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Entradas: A exploração do interior - João Eurípedes Franklin Leal

Ouro

As entradas organizadas para exploração do interior da capitania do Espírito Santo visavam, principalmente, as riquezas minerais, como a sonhada Serra das Esmeraldas, e a procura de ouro. Este posteriormente foi descoberto na região do rio Castelo. Algumas entretanto tinham a finalidade de caça ao índio, tanto de forma "pacífica", como de modo violento para transformá-los em escravos, para dizimá-los ou para catequizá-los.

A mais antiga entrada que atingiu terras da capitania do Espírito Santo foi a de Martim de Carvalho no século XVI, que chegou à serra dos Aimorés e depois retornou pelo rio São Mateus (Cricaré), sem ter conseguido encontrar procuradas riquezas(217). Já no Espírito Santo, Manuel Ramalho, morador na região sul da capitania, obteve em 1553 autorização de Tomé de Souza, Governador Geral do Brasil, para fazer uma entrada em busca de riquezas minerais. Ele acabou morrendo em luta contra indígenas durante a expedição(218). Posteriormente, em 1567, uma outra entrada, que partira de Porto Seguro, chefiada também por Martim de Carvalho e que penetrara pelo sertão mais de 200 léguas, voltou a ponto de partida com alguns grãos de ouro e com a notícia de uma serra de esmeraldas, que segundo ele, ficaria 100 léguas mais a frente(219). Com esta suposta existência de uma Serra de Esmeraldas iniciou-se uma epopéia em busca do local e que durou por toda fase colonial, sem que fosse evidentemente encontrado. Organizou-se em 1572, em Porto Seguro, uma nova entrada, chefiada por Sebastião Fernandes Tourinho, subiu o Rio Doce, com 400 homens, penetrando a fundo na região e regressando ao litoral pelo rio Jequitinhonha. Este entradista conseguiu com esta exploração despertar o interesse pela região(220). Já em 1574, o governador do Brasil-Norte, Luís de Brito, promoveu outra expedição para tentar localizar a Serra das Esmeraldas, sob o comando de Antônio Dias Adorno que internou na região pelo vale do rio Mucuri, com 150 índios e 2 jesuítas. Esta entrada retornou trazendo algumas pedras que pareceram sem interesse à Metrópole.

Existiram ainda entradas que visavam o indígena, tanto para fazer-lhe a chamada "guerra justa", como para cativá-los. Em 1573 Belchior de Azeredo fez uma entrada ao interior onde guerreou indígenas "revoltados" e voltou ao litoral com cerca de 200 deles aprisionados. Entre 1575 e 1576 um jesuíta fez uma entrada em busca de indígenas e conseguiu trazer cerca de 1000 deles para catequizados. Mais tarde, em 1594, Miguel de Azeredo organizou uma entrada destinada a punir os goitacazes que faziam incursões ao sul da Capitania. Estes indígenas foram severamente massacrados não mais perturbando a vida dos colonos.

Em 1598, o Governador Geral do Brasil, D. Francisco de Souza, esteve na capitania e ordenou a execução de uma entrada destinada a encontrar as esmeraldas. Coube sua chefia a Diogo Martins Cão, chamado o "Matador dos Negros", que com 50 brancos e muitos indígenas penetrou ao interior mas teve que retroceder devido aos ataques dos botocudos(221). Neste final do século XVI o jesuíta padre Diogo Fernandes realizou nove entradas ao interior, em busca de indígenas, no que foi bem sucedido conseguindo trazer um total de cerca de 12.000 prisioneiros(222).

