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Consuelo Salgueiro (Parte III)

Escultura de Maurício Salgueiro - Fonte: Flickr

Consuelo Salgueiro surpreendia pelo espírito evoluído e entendia ser necessário amar para crescer. E o amor teve muita importância em sua vida. Amou aos filhos, aos amigos e a tudo relacionado com a vida e família, cultivando o senso que não admitia falhas ou fraquezas. Sabia perdoar, sem esquecer mágoas, os desencantos com que a escola do mundo testa e nos aproxima do ato de ser tolerante. Alerta aos que lhe ofereciam a oportunidade de conhecer, fez de sua modéstia a forma de viver, sempre em busca da perfeição que vem da sabedoria. Mas a grande chave de sua vida, o elo de toda essa resistência estava na sua forma mais justa e leal – o amor.

Zany Roxo, a filha que Consuelo não teve, porque Deus lhe deu somente filhos homens, era uma criança agitada, de concentração difícil e que precisava estudar. Celina Roxo Echmann, sua mãe, não sabia como resolver o problema e foi aconselhar-se com a sua grande amiga Consuelo Salgueiro, Elas se conheceram em Vitória, quando o marido Frederico Echmann, engenheiro, veio construir algumas obras aqui na ilha. Com aquele espírito de solidariedade que era uma de suas características, Consuelo prontificou-se em orientar a educação de Zany e, como para ela ser professora era um estado de graça, assumiu a sua educação. Zany, que jamais frequentou a escola, fez curso de português, matemática, história, geografia, francês, etc. preparando-se no nível primário e ginasial.

