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Eletrificação rural em Castelo é mais barata

Ao assumir a Prefeitura de Castelo, em 1982, o prefeito Paulo Galvão, 39 anos. encontrou apenas 50 quilômetros de linhas de eletrificação rural em todo o município. Desde então, já realizou 84 quilômetros de eletrificação, atendendo a mais de 300 proprietários. E, até o final deste ano, pretende executar mais 50 quilômetros. Entretanto, o que o prefeito considera mais importante em tudo isso é a adoção de um sistema que reduziu os custos da eletrificação em até 60% , fazendo com que a administração municipal tivesse total apoio e confiança dos proprietários rurais.

Ao invés de contratar os serviços de eletrificação do município, o prefeito Paulo Galvão decidiu convocar a participação dos proprietários rurais para que os trabalhos fossem executados em regime de mutirão. O apoio veio de imediato e, através dele, conseguiu-se uma redução nos custos da ordem de 50 por cento. Isso permitiu à prefeitura contratar o engenheiro eletricista, Homero Luiz Palácio Guido, para dar suporte técnico aos trabalhos, de tal forma que obedecessem a normas de segurança rigorosas.

Paulo Galvão salientou que, "com a municipalização da eletrificação rural pelo governador Gerson Camata e pelo ex-secretário do Interior e dos Transportes, Sérgio Ceotto — atual presidente regional do PMDB — a Prefeitura de Castelo acabou com os projetos feitos em gabinetes fechados, e gerados por influência de políticos que desconhecem a realidade da região".

"Agora", acrescentou o prefeito Paulo Galvão, "os projetos são feitos em conjunto com os proprietários rurais, levando eletricidade até a porta da cozinha das famílias do interior, o que não era feito anteriormente pelos políticos despreparados para o cargo". Explicando o despreparo de alguns políticos, o prefeito desabafou, dizendo que no governo anterior foi vítima do desvio da rede de eletrificação nas fazendas Macaco e Criméia, somente pelo fato de ter suas posições político-partidárias diferentes, o que ocasionou prejuízos não só a si próprio como a seus vizinhos proprietários rurais.

Disse que a atual política de eletrificação rural preconizada pelo governo Gerson Camata, ao contrário das administrações anteriores, não discrimina proprietários rurais por sua coloração partidária, mas procura atender a todos de forma eficiente, a preços os mais baixos possíveis e dentro dos melhores padrões de qualidade e segurança.

A Prefeitura de Castelo foi a pioneira no Espírito Santo a adotar o Sistema Monofilar M.R.T. (Monofilar Retorno por Terra), que proporciona um redução nos custos da ordem de 70% em relação ao modelo convencional aplicado pela Escelsa. Atual-mente, aderiram ao mesmo sistema as prefeituras de Alfredo Chaves e São Gabriel da Palha — ambas obtendo resultados bastante satisfatórios, segundo o prefeito Paulo Galvão.

Para conhecer de perto o funcionamento e as vantagens do Sistema Monofilar M.R.T., o prefeito Paulo Galvão, com o apoio do ex-secretário da atual secretária, respectivamente Sérgio Ceotto e Marilza Barbosa, visitou em janeiro do ano passado o Estado do Paraná, onde já tinham sido executados 10 mil quilômetros de eletrificação rural naquele padrão. O sistema também é adotado em larga escala em outros países, como no Canadá, Alemanha e Estados Unidas; devido a seu baixo custo, sem prejuízo da eficiência, qualidade e segurança que proporciona.

Decidido em baratear ao máximo os custos da eletrificação para os proprietários rurais, o prefeito Paulo Galvão encontrou dificuldades técnicas junto à direção da Escelsa para aprovação do Sistema Monofilar M.R.T. Isso fez com que os serviços fossem paralisados durante um ano. Hoje, a Escelsa reconhece: as vantagens do sistema e vem aprovando todos os projetos realizados pela prefeitura.

Entre as regiões atendidas pela eletrificação rural levada pela prefeitura de Castelo, o prefeito Paulo Galvão enumerou as seguintes: Mamona, Apeninos, Pedregulho, Batéia, São Cristóvão e Corumbá, com 23 quilômetros de extensão de linhas; Palmital, Conquista, Sete Voltas, Córrego da Areia, Jabuticabeira, Milagrosa, Atenas e Antiportan, com 26 quilômetros; Vale do Taquaral, 2,5 quilômetros e Monte Alverne e Córrego da Telha com 23 quilômetros, perfazendo a mais de 300 propriedades atendidas.

