Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

O capixabíssimo peroá – Por Francisco Aurélio Ribeiro

Peroá: estampa da artista plástica Mônica Boiteux

Já vi e comi muito peixe pelo Brasil e o mundo afora, mas o peroá, como o congo e a moqueca, é só capixaba. Já comi salmão delicioso no Canadá; um de "Niagara Falls" é inesquecível. Bacalhau de lamber os beiços é o de Portugal. À lagareira, em Lisboa, ou o à moda do Porto, com o "legítimo bacalhau português da Noruega", só lá mesmo. Côngrio é no Chile. O Peixe de São Pedro é famoso em Israel, do lago Tiberíades. Em Cuba, a "ilha da fartura", pois "farta" tudo, comi uma posta saborosa de peixe à beira-mar, inesquecível, talvez, por ser a única coisa que tivesse ali, para comer. Em certo cruzeiro no Caribe, comi peixe ao molho de abacate feito por cozinheiro filipino, que jamais esqueci. Nem eu nem meu filho, que compartilhou comigo a delícia do prato e da viagem.

No Brasil, já comi muito peixe bom. Desde a manjubinha frita no bar do Costinha, em Guaçuí; as traíras e acarás fritos com fubá, por Teca, na fazenda, antes, ou no sítio, agora; os peixes mineiros da represa de Furnas; o cascudo do Festival de Itaperuna; as agulhas fritas da Ilha de Itamaracá, em Pernambuco; os badejos, dourados e cações das moquecas capixabas; as siobas, garoupas e tantos outros peixes, fritos ou à escabeche, comidos nessas praias lindas do meu Brasil; um bolinho de peixe comido em Itaoca, feito na hora e levado à praia pela gentil prima de minha mulher; o peixe assado recheado com camarão que Teca faz no aniversário do Aurélio; o cratoá, vermelho por fora e branquinho por dentro, saboroso como uma lagosta, com que os amigos Fernando e Mônica nos presentearam com uma caixa. Enfim, nestes quase cinqüenta anos de vida, foram muitos peixes apreciados, quantidades só inferior à de frangos e de galinhas, meus preferidos. Só não experimentei, ainda, o prato típico de Manaus, com o sugestivo nome de "Hipogloss" (pacu assado). Mas os do Pará, experimentei vários, sobretudo o pirarucu, que fazem de várias maneiras: bolinho de pirarucu (melhor que o de bacalhau), farofa de pirarucu (uma delícia para acompanhar o "Filhote", outro peixe deles), pirarucu assado ou ao molho de castanha e leite de coco. Imperdível, também, é a "caldeirada marajoara", com peixe cozido com legumes e camarão.

Quando circulo pelas praias de Vila Velha, da Costa, Itapoã e Itaparica, e mesmo outras de nosso litoral, vejo que o peixe comido pelo povo capixaba e os turistas que nos visitam no verão é o capixabíssimo peroá, peixe que nunca vi fora daqui. Quando chego à praia, pela manhã, vejo, nas barraquinhas, lá na curva da Sereia, pilhas de peroá já fritos, à espera de seus vorazes consumidores. E, pelo tamanho, paga-se o peixe frito a partir de R$1,00 (um real), acompanhado de salada, banana frita ou farofa, a gosto do freguês. E nunca conheci ninguém que tivesse passado mal com peroá. Com marisco, caranguejo, siri, sururu, sim. Peroá, não, mesmo que seja frito às dezenas, na mesma frigideira envelhecida pelo uso. Minha filha, que odeia peixe, adora peroá. Se for de barraquinha, então, "detona".

Mas, o que me dá certeza, mesmo, da "capixabice" do peroá é que existe em Vila Velha um "disk peroá". O número está lá, à vista de todos. É só discar e lhe será entregue, na hora, um peroá quentinho, só ou acompanhado. "Disk pizza" é paulista. "Disk sanduíche" deve ser carioca ou americano. "Disk pão-de-queijo", mineiro, mas "disk peroá", só capixaba. Portanto, voto no peroá para símbolo capixaba, ao lado da moqueca, do congo, do bombom Garoto, dos colibris, das tartarugas marinhas. E digo não ao marlim como símbolo de progresso ou de futuro para Vitória. Deixemos o marlim solto, livre nas águas profundas do nosso litoral. Consagremos como ícone popular o peroá, este legítimo capixaba que alimenta tanta gente e não faz mal a ninguém, só bem.

 

Fonte: Estrela Prometida, crônicas capixabas – ano 2003
Autor: Francisco Aurélio Ribeiro
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2015

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

Ano Novo - Ano Velho - Por Nelson Abel de Almeida

O ano que passou, o ano que está chegando ao seu fim já não desperta mais interesse; ele é água passada e água passada não toca moinho, lá diz o ditado

Ver Artigo
Ano Novo - Por Eugênio Sette

Papai Noel só me trouxe avisos bancários anunciando próximos vencimentos e o meu Dever está maior do que o meu Haver

Ver Artigo
Cronistas - Os 10 mais antigos de ES

4) Areobaldo Lelis Horta. Médico, jornalista e historiador. Escreveu: “Vitória de meu tempo” (Crônicas históricas). 1951

Ver Artigo
Cariocas X Capixabas - Por Sérgio Figueira Sarkis

Estava programado um jogo de futebol, no campo do Fluminense, entre as seleções dos Cariocas e a dos Capixabas

Ver Artigo
Vitória Cidade Presépio – Por Ester Abreu

Logo, nele pode existir povo, cidade e tudo o que haja mister para a realização do sonho do artista

Ver Artigo