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O assassinato de Reneê Aboab - Por Sérgio Figueira Sarkis

Parque Moscoso - Postal

Em meados da década de 1950, um crime famoso agitou o noticiário nacional escrito e falado. O crime da francesa Reneê Aboab, no Rio de Janeiro. O assunto tomou conta dos jornais, pois a jovem havia sido encontrada morta em circunstâncias misteriosas e não se tinha ainda indicações do seu assassino. E a imprensa explorava todos os possíveis suspeitos, entre amigos, namorados etc.

Vitória fervia com a vida nos clubes, nas quais desfilavam as debutantes do ano, os 10 brotos de Cacau Monjardim e Hélio Dórea, a rainha da Festa da Primavera... Vez por outra, havia também festas em residências particulares, basicamente para comemorar aniversários de 15 anos de moças da sociedade local.

Uma dessas foi a da jovem Geny, filha do desembargador Eurípedes Queiroz do Valle. Encontro bonito, realizado no casarão situado na Rua Vasco Coutinho, no Parque Moscoso.

Praticamente todo o mundo social de Vitoria estava presente. A sala foi transformada em salão de baile, onde todos dançavam ao som de músicas tocadas na eletrola hi-fi da casa.

Estávamos eu e um grupo de amigos conversando e apreciando a movimentação, no jardim, quando somos despertados por uma pessoa nos chamando do lado de fora. Era o comissário Américo, apelidado por todos como Américo X9, titulo de uma revista famosa na época, que tratava de assuntos policiais.

Relatou-nos estar de plantão e sua delegacia ter recebido um telefonema do Rio de Janeiro, onde tramitava o inquérito do crime da Reneê Aboab. Pediram para investigar a presença de um jovem francês, suspeito do assassinato, que teria vindo se homiziar em Vitoria.

Como tratava-se de um rapaz jovem, bonito e elegante, Américo, fazendo aflorar sua veia de investigador, tão logo recebeu a informação, fez um levantamento das festas transcorrendo na capital, naquele momento.

A única era, exatamente, a de Geny Queiroz do Valle. Apelou para nosso grupo verificar a possibilidade do possível assassino estar presente, dando-nos suas características. Na mesma hora, um de nossos amigos, Roberto Amaral Carneiro, a época escrivão de Policia, disse ter visto uma pessoa com as indicações do suspeito dançando com uma moca na festa.

E apontou em seguida para o mesmo, pois podia ser visualizado de onde estávamos. Imediatamente, Américo procurou o desembargador Euripedes, relatando o fato e pedindo permissão para dar voz de prisão ao rapaz. Doutor Euripedes rogou ao Américo para fazer a detenção fora do espaço da sua residência, ou seja, na rua. Ficou então encarregado da missão de levar o acusado para fora da casa o colega escrivão, Roberto Carneiro.

E assim foi feito. Carneiro aproximou-se do casal e, num tom bastante simpático, pediu ao jovem que o acompanhasse, pois tinha um assunto a tratar com ele. Prontamente, sem desconfiar de nada, o “Francês" o seguiu até à rua, quando então o Américo pode cumprir sua missão.

Deu-lhe voz de prisão, colocando-o na viatura policial, indo para a Chefatura de Policia, localizada na Rua Graciano Neves. Nosso grupo, imediatamente, seguiu atrás, pois não poderíamos perder nenhum lance desta historia.

Conseguimos chegar primeiro que o Américo e nos postamos a porta da Chefatura, a espera. Chegada a comitiva policial, a primeira pessoa a ser visualizada pelo suspeito foi Carneiro, a quem censurou por têlo enganado. Carneiro, querendo se justificar, retrucou:

— Eu não tenho nada com isto. Lavo as mãos assim como ‘Afonso’ Pilatos lavou.

Acredito particularmente que o Carneirinho fez uma gozação com a frase bíblica referente a Pôncio Pilatos. Levaram o Francês para a sala do delegado de plantão, doutor Amúlio Finamore. Este, apesar da atividade exercida, era pessoa boníssima. Mas, querendo dar uma de durão, não só para o suspeito mas para a plateia presente, vira-se para o mesmo e desanca com impropérios em alta voz:

— Seu assassino, vagabundo, salafrário, filho da puta, porra-louca...

O "francês", surpreso com aquela atitude tempestuosa, não teve qualquer reação, e isto fez doutor Amúlio amainar a voz e concluir:

- Se você não for nada disto que falei, por favor me desculpe. Mas, se for verdade, você continua sendo um assassino, vagabundo...

E o "francês" não era o culpado.

 

Fonte: No tempo do Hidrolitol – 2014
Autor: Sérgio Figueira Sarkis
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2019

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