lá.

 

Nota(1): Discurso do Professor Nelson Abel de Almeida, orador oficial do Instituto, na sessão solene de 22 de setembro de 1960

 

Nota (2): Leia mais em Centenário do Dr. Antonio Athayde - Parte II

 

Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, Nº 21 – ano, 1961
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2015

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