Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

Maior que o Penedo - Por Miguel Depes Tallon

Diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo - IHGES, 1989 a 1991

Conheci Nilo Martins da Cunha nos idos de sessenta, na velha FAFI, na Jerônimo Monteiro. Nilo era titular da cadeira de História da América e eu, seu aluno. No ano seguinte, como presidente do então Centro de Estudos Históricos, de saudosa memória, recorri a Nilo, para, através de sua amizade, trazer à Vitória o historiador Vicente Tapajós, na época, uma das autoridades de História da América, no Brasil. Lembro-me de que, juntamente com Alvimar Tatagiba e Josafat Costa, eu e Nilo levamos Vicente Tapajós para almoçar uma moqueca, pouco antes de sua palestra, e o resultado não poderia ter sido mais desastroso: Tapajós, que também era chegado a um bom vinho e a uma boa água benta, acabou em tal estado, que quase não consegue proferir a sua palestra.

Depois, na medida em que o tempo foi passando, nossa amizade foi se estreitando, e eu fui verificando a extraordinária figura humana e a notável cultura, principalmente histórica, que se manifestavam em Nilo. E foi através dele, num concurso de títulos, que, com outros dois colegas, ingressei no Departamento de História da Universidade Federal do Espírito Santo, do qual ele era chefe. Ali, ao lado de Renato Pacheco, Léa Brígida Rocha de Alvarenga Rosa, Milton Teixeira Garcia, Ivan Lorenzoni Borgo, Hegner Araújo, Mintaha Alcure, Luís Guilherme Santos Neves, Mário Bonzano, Sérgio Dell Caro, Regina Hees, Sônia Demoner e outros mais, Nilo foi edificando uma obra magnífica, a ponto de, numa pesquisa de caráter nacional, o curso de História ter sido um dos três únicos cursos da Universidade Federal do Espírito Santo a obterem a qualificação de “bom”.

Posteriormente, cansado do lenga-lenga improdutivo dos “engaxaatos” – cruzamento de “engajados” com “xaatos”, com x mesmo, não com ch – aposentou-se. Na época, uma perda lamentável para o Departamento, que sequer tentou demovê-lo da idéia.

Aposentado, foi ajudar Renato Pacheco na assessoria jurídica do Tribunal de Justiça, onde a doença o colheu irremediavelmente.

Mesmo enfermo, prosseguiu em seu trabalho, no Tribunal, afastando-se, porém, da tesouraria do Instituto Histórico e Geográfico, onde deixou sua marca de homem sério, metódico, organizado e operante.

Até onde pôde resistiu. Mas, nos últimos tempos, teve também de se afastar da assessoria jurídica do Tribunal de Justiça, permanecendo em casa, em sua incansável luta pela vida.

Quando, algum tempo atrás, fui visitá-lo, com Renato, Léa e Milton, tive a impressão de que iria vencer a sua luta contra a morte. Disse aos amigos, impressionado com sua fibra, que dessa ele escapava. A imagem que dele tive naquele momento – e é exatamente a que guardo e a que tenho neste instante – é a de um gigante lutando com todas as suas forças, pela vida, exatamente porque para ele viver foi sempre uma alegria.

Dias depois me disseram que seu estado piorara. Renato, Léa e Luis Guilherme me chamaram para visitá-lo. Disse que não podia. Mas não era verdade. Na realidade, quase como numa premonição, pressentia o seu fim, e dele não queria ser testemunha. Muito antes pelo contrário, a imagem sua que queria guardar era a de quando o visitara: a de um bravo guerreiro da vida, que, até onde fosse possível, não daria quartel à morte, acuando-a com seu enorme porte de gigante. É essa a imagem que guardarei como homenagem a esse homem que não morreu, mas que, como no Tao, concluída a sua obra, simplesmente se recolheu como só o sabem fazer os filósofos e poetas de vida – gente da estatura de um Ávila Júnior, de um João Madureira.

Não sei exatamente o que pretendia, quando comecei a escrever sobre Nilo. Sei apenas que não é um necrológio, porque lhe falta a necessária seriedade. Sem falar no fato de que eu não pretendia falar no excelente Secretário de Educação que ele foi, enquanto foi possível ter paciência, driblando o nepotismo e o fisiologismo nesta eterna capitania hereditária. Talvez o que eu quisesse fosse uma crônica. Se for é lamentável, porque o cronicado é grande demais para caber nos limites estreitos de uma crônica. Talvez seja somente uma homenagem, ou sei-lá-o-quê. De qualquer modo, se se foi, ficam conosco suas lembranças, a memória de seus gestos, o magistério de suas atitudes. E, de minha parte, nada mais posso dizer, senão: - Nilo morreu. Viva Nilo!

 

Fonte:Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. N 40, ano 1990
Autor: Miguel Depes Tallon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2013 

Personalidades Capixabas

Carta aberta Edgar Feitosa – Por Delano Câmara

Carta aberta Edgar Feitosa – Por Delano Câmara

Recebi um convite para escrever sobre uma personalidade qualquer de Vitória

Pesquisa

Facebook

Matérias Relacionadas

A história do escudo (logo) do IHGES

A revista número dois, editada apenas em 1922, já apresenta o escudo, tal e qual o conhecemos ainda hoje

Ver Artigo
O Grande Tesoureiro - Por Renato Pacheco

Com o falecimento de NILO MARTINS DA CUNHA perdi um grande amigo e o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo fica sem seu grande tesoureiro

Ver Artigo
Saudação ao Novo Sócio – Des. Hélio Gualberto Vasconcellos

Na Presidência do Egrégio Tribunal e Justiça o nosso novel consócio revelou-se o administrador impar, criterioso, humano, e em constante desenvoltura procurando criar e dar ao Poder Judiciário a sustentação pessoal e material necessária a melhor cumprir as suas finalidades

Ver Artigo