Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

O galo matou a onça – Por Hermógenes Lima Fonseca

Capa da Revista Você – UFES – Ano I Nº 6, dezembro, 1992

No quarto crescente, dando para a lua cheia, é noite de ouvir estórias de véio Isidoro.

Mal o sol havia entrado chegava a rapaziada e o véio Isidoro já estava assentado no seu tamborete no canto do terreiro. Uns cumprimentavam, outros tomavam a bença e se acomodavam pelo chão varrido, atentos ao véio, que começou dizendo: Vou contar o caso do galo que matou a onça.

— Como é que pode, seu Isidoro?

— Foi verdade sim, pode acreditar. Já era tarde e a noite escura como breu. O galo estava no seu poleiro do lado de fora do galinheiro e a onça veio chegando de mansinho e passou a mão, mas não alcançou o galo. Ele se assustou, mas ficou quieto. A onça de olho aceso olhava para o poleiro e o galo aproveitou e deu uma beliscada num olho e no outro da onça que deu um urro danado e ficou se batendo no chão passando a mão pela cara e se arranhando toda e urrando.

Nisso Relâmpago e Quebra-ferro avançaram e cada um segurou nas patas traseiras da onça, bem seguras. A onça procurava se arrastar com as patas dianteiras e era puxada para trás pelos cachorros.

As galinhas se alvoroçaram e começaram a gritar. O dono da casa acordou, apanhou a espingarda e atirou mas não acertou. O galo empoleirado gritava: "Acorda gente, que é a onça." O cachorro do vizinho veio, segurou no pescoço da onça e ela foi parando de urrar, se espichou e morreu.

Disse o véio Isidoro para arrematar o causo:

- Taí de prova o couro da bicha e podem ver as marcas dos dentes dos cachorros que só conseguiram matar a onça por caso do galo que morreu de velho arrespeitado por todo mundo, e de longe vinha gente ver o galo no terreiro todo fagueiro pisando duro.

— Aqueles três frangos que tenho aí são filhos dele. Não vendo por dinheiro nenhum, que gente da redondeza já tem vindo aqui em casa com nota estalando na mão. Vendo nada!

— E a pele da onça?

Essa eu vendi, não arresisti ao dinheiro que me ofereceram. Tá lá na casa de seu Custódio, é só ir lá e indagar.

 

Fonte: Revista Você – UFES – Ano I Nº 6, dezembro, 1992 (Coluna Curubitos)
Autor: Hermógenes Lima Fonseca 
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2015

Literatura e Crônicas

Quando o Penedo falava, 1927 - Por Elpídio Pimentel - Parte XI (Última)

Quando o Penedo falava, 1927 - Por Elpídio Pimentel - Parte XI (Última)

Agora sabe toda a história do Espírito Santo, desde os seus dias atuais até a época distante de suas origens

Pesquisa

Facebook

Matérias Relacionadas

Hermógenes – Por Renato Pacheco

Conceição da Barra se chamava Barra de São Mateus e lá Hermógenes nasceu, no sítio das Perobas, em 12 de dezembro de 1916

Ver Artigo
Sorriso – Por Hermógenes Lima Fonseca

Era ainda cedo quando resolvi viajar. A minha vizinha estava dormindo e sorriso apareceu me festejando

Ver Artigo
Hermógenes foi pro céu – Por Adilson Vilaça

O carnavalesco Joãozinho Trinta lá no Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. O carnavalesco viera colher subsídios relativos ao folclore capixaba para o desfile da Caprichoso de Pilares

Ver Artigo
Xilohermógenes

Quando Maciel me convidou para participar deste livro, contando um pouco, para quem não o conheceu, do Hermógenes

Ver Artigo