Para Consuelo, entretanto, a sua maior realização pessoal foi o sucesso profissional dos filhos e sua atividade como professora de artes. Estudou belas Artes com Maurício, História da Arte e advocacia com João Vicente. Dedicada e excelente filha, foi mestra maior dos filhos e seus amigos. Como foi importante para ela o sucesso de Zany e Sanin, os filhos dentre muitos que ela adotou. Em seus desabafos ela dizia-se “arrependida de não ter vivido com maior intensidade a sua própria vida”. Deixou-se envolver pelo turbilhão do dia-a-dia, para dar o melhor para os filhos. – “Passei a vida inteira contando tostões e agora estou velha, com dinheiro e não sei o que fazer”. Certa vez a Zany perguntou: - “O que você define na vida, uma pessoa com linha do meio?” Ela respondeu: “Eu sou a linha do meio”. “Como explica isso, tia Consuelo?” E ela respondeu: - “Eu nunca me deixei levar pela emoção dos impulsos, embora eu fosse toda emoção. Talvez pela educação de época recebida, os preconceitos, verdadeiros grilos, que nos levam a respeitar e obedecer todas as regras sociais” - “Você se arrepende?” “Muito. Se eu soubesse de todas as verdades, jamais eu seria linha do meio, mesmo na pintura, que foi a linha do meio final”. E concluiu: “jamais deixei extravasar as minhas fantasias, sufocando sonhos e emoções. Eu não tive coragem de ser você”. A personalidade de Consuelo Salgueiro tem muito da tristeza, do sofrimento espanhol, é importante que se fixe isso, talvez por ter negado a si mesma o direito de ser feliz como mulher. Perguntei ao Maurício Salgueiro se foi a sua mãe que o fez optar pela escultura como profissão. – “Não, ela não acreditava, eu estava me preparando, ela não acreditava. Eu cursava o primeiro ano de engenharia, não por ela, mas pela estrutura social da época, porque a Engenharia seria uma profissão de resultado prático, mais viável, mais seguro, mais certo. O meu interesse por arte vem desde criança e sempre estive ligado em arte. Mas se não tivesse esse clima em casa, talvez não tivesse desenvolvido um sentimento mais sério e definido. A gente convivia diariamente em casa com um clima de cultura e arte muito grande e isso ajudou muito. As reuniões com intelectuais e artistas plásticos, tudo isso colaborou, mas era a minha formação porque, praticamente, só cursei  primeiro ano de engenharia, enquanto sempre tive muita ligação com a arte. Isso também aconteceu com João Vicente que se formou em Direito, chegou a Vice-presidente do Sindicato de Classe e, paralelamente, cursou museologia, nessa coisa diária de identificação com artes. Cursei ainda dois anos de museologia, mas estava interferindo no curso da Escola de Belas Artes, onde fiz escultura, e eu tive forçosamente de optar. O curso de Belas Artes versava, para meu interesse, com coisa muito próximas de meu ideário, enquanto a museologia interferia e me obrigava a ausência em muitas atividades do curso de escultura. E o pior, tinha de aturar um bando de incompetentes que eram os professores de museologia e o curso era tão ruim que me irritava. Resolvi, então, abandoná-lo no 2º ano”. Para o filho Maurício Salgueiro, indiscutivelmente, Consuelo foi pai e mãe e a sua maior incentivadora. E nunca, diz ele, decidiu fazer alguma coisa sem o estímulo dela, desde a alucinada viagem a Gurupi, no Maranhão, tão bem colocada no depoimento de Sanin, um episódio que envolveu risco de vida que ela apoiou para não cercear a iniciativa dos filhos. “Nunca, em momento algum ela tentou cortar tudo que eu quisesse fazer”, foi taxativo. O escultor Maurício Salgueiro, durante o curso de escultura da Escola Nacional de Belas Artes conquistou todos os prêmios: 1º prêmio no 2º ano de escultura no Salão Nacional de Belas Artes e medalha de prata no Salão Municipal do Rio de Janeiro. No 3º ano da escola, conquistou a medalha de bronze no Salão Nacional de Belas Artes.  A partir daí ele começou a marcar presença em todas as exposições de escultura promovidas pelo Salão nacional. No 4º ano de escola, arrebatou a medalha de prata e no ano seguinte, a medalha de ouro no Salão nacional de Belas Artes. Finalmente, dois anos depois, conquistou no Salão Nacional o mais importante e valioso que é o “Prêmio Viagem ao Estrangeiro” com a escultura da bailarina Sandra Diekens. E o mais significante foi a conquista no mesmo Salão nacional do “Prêmio Viagem” e o “Prêmio de Aquisição”, isto é, dois prêmios importantes. O “Prêmio de Aquisição” é adquirido pelo Salão com verba própria e dividida entre os melhores trabalhos apresentados. Perguntei ao escultor Maurício Salgueiro como ele recebeu, qual a sua emoção em ser premiado duas vezes no mesmo Salão Nacional de Belas Artes. – “Eu enviei dois trabalhos, a escultura de Sandra Diekens que me deu o “Prêmio Viagem” e uma cabeça em gesso do pintor Ângelo Proença Rosa. Isso porque, dificilmente, eu ganharia o “Prêmio Viagem” por norma ainda hoje adotada pela Comissão julgadora, de não premiar o artista que concorresse somente com um trabalho, porque ficaria difícil avaliar o conjunto. Na verdade, minha meta era o “Prêmio Viagem” e para fazer o conjunto enviei esses dois trabalhos. Eu não esperava a premiação dos dois e foi uma feliz surpresa para mim.” Todos os seus trabalhos premiados fazem parte do acervo do Museu Nacional de Belas Artes.

Maurício permaneceu 2 anos na Europa para estudos, com residência em Madrid e se fez acompanhar nessas viagem por Consuelo Salgueiro. Consuelo adorava viajar e mais tarde voltou à Europa para um longo passeio na Alemanha com temporada em Colônia, em visita aos sobrinhos Guilherme e Sandra Diekens que ali residem há muitos anos. Em viagem aos Estados Unidos, passou temporada em Los Angeles, hóspede de Zany Roxo, que ela amava como filha e a esta altura estava casada com um produtor de cinema, o americano Burt Astor.

 

Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Nº 45. 1995
Autora: Yvonne Amorim
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2013 

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