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Espírito Santo, um Estado rico

Entre o mar e as montanhas por aí caminha a civilização capixaba

Um Estado tropical, bom de chuva, mais quente do que frio. Rios curtos e estreitos, mas numerosos. Solos predominantemente de baixa qualidade. Relevo muito acidentado, do mangue às montanhas, passando por tabuleiros e restingas. Subsolo rico em gás, petróleo e pedras de bom valor comercial na construção civil. Eis um retrato resumido da realidade geográfica do Espírito Santo, de acordo com alguns especialistas consultados por A GAZETA. A intensa exploração dos recursos naturais do Estado já provocou alterações significativas nesse quadro. A cobertura vegetal, por exemplo, foi drasticamente cortada, abrindo caminho à erosão dos solos, como se pode ver no levantamento apresentado nestas duas páginas.

Águas

Doze bacias, mas o rio Doce é o maior

O Espírito Santo abriga doze grandes bacias hidrográficas. Formam-nas os rios ltaúnas, São Mateus, Doce, Riacho, Piraqueaçu, Reis Magos, Santa Maria, Jucu, Benevente, Rio Novo, Itapemirim e Itabapoana. Duas dessas bacias, a do rio Doce e São Mateus, nascem em Minas Gerais. A do ltabapoana divide os Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Além das doze grandes bacias, o Espírito Santo tem ainda as chamadas microbacias, que são cursos d'água menos expressivos, formados dentro das maiores. Mais de 1.500 já foram avaliadas e estão servindo como base de trabalho governamental na área agrícola. Apesar de não ter quedas d'água no Espírito Santo, o rio Doce possui volume de água significativo. O livro Geografia do Espírito Santo lembra que em 1974 foi construída uma usina hidrelétrica em frente à vila de Mascarenhas, em Baixo Guandu. Sem corredeira ou cachoeira, a barragem cria artificialmente a queda d'água. Já o rio Santa Maria, que nasce a uma altitude superior a 1.000 metros, apresenta uma série de cachoeiras. As duas principais que existiam no rio, uma no município de Santa Maria de Jetibá e outra em Santa Leopoldina, foram aproveitadas para a construção das usinas de Rio Bonito (1960) e Suíça (1965). O rio Jucu, que abastece de água os municípios de Cariacica, Viana, Vila Velha e a ilha de Vitória, tem no braço sul uma pequena usina, próxima à divisa com o município de Viana. Foi inaugurada em 1909, no mesmo dia em que as ruas de Vitória eram iluminadas por energia elétrica. Entre as demais bacias, a do rio Itapemirim é a mais aproveitada, contando com a pequena usina de Fruteiras, cuja construção foi iniciada no governo de Jerônimo Monteiro (1908-1912). Situa-se próxima a cidade de Cachoeiro de Itapemirim.

Clima

Tropical, mas frio nos montes

 Ao redor de 80% do território capixaba possuem clima tropical, com duas estações de chuva bem definidas. De setembro a março é o período chuvoso e, de abril a agosto, a época da seca. A pluviosidade varia de 750 a 2.000 milímetros por ano, ficando a média entre 1.000 e 1.200 milímetros. Em geral, chove menos na região Norte do que no Sul.

As zonas serranas do Centro e do Sul do Estado, com até quase 300 metros de altitude, criam nessas regiões um clima mais ameno, com maior índice e chuvas. Nas zonas baixas, a temperatura média anual é superior a 22°C, configurando o clima tropical. Nas regiões mais altas do interior, o clima mais ameno é comumente chamado de tropical de altitude. Em algumas cidades, como em Domingos Martins e Santa Teresa, a temperatura média mensal pode ser até inferior a 17°C, em julho (mês mais frio). Nessas regiões cultivam-se produtos típicos de clima temperado como o alho e o morango.

Cícero Moraes, em seu livro Geografia do Espírito Santo, afirma que, de forma simplificada, os climas capixabas podem ser definidos em função das altitudes. Isso se deve à localização geográfica (Estado marítimo) e à forma alongada do território, estreito no sentido Leste Oeste, alto no interior e baixo na costa. Assim, a estação seca, na região litorânea, ocorre no outono-inverno.

Petróleo

O mar melhor do que a terra

O Espírito Santo também é rico em petróleo e possui reservas de 13 bilhões de barris (cada barril contém 159 litros) de óleo e 2,5 bilhões de metros cúbicos de gás, medidos em junho deste ano. Na região de São Mateus, a produção total acumulada desde 1974 a setembro último atingiu 86 milhões de barris de óleo e 2 bilhões de metros cúbicos de gás. A informação é do superintendente da Petrobrás divisão do Espírito Santo, Luiz Amauri Rediguieri. Isso representa 50% do consumo de derivados em terras capixabas e 2% da produção nacional. A produção de petróleo gerou para os cofres estaduais cerca de US$ 3,7 milhões em royalties (indenização paga pela extração) somente no ano passado. Em 92, até setembro, US$ 2 milhões foram pagos pela Petrobrás de royalties. Rediguieri informa que o óleo produzido no Estado é destinado às refinarias de Minas e São Paulo. O gás é vendido para a Companhia Vale do Rio Doce, Aracruz, Ornato, Companhia Siderúrgica de Tubarão, Logasa e Cimento Paraíso.

