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Gengibre - Por Elmo Elton

Vitória antes da construção do Caís do Porto - 1936

Em Vitória, antes da construção do cais do porto, os navios ficavam ancorados na baía, então belíssima. Os passageiros desciam por escada e tomavam botes que os traziam à cidade. Era uma alegria a chegada desses navios, com os catraieiros, ali, ao pé da escada, a acenar para os tripulantes e passageiros, disputando uns com os outros maior número de fregueses, já que em cada bote cabiam de dez a doze pessoas. Foi assim, que, aqui ancorado navio procedente do norte, um catraieiro, no afã de completar a lotação de seu bote, pôs-se a acenar para determinado passageiro, homem galanteador, mais preocupado com as mulheres presentes a bordo do que mesmo em desembarcar em Vitória, onde passaria a residir. Tal passageiro, do alto do convés, fazendo sinais com a mão, dizia ao catraieiro, já impaciente, que o esperasse mais um pouco, que desceria sem demora, mas tanto foi adiando o desembarque, que, afinal, o dono da catraia rumou para o cais, antes gritando:

- Espero mais não, seu mão de gengibre, que sou catraieiro e não seu criado. Bote, agora, só se essa sua mão de gengibre me pagar o preço correspondente a dez viagens.

O barqueiro, de volta ao cais, narrou aos colegas o ocorrido, decidindo-se, então, que nenhum deles retornaria à escada do navio, senão horas após, de forma que, quando o passageiro de mãos aleijadas, dedos pequenos, mais parecendo caroços do que dedos, pôs pé em Vitória, vaiou-o o cais inteiro:

- Mão de gengibre, mão de gengibre, nortista filho da puta.

O homenzinho virou fera, foi à delegacia de polícia reclamar sobre o ocorrido, esbravejou contra a falta de educação do povo da cidade, os jornais noticiando, dia seguinte, com indisfarçada ironia, a propósito do desembarque de seu Gengibre.

Daí, então, todos, todos queriam conhecer o novo morador de Vitória, ver de perto o defeito de suas mãos, suas mãos de gengibre (a molecada dizia gengibe), não tardando, assim, que o cidadão molestado, vindo para morar definitivamente em Vitória, pedisse transferência de emprego para o Rio, "cidade grande, civilizada, e não como esta porcaria de Vitória.”

Gengibre, já popularíssimo em toda a cidade, após saído daqui, ficou, para sempre, na lembrança dos frequentadores do mercado da Vila Rubim, local onde se tornou maior o consumo da "cachaça com gengibre". Também os mais sovinas, os de mãos fechadas (o pão-duro), esses passaram a ser, sobretudo para os catraieiros, os mãos de seu Gengibre, como ainda hoje se diz.

 

Fonte: Velhos Templos e Tipos Populares de Vitória - 2014
Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter Aguiar Filho, fevereiro/2019

Literatura e Crônicas

Contos de Surfe - Por Paulo Marreco

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Paulo Marreco surfa há mais de 25 anos. Desde 2007, mantém uma coluna no maior portal de surfe do Espírito Santo, onde escreve contos e crônicas que retratam o universo do surfe 

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