D. Francisco de Souza, após ter sido Governador Geral do Brasil, foi a 2 de janeiro de 1608, nomeado governador geral das capitanias do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Vicente e Administrador das Minas por cinco anos(223). Inicialmente ele residiu em Vitória e incentivou várias entradas e procura de riquezas minerais, explorando inclusive a região do monte Mestre Álvaro, próxima a Vitória. Foi por sua orientação que Marcos de Azeredo organizou e chefiou uma entrada a serra das esmeraldas, em 1611(224), que entretanto não conseguiu encontrar as riquezas procuradas. Os jesuítas continuaram a realizar suas entradas, agora visando os indígenas paranaubis ou mares-verdes. Em 1621 o padre João Martins e o sertanista João Fernandes Gato chefiaram uma entrada ao rio Doce, mas voltaram sem os resultados esperados. Posteriormente nova entrada foi organizada pelo padre João Martins com 50 índios flecheiros, os quais andaram 200 léguas e trouxeram de volta apenas sete indígenas mares-verdes. Outra entrada organizada pelo padre João Martins partiu a 5 de junho de 1624 e voltou a 14 de setembro. Fazia parte desta entrada o padre Antônio Bellavia e conseguiram trazer 450 indígenas paranaubis. Entre 1636 e 1641 o jesuíta padre Inácio de Siqueira esteve no sertão com uma entrada que atingiu a região nordeste do atual estado de Minas Gerais à procura da Serra das Esmeraldas mas sem resultados maiores.

Por ordem real, foi organizada em 1646 uma das mais importantes entradas no Espírito Santo. Seu objetivo era a Serra das Esmeraldas e para chefiá-la foram nomeados Antônio de Azeredo Coutinho e Domingos de Azeredo Coutinho, filhos de Marcos de Azeredo. Participou ainda o padre Luís de Siqueira e o padre Vicente de Banhos. A entrada partiu da Vila de Vitória a 17 de maio, já com atraso, devido aos obstáculos criados pelo Capitão--mor Antônio do Canto de Almeida, que não queria cumprir as ordens reais, por não concordar com a escolha dos irmãos Azeredo Coutinho para chefiá-la. Ele desejava este cargo para si. A entrada foi composta de cerca de 25 canoas, 36 brancos e 180 indígenas. A viagem foi de pouco proveito e após 4 meses e meio retornou temendo as inundações do Rio Doce e a falta de mantimentos. Encontraram pedras negras, que pensaram ser esmeraldas queimadas pelo sol, mas estas se perderam quando as canoas que as carregavam afundaram(225). A capitania do Espírito Santo gastou nesta expedição cerca de 4000 cruzados(226). A procura das esmeraldas continuou a instigar a cobiça de particulares e da Coroa. João Corrêa de Sá, em 1660(227) e Agostinho Barbalho Bezerra, em 1664(228) foram nomeados para tentar descobrir o local da Serra das Esmeraldas assim como Garcia Rodrigues Pais (filho de Fernão Dias Pais), em 1683(229). Durante o governo de Francisco Gil de Araújo no Espírito Santo, este Capitão-Donatário empreendeu 14 entradas à Serra das Esmeraldas, sendo duas foram através do rio Doce, nas quais despendeu mais de 12 mil cruzados, sem conseguir atingir seus objetivos.

Em 1693, chegou a Vitória Antônio Rodrigues Arzão, bandeirante paulista, que trouxe o que se considera o primeiro ouro descoberto no Brasil. Este ouro havia sido descoberto no rio Casca e dele fez-se, em Vitória, duas medalhas uma que ficou para o bandeirante e a outra para o Capitão-mor João de Velasco e Molina. Este paulista tentou voltar ao rio Casca, mas doente, retornou a Santos por via marítima(230) onde faleceu. Foi esta descoberta, em território então do Espírito Santo, que desencadeou a grande corrida ao ouro e que gerou a criação da mineração das Minas Gerais.

