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Indústrias, a engrenagem do progresso

Vista da Usina Paineiras, que utilizava serviços da navegação fluvial, com rebocador e pranchas, para o transporte de cana

Ao longo do período colonial, foram surgindo no Espírito Santo pequenas fábricas e indústrias que supriam as necessidades básicas da população. Eram indústrias artesanais que produziam tecidos grosseiros, ferramentas, açúcar, telhas, tijolos, farinha de mandioca, cigarros, velas, baús, sabão, colchões, selas, licores, aguardente, gêneros alimentícios. O isolamento em que vivia a população e a grande distância da Metrópole contribuíam para o aparecimento dessas indústrias. Algumas cresceram mais, como a indústria açucareira, a de farinha de mandioca, a de tecidos. Estes eram bastante grosseiros e destinados sobretudo ao uso dos escravos e da população mais carente, havendo a exportação do excedente.

A população podia contar também com os serviços de relojoeiros, carpinteiros, seleiros, ourives, sapateiros, marceneiros, alfaiates, afinadores de piano, ferreiros, entalhadores, douradores.

Com a instalação da República e a promulgação da Constituição de 1891, os Estados passaram a ter direito de contrair empréstimos no exterior, de decretar impostos sobre a importação e exportação e de absorvê-los.

O processo de industrialização do Espírito Santo teve inicio no governo de Jerônimo Monteiro (1908-1912), que tomou medidas importantes visando a incentivar o estabelecimento de indústrias: concedeu isenção de impostos, fez vários tipos de concessão, doou terrenos, forneceu gratuitamente energia elétrica. Teve a preocupação de abrir novas fontes de renda para o Estado, sujeito até então às incertezas da monocultura cafeeira, com suas oscilações de safra e variações de preço no mercado internacional.

Jerônimo Monteiro não teria conseguido executar o seu programa de governo se não tivesse encontrado as finanças do Estado saneadas pelo seu antecessor, Henrique da Silva Coutinho (16/06/1904 a 23/05/1908). Em 1907, o Presidente Coutinho, diante da queda dos preços do café, da grave crise econômica que o Estado atravessava e dos compromissos assumidos para a construção da Estrada de Ferro Sul Espírito Santo, resolveu privatizar essa ferrovia e a Estrada de Ferro Caravelas. Essas operações foram realizadas por Jerônimo Monteiro, então procurador Estado, e viriam a beneficiar seu próprio governo.

Jerônimo Monteiro teve também o apoio permanente do Congresso Legislativo.

Durante seu governo, o Vale do Itapemirim foi transformado em parque industrial do Estado, com energia fornecida pela hidrelétrica construída no Rio Fruteiras. Lá se instalaram a fábrica de tecidos, em Cachoeiro de Itapemirim, que aproveitava a boa produção de fibras têxteis do Sul do Estado; uma grande usina de açúcar; uma fábrica de cimento; de papel; outra de óleo; e uma grande serraria, todas localizadas no Vale do Itapemirim.

A Usina de Açúcar de Paineiras tinha a tecnologia mais avançada do País. Em Vitória, foi implantada uma fábrica de tecidos, em Jucutuquara.

Diversas indústrias implantadas no governo de Jerônimo Monteiro faliram por carência de condições básicas para seu desenvolvimento: mão-de-obra especializada, mercado, matéria-prima, capital. Não obtiveram muito sucesso medidas tomadas pelo seu governo, dando maior autonomia ao setor privado para aliviar o Estado de pesados encargos financeiros. Ao implantar essas indústrias, seu Governo interveio diretamente no processo. procurando depois transferir para particulares as fábricas do Vale do Itapemirim, tendo tomado medidas para a privatização ou arrendamento.

Em 1911, criou o Banco Hipotecário e Agrícola do Espírito Santo (mais tarde denominado Banco do Espírito Santo, hoje Banestes), com duas carteiras de operações: agrícola e geral. Depois disso, transferiu para o Banco a concessão de créditos para a construção de fábricas no Estado.

A deflagração da Primeira Guerra Mundial e o fechamento de portos europeus ao País contribuíram para agravar a situação. Faltaram peças para as fábricas de cimento e papel e para a construção da linha férrea de transporte de calcário. A fábrica de óleo deixou de funcionar por falta da matéria-prima. A queda do preço da madeira industrializada interrompeu os trabalhos da Serraria Industrial.

