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Homenagem de Renato Pacheco para Heribaldo Balestrero

Heribaldo Lopes Balestrero - Obra completa relançada em 2012

Em minha mocidade (e já lá se vai meio século), talvez por ter ingressado no magistério aos 17 anos, ou, muito provavelmente por minha eleição precoce para a Academia Espírito Santense de Letras e Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, convivo, prazerosamente, e tornei-me amigo dos maiores intelectuais vitorienses, quase sempre, no mínimo, dez anos mais velhos do que eu: Guilherme Santos Neves, Ceciliano Abel de Almeida, Christiano Ferreira Fraga, Nelson Abel de Almeida, Euripedes Queiroz do Valle, Alberto Stange Júnior, Eugênio Sette, José Leão Nunes, Kosciuszko Barbosa Leão, Nilo Martins da Cunha, Ivo Amâncio de Oliveira, são alguns nomes, entre muitos, de que me lembro com saudade.

Entre estes nomes, posso incluir, também o do historiador HERIBALDO LOPES BALESTRERO, com o qual, embora em contatos menos frequentes, em virtude de morar ele na vizinha cidade de Viana, mantive boa e cordial amizade.

Reverentemente, estamos comemorando, hoje, o centenário de nascimento desse ilustre membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espirito Santo, no qual tomou posse em 21 de abril de 1958, e da Academia Espírito Santense de Letras, em que ocupou a cadeira número 5, cujo patrono é o Professor Amâncio Pereira, e 2° ocupante seu digno filho Professor Heráclito Amâncio Pereira. Atualmente seu sucessor na Academia é o não menos ilustre historiador Levy Rocha.

Heribaldo Lopes Balestrero nasceu em Viana, em 28 de abril de 1889, filho da Professora D. Ana Lopes Balestrero e do agricultor Sebastião Alberto Balestrero. Fez seu curso primário com as professoras Otávia Simões e Odila Loreto, e também com o famoso professor João Pinto Bandeira. Iniciou o 2° grau de 1917, no Ginásio Espírito Santense, então sob a direção do Padre Elias Tommazi, concluindo-o no Ginásio Paes de Carvalho, em Belém do Pará, no ano de 1922.

Foi correto servidor do Ministério da Fazenda, por 35 anos, na condição de Coletor Federal, e pode dizer-se nunca funcionário algum o ultrapassou em diligência e honestidade.

Teve quatro amores na vida: a Igreja Católica Apostólica Romana, de que era seguidor fiel e sem mácula; sua família, que lhe deu filhos e filhas dedicados, a cuja frente destaco o Monsenhor Romulo Balestrero e demais filhos Romilda Neves Balestrero de Oliveira, José Neves Balestrero, Maria Celeste Balestrero Zanandréia, Therezinha de Jesus Balestrero e Zelia Neves Balestrero; a pesquisa da geografia e história do Espírito Santo; e sua caríssima cidade de VIANA.

Sobre sua terra natal publicou seu 1° grande livro, intitulado modestamente Subsídios da História e Geografia do Município de Viana, Vitória, 1951, numa época em que, com exceção de Antonio Marins, Domingos Ubaldo Ribeiro e Frederico Muller, não há muitos registros de história regional, em nosso Estado.

Nesta obra traça a evolução do pequenino burgo, antiga Fazenda do Borba do Coronel de Milícias Inácio Pereira Carneiro, o construtor da estrada para as Minas Gerais, situada a cerca de 20 km da ilha de Vitória. Lá foram divididas 50 sesmarias, de 112 braças de testada e 500 braças de fundo, onde se fixaram 50 casais de açorianos, vindos para o Brasil dentro da nova política imigratória de Portugal, sob as ordens do Desembargador do Paço e Intendente de Polícia Paulo Fernandes Viana, CUJO nome (corno é de praxe nestes brasis) foi dado à nova colônia.