Em 1702 o Provedor Francisco Monteiro de Morais, com 20 brancos e 40 indígenas fez uma entrada ao rio Doce em busca de ouro. Quase todos os membros desta expedição desertaram, mas segundo o relato de Francisco Monteiro de Morais foram encontradas muitas provas de abundante existência de ouro. Esta notícia fez com que o Governo Geral ordenasse nova entrada na região chefiada pelo mesmo Francisco Monteiro de Morais, acompanhado pelo capitão-mor Francisco Ribeiro. A entrada atingiu a região do Castelo, Canudal e Lavrinha. No ano seguinte, 1703, chegou à região do Castelo, vindo da região do rio das Mortes, Pedro Bueno Cacunda que, à procura de ouro, explorou além da serra do Castelo, o rio Manhuaçu e a serra do Guandu. Na região do Castelo ele se fixou fundando o Arraial de Santa Ana. Pedro Bueno Cacunda passou a comandar a mineração nesta área durante muitos anos e em 1733 percorreu o rio Manhuaçu procurando novas fontes auríferas. Fez também uma viagem exploratória, a partir da Vila da Vitória, de onde, por mar, atingiu o rio Doce ao qual subiu até a barra do rio Manhuaçu, chegando posteriormente à região do Castelo(231). Pedro Bueno Cacunda desenvolveu na área uma mineração sem ter entretanto muita paz, devido aos ataques dos puris e a constante condenação da mesma, pelo governo, por ser próxima ao litoral que por sua vez era pouco fortificado. Em 1734, Pedro Bueno Cacunda pediu ao Rei, para si o cargo de Superintendente das Minas da região dos rios Manhuaçu, Castelo e Itapemirim, para estabelecer, com intensidade, a mineração desta área por ele explorada. Pediu ainda outras vantagens, sendo algumas negadas pela Metrópole e outras não cumpridas pelos encarregados. Posteriormente, em 1740, ele pediu autorização para a reabertura das minas do Castelo e levou, da Vila da Vitória, para o Arraial de Santa Ana um religioso e um médico alemão(232) para assistir aos seus habitantes. Enquanto isto, no Vale do rio S. Mateus, o padre Manuel Botelho de Almeida havia realizado até o ano de 1738 o reconhecimento da região ficando inclusive impressionado pela boa qualidade da madeira ali existente(233). A mineração na região do Castelo foi definitivamente interrompida em 1771, com uma fulminante vitória dos indígenas puris que expulsaram os mineradores. Estes abandonaram a região e desceram para Caxangá, no baixo Itapemirim dando origem ao povoamento da foz deste rio hoje Vila de Itapemirim Ainda no final do Século XVIII novas descobertas foram tentadas na mineração aurífera e em 1780 um explorador denominado Bueno, descobriu terrenos auríferos à margem direita do rio Manhuaçu(234).

 

NOTAS

(217) João Lúcio de Azevedo — Época de Portugal Econômico.

(218) Galanti — História do Brasil.

(219) João Lúcio de Azevedo — Época de Portugal Econômico.

(220) José Teixeira de Oliveira - História do Estado do Espírito Santo.

(221) Expansão Territorial e Povoamento do Brasil.

(222) P. Serafim Leite - Novas Páginas da História do Brasil.

(223) R Serafim Leite - História da Companhia de Jesus no Brasil - 6. vol.

(224) P. Serafim Leite - História da Companhia de Jesus no Brasil - 6° vol.

(225) Carta ao Rei de Antonio de Azeredo Coutinho a 12 de junho de 1647 — Cx. n.° 1 — ES — Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa — Portugal.

(226) Carta do P. Luís de Siqueira ao Rei a 14 de outubro de 1646 — Cx. n.° 1 — ES — Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa — Portugal.

(227) Carta Patente de Afonso VI de 11 de maio de 1660 — Cx. n.° 1 — ES — Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa — Portugal.

(228) Carta Patente de Afonso VI de 19 de maio de 1664 — Doc. n.° 1.061 — Cx. n.° 1 —ES — Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa — Portugal.

(229) Carta Patente de Pedro II de 23 de dezembro de 1683 — Cx. n.° 1 — ES — Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa — Portugal.

(230) José Teixeira de Oliveira — História do Estado do Espírito Santo.

(231) Carta de Carta de Pedro Bueno Cacunda a 8 de setembro de 1734 — Doc. n.° 8.599 — Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa — Portugal.

(232) Histórico Ultramarino, Lisboa — Portugal.

(233) Carta do Vice-Rei em 1738 — Cx. n.° 1 — ES — Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa — Portugal.

(234) Rubim — Memórias.

 

Fonte: Espírito Santo: História, realização Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES), ano 2016
Coleção Renato Pacheco nº 4
Autor: João Eurípedes Franklin Leal
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2018

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