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De como Anchieta foi feito Provincial

Padre José de Anchieta

Estando o Nosso Padre Geral Everardo Mercuriano, de feliz memória, inteiramente informado e satisfeito das muitas partes [qualidades] que concorriam, no Pe. José para se lhe poder entregar seguramente o cargo desta Província, nomeou-o por Provincial dela, mandando-lhe sua patente e recado ao Pe. Inácio Tolosa - que acabara de o ser - que lha entregasse o que foi feito no ano de 1578. E foi o quinto provincial do Brasil, contando por 3° o Pe. Inácio de Azevedo, que vinha por Provincial, quando o Senhor lhe fez mercê que derramasse seu sangue por sua fé juntamente com seus companheiros.(4)

Andava por este tempo o Pe. José em uma missão, dando remédio a muitos índios que então havia acolá, que parece Deus o quis tirar, como outro David, do meio de suas ovelhas para lhe dar cargo de outras mais racionais e de quem ele mais se servia. Estava ele assentado sobre um tição (toco de lenha chamuscada) confessando uma índia doente. Quis o senhor da pousada dar lhe outra coisa para que se assentasse, que não quis aceitar, dizendo que antes que acabasse aquela confissão, lhe haviam de trazer outro assento de menor gosto seu. E assim foi, porque antes de acabar chegou o barco em que o chamavam para lhe entregar o cargo.

Posto no cargo - que aceitou com muito sentimento e angústia do seu coração - não mudou nada do seu andar comum e acostumado, nem para com os índios, aos quais sempre acudia a pé e descalço, todas as vezes que podia furtar o corpo às obrigações de seu oficio, nem no tratamento de sua pessoa que sempre foi abatido, baixo e pouco oneroso aos seus irmãos, como se dirá em seu lugar. Em todas as viagens que fez por mar, quase toda noite vigiava, não por medo que tivesse, que assaz era animoso e intrépido, se não porque os demais dormissem descansados. E quase todo este tempo gastava em contínua oração. Uma vez, tendo já posto o amito na cabeça,(5) e começando a tomar a alva , veio-lhe dizer o porteiro que um homem lhe queria falar. Tornou a tirar o amito, dizendo: "É melhor misericórdia que o sacrifício". E depois veio dizer a missa. O que se podia dizer da mansidão, humildade e caridade com que o governou, tocar-se-á no seu lugar próprio, pois estas virtudes nem as demais, não foram novas nele no tempo de seu governo, senão acostumadas em todo o decurso de sua vida. Teve o cargo perto de sete anos.

 

Fonte: Anchieta: um santo desconhecido? – 2014
Organização: Padre Illário Govoni
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2020
Onde comprar o livro: Santuário de Anchieta, Anchieta/ES ou Marques Editora, Belém-PA

 NOTAS

(4) Era o Santo Inácio de Azevedo, que vinha ao Brasil com mais 39 jovens jesuítas, que foram mortos pelos corsários "huguenotes".
(5) "Amito" era uma peça de paramentos da Missa que no início encobria os ombr

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