Ao explicar como conseguiu reduzir os custos da eletrificação rural em até 60%, em relação ao modelo utilizado pela Escelsa, o prefeito Paulo Galvão disse que uma das peças fundamentais para isso foi a participação dos proprietários rurais no trabalho de mutirão. Só em mão-de-obra "foi possível conseguir uma economia de até 50%", explicou.

Ao planejar a eletrificação rural para uma determinada região do município, o prefeito reúne os proprietários rurais para lhes explicar o sistema a ser adotado, suas vantagens e a necessidade do trabalho de mutirão, como forma de redução dos custos. Até agora, disse Paulo Galvão, não foi, encontrada nenhuma oposição ao sistema, com todos os proprietários solicitados a participar dando completo apoio à medida.

Ainda dentro da filosofia de redução dos custos da eletrificação rural, a prefeitura, ao invés de usar postes de cimento e concreto, preferiu os de madeira, tratando-os à base de creosoto, que permite uma durabilidade entre 30 e 35 anos. Como vantagem, explicou que os postes de cimento e concreto se quebram com mais facilidade, exigem mais cuidado na manipulação e são mais caros.

O engenheiro eletricista Homero Luiz Palácio Guido, explicou que os postes de madeira são mais leves que os de cimento e concreto, possibilitando fácil manuseio nas regiões de difícil acesso, como é o caso do município de Castelo, de topografia bastante acidentada.

Além disso, adiantou ainda que os postes de madeira dispensam uso de escoras, devido ao fato ser flexível e não se quebrar quando do rompimento de alguma linha, o que não ocorre com o poste de cimento e concreto.

Outra medida adotada pela Prefeitura de Castelo, visando a redução nos custos da eletrificação rural, baseou-se na utilização de condutores de aço em substituição ao convencional, em alumínio, que aumenta os preços em 60%. Além disso, a prefeitura vem usando dois tipos de condutores de aço — o cordoalha (60% mais barato que o convencional usado pela Escelsa) e o fio de aço que é 80% mais barato que o convencional.

Entre as vantagens de utilização dos condutores de aço, o engenheiro Homero Luiz Palácio Guido, disse que eles permitem maiores vãos entre postes do que com as linhas convencionais. Em virtude disso, assinalou que é possível uma economia em estruturas, uma vez que é utilizado menor número de postes. Disse ainda que o tipo de linha adotado pela prefeitura tem maior resistência mecânica que as convencionais, daí permitindo distâncias maiores entre os postes.

Outra filosofia da administração municipal Paulo Galvão, vem sendo a simplificação no sistema de eletrificação rural, mediante a utilização de menos equipamentos de isolamento da rede. Isso, segundo o prefeito Paulo Galvão, e o engenheiro Guido, também permite uma maior economia em relação ao sistema convencional.

Para exemplificar as vantagens do sistema adotado pela Prefeitura de Castelo, o prefeito Paulo Galvão citou que o quilômetro de linha executado pela Escelsa custa atualmente em torno de 300 Obrigações do Tesouro Nacional (OTN) — o que corresponde a Cz$ 31.919,95 enquanto isso, o realizado pela administração municipal, pelo Sistema M.R.T. fica em 42 OTN (Cz$ 4.536,00), e pelo sistema fase neutro com cordoalha de aço o preço é de 90 OTN (Cz$ 9.575,98).

O prefeito Paulo Galvão contou que teve dificuldade para implantar no município o atual sistema de eletrificação rural, tendo em vista que a Escelsa não dispunha de normas técnicas para o uso do sistema, e até mesmo o desconhecia. Em razão disso, os trabalhos tiveram que ser paralisados por um ano. Ao resumir a importância do sistema usado no município de Castelo, para eletrificar a zona rural, Paulo Galvão — seguindo a filosofia do governo Gerson Camata — declarou: "Temos que mudar estes conceitos tecnológicos impostos por multinacionais no período do chamado "milagre econômico", e aceitarmos a realidade de que somos um país pobre, que exige soluções alternativas e revisão nos padrões, porém sem prejuízo da qualidade, eficiência e segurança.

 

Fonte: A Gazeta, 10/04/1986
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2015

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