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Cientista Augusto Ruschi

Cientista Augusto Ruschi, 1967

Nessa ocasião, Carlos gostava muito de orquídeas e, após uma visita ao prefeito de Santa Teresa, Enrico Hildebrando Aurélio Ruschi, foi convidado a visitar, no quintal da família, a coleção de orquídeas do irmão mais novo, Augusto, então com 22 anos. Para chegar ao orquidário, era preciso passar pelo porão da casa, cheio de toscas mesas de madeira. Carlos quis saber o que significavam. Enrico Ruschi explicou: “Esse meu irmão tem mania de estudar. Coloca umas caixas de sapato em cima da mesa, com papeletas para classificar os bichinhos que ficam dentro. São borboletas, lagartas, um monte de bichinhos. Esse meu irmão é meio maluco, trabalha na prefeitura, faz uns gráficos lá. Ganha 150 mil réis e tem mania de colecionar esses bichinhos.” Carlos observou todo o material e então disse: “Esse camarada não tem nada de doido. Por que você não o aproveita?” Ruschi respondeu: “Não mandamos ele estudar porque não podemos.”

Carlos não conseguiu esquecer o “laboratório”. No Rio, conversou com o biólogo Mello Leitão, seu compadre (era padrinho de batismo de Carlos Fernando), muito influente no meio científico e que tinha ótimas relações com Heloísa Alberto Torres, diretora do Museu Nacional. Rememora Carlos: Então eu falei com ele que tinha me aparecido um rapaz assim, assim, expliquei como ele era, descendente de italianos, que vivia fazendo coleção de bichinhos e me parecera um rapaz muito aproveitável: Veja se dá um jeito dele entrar no Museu para ajudar a doutora Heloísa e ganhar algum dinheiro para poder estudar e fazer carreira.

Dois anos depois, Mello Leitão avisou a Carlos: “Manda buscar sua preciosidade porque Heloísa tem um lugar para ele.” Carlos enviou um telegrama para Vitória e mandou dinheiro para a passagem. Apareceu Augusto Ruschi, um rapaz de rosto pequeno, de olhos muito vivos, com um ar humilde e falando pouco. Heloísa Alberto Torres, uma senhora muito bonita, de cabelos grisalhos, “uma simpatia de pessoa”, recebeu os dois. Carlos explicou-lhe como o descobrira. Ela quis saber com quem Augusto aprendera a classificação dos “bichinhos”. O rapaz respondeu: “No ginásio. De vez em quando eu consulto a dona Stelinha, ela é que é minha professora.” Ela perguntou: “E quem é dona Stelinha?” Carlos explicou: “É Maria Stella de Novaes, uma professora de História Natural que se dedica muito a plantar, é minha parenta e gosta muito de biologia. Ruschi de vez em quando vai lá e conversa com ela.”

Heloísa, querendo se informar de tudo, perguntou se Ruschi trouxera algum documento. Ele apresentou uma pasta com seus trabalhos. Ela os examinou durante muito tempo e depois perguntou, mostrando uma página em que para Carlos só havia um monte de rabiscos: “O que é isso, seu Ruschi?” O rapaz respondeu: “É uma sistemática que eu organizei para os meus estudos.” Heloísa então perguntou: “Quanto o senhor quer ganhar?” Carlos interferiu: “Isso não é com ele não, é comigo. Quanto a senhora pode pagar?” “Para começar eu pago um conto e duzentos”, respondeu ela.

Para quem ganhava 150 na Prefeitura de Santa Teresa, 1.200 réis davam para se manter no Rio; e já no segundo mês Heloísa aumentou-lhe o salário para dois contos e quatrocentos. Em menos de dois meses, ele havia levado para o Museu mais de cinco mil espécies de plantas. Dois anos depois, voltou ao Espírito Santo para continuar os estudos, formando-se em agronomia. Conta Carlos Lindenberg:

— Ele continuou mandando espécies e enriquecendo o museu. Nessa ocasião descobriu uma espécie de sapo pequeno (o Museu tinha alguns espécimes) e levou uma porção desses sapos e também uma espécie de lagarta, porque havia só três espécimes no mundo e ele entregou nove de uma vez ao Museu, que tinha descoberto. De fato nesse negócio de descobrir coisas ele era de uma habilidade extraordinária. Nesse meio tempo já tinha também começado os estudos referentes aos beija-flores e realmente era o homem que mais conhecia beija-flores no mundo. Aí foi se desenvolvendo e mais tarde fundou o Museu Mello Leitão, estabelecendo relações com gente até do exterior. Foi um homem mundialmente conhecido pelos trabalhos com beija-flores, orquídeas, bichos.

Ele achava que existe uma ligação entre o beija-flor e a orquídea. Uma vez passou um carnaval inteiro atrás de uma formiga. Havia uma formiga preta que a gente encontra na mata sempre sozinha. Mas ele achava que essa formiga não mora sozinha e sim com outras companheiras.

Tinha um padre de Santa Catarina que afirmava que ela morava sozinha, que era uma formiga solitária. Pelo carnaval ele estava na mata procurando os bichinhos e encontrou essa formiga, foi acompanhando até que descobriu onde ela morava. De manhã, elas saíam cada uma por um caminho e de noite se reuniam para dormir no mesmo lugar. Isso serviu para contestar a tese do padre.

Ele tinha coisas muito interessantes. Por exemplo, era inimigo de eucalipto, não admitia o seu plantio e achava que eucalipto cria desertos. Ele era contra a plantação em Aracruz, ao norte de Vitória, achava que aquilo tudo pode virar deserto, o eucalipto espanta pássaros, os bichos, essas coisas todas. Não sei se ele tinha razão, eu acho que o eucalipto é uma mata e como mata traz benefícios, mas ele achava que não, que eles estavam fabricando desertos para o futuro.

Durante o primeiro governo de Carlos Lindenberg, seu assessor Paulo Fundão se encarregaria de enviar todo o material coletado por Augusto Ruschi para o Museu Nacional. Fundão confirma: “Tudo quanto é material, mandava coleção de beija-flores, aqueles sapos que tinham fio nas costas, eu levava para o aeroporto, botava tudo num saquinho com medo deles fugirem dentro do avião”.

 

Fonte: Carlos Lindenberg – Um estadista e o seu tempo, 2010
Autor: Amylton de Almeida
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2014

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