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Imprensa e cidadania – Por Setembrino Pelissari

Sob as ordens de Chiquinho

O DIÁRIO não foi a minha primeira experiência em jornal. Comecei trabalhando em A Gazeta, quando era da UDN e dirigida pelo Dr. Olympio de Abreu, um político de Mimoso do Sul. Depois, A Gazeta foi vendida para o Dr. Carlos Lindenberg, do PSD. Como eu era de oposição a esse partido, parei de escrever no referido jornal.

Quando Dr. Chiquinho terminou seu primeiro mandato como governador do Estado, nós, que o apoiávamos e que participávamos do seu Governo (eu havia me formado em direito mas não advogava, porque era secretário particular dele), sentimos a necessidade de ter um jornal próprio. Era necessário defender o seu Governo, tendo em vista que havíamos perdido a eleição para o PSD, que voltava ao Palácio Anchieta agora com a eleição de Carlos Lindenberg.

Ao mesmo tempo, era necessário um jornal para sustentar a campanha pelo retorno de Dr. Chiquinho ao Governo, campanha essa que começou praticamente no mesmo dia em que ele deixou o Palácio Anchieta, quando fomos para Cachoeiro inaugurar uma obra que ele tinha realizado lá: a avenida que leva o seu nome e que liga a cidade à rodovia federal. Sentimos necessidade de ter um jornal para sustentar essa campanha e esse jornal foi O DIÁRIO, que passou a ser do Dr. Chiquinho.

Eu administrava o jornal 24 horas por dia, numa época em que os recursos para sua manutenção eram difíceis de conseguir. Chegamos, inclusive, a ter que andar com um "livro de ouro", pedindo dinheiro aos amigos e companheiros de partido, muitas vezes para comprar o papel no qual seria impressa a edição do dia seguinte. Era uma situação curiosa: sempre que estávamos em falta de papel para editar o jornal do dia seguinte, nos socorríamos exatamente do jornal oposto a nós, A Gazeta. Seu gerente era Eugênio Queiroz, e ele não misturava as coisas. Ele dizia: "Aqui somos colegas de imprensa, e então vamos nos ajudar".

A empresa estava em meu nome e em nome do filho do Dr. Chiquinho, o Renato Aguiar. Éramos proprietários das cotas. Eu nunca dirigi de fato O DI-ÁRIO, mas compunha um conselho de redação em que o diretor era o Plínio Marchini, e depois foi o Esdras Leonor.

Eu também escrevia, só não assinava. Escrevia sobre política e dava a orientação editorial. Dizia o que podia ou não ser feito, já que éramos um jornal partidário.

Isso era feito com muita tranqüilidade, porque tínhamos um extraordinário diretor, que era o Plínio, um jornalista de primeira linha cujos editoriais geralmente causavam grande repercussão. Quando terminou o mandato do Dr. Chiquinho, me afastei do jornal e fui exercer o cargo de prefeito de Vitória.

Também passou pelO DIÁRIO uma figura que hoje está no Governo, o Rogério Medeiros, cujo pai foi um dos líderes da Coligação Democrática e cujo tio, o general Carlito Medeiros, foi presidente da Coligação.

Este depoimento pode ter falhas porque lá se vão 40 anos. Mas quero ressaltar para os novos jornalistas e para toda a população a importância daquele jornal na época, quando ajudou não só a formar uma mentalidade política e de cidadania, mas também uma gama de jornalistas que venceram em outros jornais, começando num lugar pobre como a redação dO DIÁRIO, onde redigíamos ouvindo o barulho da linotipo. Aliás, quero registrar o nome de dois linotipistas da época: o Army e o Alemão, além do Dequinha, que era o paginador, e do Benedito, que era o impressor...

Eram homens que literalmente faziam o jornal, pois O DIÁRIO não era impessoal. Esse pessoal que trabalhava lá era reconhecido na rua. Fazer o jornal era uma epopéia que se vivia a cada edição. Mas fazíamos tudo por amor à causa. Foi compensador.

 

Fonte: O Diário da Rua Sete – 40 versões de uma paixão, 1ª edição, Vitória – 1998.

Projeto, coordenação e edição: Antonio de Padua Gurgel

Autora: Fernando Jakes Teubner

Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2018

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