As indústrias têxtil e de açúcar e de álcool tiveram sorte melhor. O açúcar era consumido em grande parte pelo comércio local e sua produção se expandiu porque, estando o café em baixa, muitos agricultores resolveram substituí-lo pela cana. Além disso, a Usina Paineiras foi localizada numa região tradicionalmente canavieira, com terrenos impróprios para a plantação de café. Mesmo pequenos agricultores com culturas diversificadas e criação de gado, com a instalação da usina passaram a plantar quase que exclusivamente cana, que tinha um comprador certo.

Duas novas usinas de açúcar surgiram no final da Primeira Guerra Mundial: a Usina Cascata, inaugurada em 1918, e a Usina Jabaquara, em 1919. Entretanto, o café continuaria a ser a maior fonte de renda do Estado. Em 1918, ele contribuía com 60% para a receita total do Espírito Santo. Exportavam-se também, nesse mesmo ano, madeiras, feijão, farinha, milho, tecidos, areias monazíticas, couros, arroz e açúcar.

Na década de 1920, a Fábrica de Tecidos de Cachoeiro de Itapemirim foi arrendada à firma Ferreira Guimarães e Cia. Sua produção de tecidos de algodão chegava a quase 2 milhões de metros por ano, dos quais 1.600.000 eram exportados. Possuía então 161 teares e empregava 287 operários, sendo 101 homens e 186 mulheres.

Nessa época, surgiram várias pequenas indústrias de material de construção em Cachoeiro do Itapemirim, como a de cal, na Fazenda Aquidabam; de ladrilhos, telhas "francesas", manilhas de cimento, cerâmica, além de uma usina de beneficiamento de café e de produção de meias. O aparecimento dessas indústrias deveu-se, provavelmente, à presença da fábrica de cimento. Em Cachoeiro, na época, existiam algumas pequenas indústrias de mobílias, calçados e tamancos, e uma fábrica de "pios para pássaros", feitos de madeira, que se tornaram tradicionais, sendo fabricados até hoje.

Mas, nessa mesma década, ocorreram mudanças significativas no cenário das indústrias do Estado. No governo de Nestor Gomes (1920-1924), a fábrica de papel de Cachoeiro de Itapemirim, que havia dez anos estava parada, teve o seu maquinário desmontado e vendido. Seu prédio foi aproveitado para a instalação de um estabelecimento de ensino, o Liceu Moniz Freire.

A fábrica de óleo, que estava também parada, foi desmembrada da Serraria Industrial de Cachoeiro de Itapemirim e levada para o barracão da Fábrica Sílico-Calcário, em Vila Velha, que também estava desativada.

Também na década de 20, foi feita uma tentativa de exploração industrial de minerais metálicos a serem retirados das areias monazíticas de Guarapari. Para isso, aqui se instalou a Minière Franco-Brésilienne, que fez importantes investimentos ao norte de Guarapari. Mas, em julho de 29, pouco antes da grande crise internacional, suas atividades cessaram, apesar da crescente demanda do mercado externo pela produção. O fechamento deveu-se à disputa entre a União e o Estado por questões tributárias.

Ainda na década de 20, o Estado fez concessões para a implantação de uma serraria industrial em Ponte de Itabapoana, no Sul.

Apesar desse esforço, o Espírito Santo continuaria, na década de 30, com uma base econômica agrícola, e um dos fatores que mais contribuíam para sua manutenção era a concorrência com Estados vizinhos, mais prósperos e com maior desenvolvimento industrial, como o Rio de Janeiro e São Paulo.

 

Fonte: Jornal A Gazeta, A Saga do Espírito Santo – Das Caravelas ao século XXI – 18/11/1999
Pesquisa e texto: Neida Lúcia Moraes e Sebastião Pimentel
Edição e revisão: José Irmo Goring
Projeto Gráfico: Edson Maltez Heringer
Diagramação: Sebastião Vargas
Supervisão de arte: Ivan Alves
Ilustrações: Genildo Ronchi
Digitação: Joana D’Arc Cruz    
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2016



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História do ES

Introdução do livro Viagens à Capitania do ES

Introdução do livro Viagens à Capitania do ES

Expedições às terras capixabas feitas pelo príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied, em “Viagem ao Brasil” (1820), e pelo botânico e naturalista Auguste de Saint-Hilaire, em viagem por aqui em 1818

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