História

A existência de petróleo no Norte do Estado foi confirmada no dia 15 de agosto de 67, entre os municípios de São Mateus e Conceição da Barra. Hoje, passados mais de 25 anos, o Espírito Santo produz 12,5 mil barris por dia, extraídos de campos terrestres e marítimos, além de 665 mil metros cúbicos de gás por dia. Segundo a Petrobrás, a vazão média de óleo por poço em terra é a mais alta de todo o Brasil. Toda a bacia já foi pesquisada, mais de mil poços foram perfurados. Se a produção em terra tem poucas possibilidades de crescimento, as características geológicas da costa capixaba têm boas perspectivas, consideradas idênticas às da bacia de Campos, maior produtor nacional de petróleo.

Solos

Sem florestas, cada vez mais pobres

Cerca de 65% dos solos do Espírito Santo são formados de latossolos, que apresentam boas características físicas, resistência à erosão e baixa fertilidade — mais baixa no tabuleiro litorâneo, de formação terciária, do que nas terras montanhosas (pré-cambrianas). Segundo Humberto Nunes de Moraes, presidente da Sociedade Espírito-Santense de Engenheiros Agrônomos, a qualidade dos solos capixabas acompanha bastante as variações do relevo, que apresenta três áreas distintas:

• a planície litorânea, com solos arenosos, encharcados às vezes;

• o tabuleiro, plano ou suavemente ondulado, geralmente de 30 a 100 metros de altitude, onde predominam os latossolos;

• a parte acidentada, montanhosa, do interior, onde aparecem os latossolos e outros grupos de solos em proporção menos significante. A baixa fertilidade do latossolo gera a necessidade de complementação de fertilizantes químicos e orgânicos. Para Humberto, as culturas parenes, como café e banana, têm melhor adaptação a esse tipo de solo. Com suplementação da fertilidade, o latossolo permite outras culturas anuais e temporárias, como feijão, milho e horticultura, gerando mais alternativas de renda e trabalho. Já na região do litoral, os aluviões, formados às margens de cursos d'água, têm elevado índice de fertilidade.

Se o latossolo é resistente à erosão, por que o solo capixaba vem sofrendo esse tipo de degradação? O engenheiro agrônomo explica que a exposição do solo, pelo desmatamento, fez com que a terra ficasse mais suscetível à erosão, principalmente nas regiões mais elevadas, com grandes declividades. Ele calcula que cerca de 80% do solo espírito-santense têm problemas de erosão.

Subsolo 

Milhões de pedras

A maior reserva de mármore do Brasil está no Espírito Santo, mais especificamente em Cachoeiro de Itapemirim e Castelo. Ela tem 253 milhões de metros cúbicos. Dela são extraídos mensalmente 12 mil metros cúbicos, o que perfaz 80 por cento da produção brasileira hoje. O superintendente do Centro Tecnológico do Mármore e do Granito, Denilson Carvalho, revelou que cerca de quatrocentas empresas exploram vários tipos de minerais e rochas no Estado, dando oportunidade de emprego direto a mais de 12 mil pessoas. De uma maneira geral, mais de 50 mil pessoas vivem hoje da atividade.

A maior parte das reservas conhecidas está em território cachoeirense, com 245 milhões de metros cúbicos. O resto se encontra em Castelo, nas localidades de São Cristóvão e Fazenda Prata. Ali se produz o tipo branco, conhecido por Branco de São Cristóvão.

As jazidas capixabas contêm mármore com calcário, calcita e calcário dolomítico. A base dos mármores de Cachoeiro de Itapemirim são calcita, dolomita, sílica e acessórios, como o diopsídio e a atremolina, que dão coloração verde; a flogopita, a siderita e a muscovita, que dão coloração marrom-chocolate, a champagne e óxidos de manganês e magnesita, que influenciam a cor rosa.

A reserva conhecida de granito ornamental (inclusive o destinado a britagem) no Espírito Santo está estimada em 174,7 milhões de metros cúbicos. Este mineral é encontrado em todo o território capixaba, mas a maior reserva se situa em Mimoso do Sul, com 77,7 milhões de metros cúbicos. A extração de granitos vem diminuindo no Espírito em virtude da abertura de novas fontes extratoras em outros Estados. Mesmo assim, são extraídos atualmente 15 mil metros cúbicos por mês, inclusive em novas frentes abertas ao Norte do Estado.

O granito de cor cinza é predominante e suas variações (que podem chegar a 150) são significativas. Os tipos mais valorizados no mercado são o juparanã, o amarelo, o preto, o verde e o rosa-vermelho.

 

Fonte: Os Capixabas, A Gazeta 14/12/1992
Pesquisa e textos: Abmir Aljeus, Geraldo Hasse e Linda Kogure
Fotos: Valter Monteiro, Tadeu Bianconi e Arquivo AG
Concepção gráfica: Sebastião Vargas
Ilustração: Pater
Edição: Geraldo Hasse e Orlando Eller
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2016

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