Viana, às margens do rio Santo Agostinho, afluente do Jucu, foi a primeira colônia imperial criada no Espírito Santo, e tanto influência teve no desbravamento das montanhas centrais do nosso Estado.

Balestrero traça, com mão de mestre, a evolução daquela colônia, que contava com o apoio do Governador Capitão de Mar e Guerra Francisco Alberto Rubim. Aos colonos além dos terrenos, foram doadas casa, ferramentas, carros e bois ou cavalos. Construi-se Capela dedicada à Conceição da Santíssima Virgem — Nossa Senhora da Conceição sendo seu primeiro capelão Frei Francisco do Nascimento. Da vila que se criou é que partia a Estrada do Rubim, que depois da independência se chamou D. Pedro de Alcântara, e demandava a serra do Caparaó e as Minas Gerais.

Conquanto Maximiliano Von de Wied Neuwied, em 1817, tenha colhido muitas reclamações dos moradores, o povoamento e a produção agrícola foram num crescendo Em 1824 havia apenas 287 habitantes, ao passo que em 1871 já eram cerca de cinco mil almas vivendo nos chamados "sertões de Santo Agostinho".

Em 13 de julho de 1895 Viana ganhou grande melhoramento, que foi a inauguração da E. F. Sul do Espírito Santo (depois E. F. Leopoldina Raiway) ligando-a à estação de Argolas, no continente, fronteira à Capital.

Se esta digressão fiz, foi porque me abeberei no ensinamento de Heribaldo Balestrero num livro de tanta informação preciosa. Também, para ressaltar que de 1963 a 1967 nosso homenageado foi Prefeito Municipal de Viana.

Em 1976, Balestrero publicou a meu ver seu mais importante livro Povoamento do Espírito Santo (a marcha e penetração do território). Li-o, com admiração e respeito, pela massa documental ali inserida, especialmente no que concerne às nossas sesmarias e às estradas de penetração em nosso território.

Três anos depois, publicou A obra dos jesuítas no Espírito Santo (Vitória, 1979) livro caro a seu coração católico.

Ao falecer, em 1986, deixou inédito o livro Evolução política do Espírito Santo, obra a que não tive acesso, mas que, estou que, se publicada hoje (e faço este juízo com base nos títulos anteriores) traria interessantes subsídios para o conhecimento da história do poder, em nossa terra.

Fui companheiro de Heribaldo Lopes Balestrero, tanto no Instituto quanto na Academia. Baixinho, simples, sempre em seus ternos de brim claro, simpático, um sorriso aos lábios, nunca lhe ouvi uma palavra maldosa, uma crítica a qualquer. Quando em sua doença terminal, visitei-o, em companhia de Guilherme Santos Neves, em sua casinha modesta de Viana, de cuja rua se avistava a bela Igreja centenária, no alto do morro. Lá, como cá era o mesmo homem encantador, confiante em Deus. Ou como disse Nelson Abel de Almeida ao saudá-lo quando de seu ingresso no Instituto Histórico:

"Homem de fé, chefe de família exemplar, não sois, Sr. Heribaldo Lopes Balestrero, do grupo daqueles que vivem a se lamentar da sorte e do destino. Não; assim não procedeis, porque sois um homem "que vive a agradecer ao Altíssimo as bênçãos que lhe tem prodigalizado, fazendo-o chefe de familia honrada e digna".

Por tudo isto, devemos, neste momento, render homenagem sincera a este cidadão exemplar, nosso companheiro de lutas, historiador autodidata dos melhores que tivemos neste século, o qual, na modéstia do seu ser, construiu um patrimônio indelével, feito com alicerce do amor, uma obra sólida de pesquisa que o dignifica, nobiliza as instituições culturais a que pertenceu, e mais que tudo honra a terra capixaba.

Vitória, 28 de abril de 1999.

 

 

Revista do Instituto Histórico e Geográfico do ES – N° 52
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2014 

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