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Ida ao Rio Doce - Imigração Americana

Capa do Livro: Nossa Vida no Brasil (IMIGRAÇÃO NORTE-AMERICANA NO ESPÍRITO SANTO 1867-1870) - Autor: Julia Louisa Keyes - Tradutor: Célio Antônio Alcântara Silva

Outra imagem dos imigrantes, e de sua bagagem, é apresentada. Eles permanecem sobre o molhe, enquanto um elegante vapor é ancorado, pronto para levá-los para seu novo lar.

A palavra “doce”, em português, é usada pelos brasileiros para doces, bolos ou qualquer coisa preparada com açúcar. O Doce é a região para onde nosso grupo de imigrantes estava indo, situada no rio Doce, na Província do Espírito Santo, a cerca de 480 quilômetros acima do Rio de Janeiro. Disseram-nos que suas vantagens aos americanos eram maiores que qualquer outra porção do país, as terras sendo obtidas do governo, a preços baixos, a serem pagas no futuro, colheitas de todos os tipos sendo facilmente obtida, área salubre. Tudo desejável. Um navio a vapor seria colocado no rio Doce, em duas semanas, o qual nos poria em comunicação direta com o Rio de Janeiro.

Citaremos alguns dos “Favores aos Imigrantes” estipulados.

“O governo irá vender terras em quaisquer de suas colônias, ou nas localidades que os imigrantes preferirem; e lhes dará transporte gratuito do Rio de Janeiro ao porto ao qual eles desejam proceder.

A partir da escolha das terras e sendo feita a mensuração, os títulos definitivos das terras serão entregues aos proprietários sob pagamento do preço de venda de 1 a 2 réis por braça quadrada.

Os proprietários das terras compradas do Estado estão submetidos aos ônus seguintes: 1º, a cederem as terras necessárias para estradas; 2º, a darem livre trânsito aos seus vizinhos na estrada pública, cidade, ou porto de embarque; 3º, permitir o fluxo de água não utilizada; e 4º, submeter a descoberta de quaisquer minas à legislação que governa a matéria.

Sobre naturalização – imigrantes que comprarem terras e se estabelecerem no Brasil poderão tornar-se cidadãos brasileiros após dois anos de residência. Sob requisição ao Legislativo, entretanto, poderão obter dispensa desse lapso de tempo e serem naturalizados logo após sua chegada.

Uma declaração feita à Câmara Municipal, ou ao Juiz de Paz, mencionando o país de nascimento, a idade e o estado civil são as formalidades requisitadas para permitir aos candidatos obterem, gratuitamente, os papéis de naturalização, após a realização do juramento de lealdade à Constituição e às leis do Império.

Cidadãos naturalizados são eximidos do serviço militar, mas estão sujeitos ao serviço da Guarda Nacional da municipalidade à qual pertencem. Eles desfrutam de todos os direitos e privilégios conferidos pela Constituição, exceto os de serem Deputados, Ministros de Estado, ou Regentes do Império.

Estrangeiros desfrutam no Brasil de todos os direitos civis garantidos aos nativos. Eles também possuem liberdade total no exercício de qualquer atividade que não prejudique a outra parte; asilo inviolável em

suas casas; garantias de sua propriedade, seja material ou intelectual; tolerância completa em matéria religiosa; inviolabilidade de sua correspondência postal; e educação primária gratuita.

O governo do Brasil é estável. Suas leis e autoridades protegem a todos, sem distinção de classes; e a separação da justiça civil e criminal

é feita com igualdade.”

Em navio a vapor, a viagem ao Doce (como nossa colônia foi chamada) é curta. Em linha reta, Vitória fica a cerca de 416 quilômetros do Rio de Janeiro; a foz do rio Doce fica cerca de 112 quilômetros além.

Pela rota do vapor, a distância seria de cerca de 512 quilômetros até Vitória e mais 128 quilômetros até a foz do rio. O navio a vapor, que o governo intentava nos ceder, mas que nunca o fez, levar-nos-ia rio acima, a uma distância de 48 quilômetros, e nos deixaria na vila de Linhares, onde o Coronel Gunter estava. Essa promessa foi feita pelo Imperador ao Coronel Gunter e, não fosse pela Guerra do Paraguai, supomos que teríamos o desejado vapor.

Estávamos indo àquela vila brasileira, e lá ganhamos tamanha experiência que nunca poderíamos ter aprendido de qualquer outra forma. Um amigo, que ainda nos escreve do Brasil, disse para um membro de nossa família: “Eu não acho que você deva reclamar ter que renovar, ocasionalmente, sua experiência no rio Doce. Para o caráter poder ser bem desenvolvido devemos ver mais do que um lado da vida. Alegrias, tristezas, sofrimentos e conforto devem ser todos combinados; vicissitudes devem ser numerosas e variadas, de outra forma, a mente ficará carregada de preconceitos e incapaz de apreciar quaisquer coisas além de um círculo muito estreito.”
 

 

Fonte: Nossa vida no Brasil – Imigração Norte-Americana no Espírito Santo 1867-1870
Autora: Julia Louisa Keyes
Tradução e notas: Célio Antônio Alcântara Silva
Publicação: Arquivo Público do Espírito Santo, 2003

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