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O grande salto – Por Vinicius Seixas

Máquina de escrever

O que mais me impressiona na evolução da imprensa capixaba — particularmente nos órgãos sediados em Vitória — é o curto espaço de tempo em que foi dado o grande salto profissional e tecnológico que a colocou em pé de igualdade com os veículos de comunicação dos chamados grandes centros nacionais. Não acompanhei esse desenvolvimento em outros centros do mesmo porte mas aqui, sem dúvida, este é um ponto surpreendente.

Comecei a participar desse processo somente em 1969 mas, por observações que tive oportunidade de fazer, através de relatos de colegas, e pelo folhear de velhas coleções, sei que não exagero ao afirmar que até o final da década de 60 e início dos anos 70, a imprensa do Espírito Santo em suas diversas formas — seja escrita, falada ou televisada — ficava muito atrás dos processos praticados nos vizinhos Estados do sudeste, como Rio, São Paulo e até mesmo Minas Gerais.

Hoje, sem sombra de dúvida, os jornais capixabas, o noticiário radiofônico e o jornalismo televisivo nada ficam a dever aos seus congêneres dos Estados onde esse desenvolvimento já se dera há mais tempo. Nem mesmo o desaparecimento de muitos órgãos de imprensa pode ser classificado como um fenômeno capixaba, pois isso ocorreu em todo o país nos últimos anos, por fatores econômicos e políticos.

Para citar apenas os jornais — campo que conheço melhor — basta lembrar que ao aqui chegar, em 1969, para trabalhar em A Tribuna, encontrei um jornal com umas poucas velhas linotipos, instaladas em uma espécie de galpão, tendo como impressora uma antiga máquina plana que exigia muito esforço para imprimir o jornal: para se ter uma idéia, eram impressas apenas duas páginas de cada vez, que voltavam, viradas, para a impressão de mais duas páginas no verso. O jornal, então, de oito páginas, tinha que entrar na máquina quatro vezes para sua impressão final. Um verdadeiro sacrifício. Só conseguia chegar às bancas em horários razoáveis devido às baixas tiragens.

Os demais jornais de Vitória — como A Gazeta e O Diário — não ficavam muito atrás e possuíam apenas rotoplanas, um pouco mais adiantadas mas também já obsoletas para a época. Havia ainda o Jornal da Cidade — nome novo, na época, de O Debate, dado por seus novos proprietários — com padrões tecnológicos bem inferiores.

Saindo das oficinas, encontraríamos redações com pouca ou quase nenhuma infra-estrutura, funcionando graças ao romantismo ainda existente na atividade jornalística e ao entusiasmo dos profissionais da época, a maioria ainda "focas", iniciando no jornalismo e se dedicando com amor à profissão. Talvez por isso mesmo, graças às dificuldades iniciais, grandes nomes do jornalismo capixaba acabaram se projetando nacionalmente, depois de passarem por essas dificuldades. Entre eles, Paulo Torre (que, para infelicidade nossa, nos deixou recentemente), José Casado, Rubinho Gomes, Jorge Luiz de Souza, Maura Fraga, Luiz Malta e vários outros que a pressa e a memória deixam escapar. Alguns nunca deixaram a província mas se tornaram profissionais à altura de qualquer outro de centros mais adiantados, como os irmãos Paulo e Pedro Maia, Sérgio Egito, Tinoco dos Anjos, Beth Feliz, Amylton de Almeida (que também perdemos no ano passado), Marien Calixte, só para citar uns poucos.

O noticiário oferecido aos leitores era basicamente local. Sem teletipos, telex, radiofotos ou outros recursos já existentes na imprensa nacional, as notícias nacionais e internacionais chegavam às redações de todos os jornais vindas de uma mesma fonte: um radiotelegrafista que engendrou um meio de aumentar seu faturamento passando o dia ouvindo os noticiários de emissoras de fora, datilografando as notícias com várias cópias e passando-as para os jornais. Ele pode ser considerado, por assim, dizer, a primeira agência de notícias de Vitória.

Coube a O Diário, sob a batuta de Edgard dos Anjos, então um dos proprietários do jornal, o pioneirismo na instalação em terras capixabas do primeiro teletipo de uma agência nacional de notícias — a Agência Jornal do Brasil, hoje conhecida apenas como AJB — e na implantação de um sistema de radiofotos internacionais. Isso em 1971, que pode ser considerado o ano inicial da evolução da imprensa capixaba.

A Gazeta despertou para a nova realidade e seguiu esses passos, indo mais adiante: instalou um sistema de composição a frio, adquiriu novas impressoras e começou a tomar feição de um verdadeiro jornal. Nessa época, A Tribuna havia deixado de circular provisoriamente até que o grupo que a havia adquirido recentemente instalasse novos equipamentos, o que viria a acontecer pouco depois, também como um importante passo para a modernização da imprensa local. Foi no final de 1971, início de 72, que deixei Vitória, voltando para o Rio, que fora o meu berço profissional. Mas em momento algum deixei de acompanhar essa evolução, que daí em diante se tornaria surpreendente dada a sua velocidade, ocorrendo no espaço de pouco mais de uma década. Através de contatos com os companheiros que aqui deixara, com vindas em férias ou simples passeios em folgas mais prolongadas, ficava sabendo das novidades, seguia os passos da modernização, sentindo-me orgulhoso de ter participado do engatinhar desse crescimento.

Por isso, ao voltar definitivamente, em 1989, não tive surpresas ao encontrar a nova mentalidade profissional aqui existente e estruturas que nada ficavam a dever aos demais centros do país.

Hoje, então, decorridos sete anos, posso afirmar que a imprensa capixaba se alinha entre as mais modernas do país, haja vista a total informatização dos dois jornais que restaram na capital, da qualidade dos telejornais produzidos localmente e do vibrante noticiário radiofônico. O surgimento de vários jornais em cidades do interior, ainda que dando os seus primeiros passos, pode ser um sinal de que dentro de mais alguns anos tenhamos outros órgãos também à altura dos tempos modernos.

Se há algum ponto a lamentar nessa modernidade, é apenas o fim da era do romantismo na atividade jornalística, o que não é uma característica apenas capixaba, mas há muito já verificada no país inteiro, ou pelo menos nas grandes metrópoles.

Dizer o que virá daqui para diante, com a chegada da cibernética no campo jornalístico, via Internet, seria apenas um exercício de futurologia.

 

Fonte: ESCRITOS DE VITÓRIA — Imprensa – Volume 17 – Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES.
Prefeito Municipal - Paulo Hartung
Secretário Municipal de Cultura e Turismo - Jorge Alencar
Sub-secretário Municipal de Cultura e Turismo - Sidnei Louback Rohr
Diretor do Departamento de Cultura - Rogério Borges de Oliveira
Diretora do Departamento de Turismo - Rosemay Bebber Grigatto
Coordenadora do Projeto - Silvia Helena Selvátici
Chefe da Biblioteca Adelpho Poli Monjardim - Lígia Maria Mello Nagato
Bibliotecárias - Elizete Terezinha Caser Rocha e Lourdes Badke Ferreira
Conselho Editorial - Álvaro José Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco
Revisão - Reinaldo Santos Neves e Miguel Marvilla
Capa - Amarildo
Editoração Eletrônica - Edson Maltez Heringer
Impressão - Gráfica e Encadernadora Sodré
Autor do texto: Vinicius Seixas
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2018

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