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O teatro em Vila Velha

Igreja do Rosário - Praínha Vila Velha ES

O teatro de Vila Velha vem de tempos bem remotos. Algum tempo depois de iniciada a nossa colonização, os jesuítas escreviam peças de fundo religioso, como o auto "Na visitação de Santa Izabel", escrita em 1597, pelo Padre José de Anchieta e que foi representado em frente da Igreja de Vila Velha.

Os primeiros teatrinhos tinham o nome de "entremez" (curta apresentação jocosa e burlesca). Eram realizados em palcos armados na rua e a assistência sentava-se em esteiras ou bancos.

O teatro vilavelhense se tornou famoso não só pela boa direção do ensaiador, mas também pelo perfeito desempenho dos artistas, rapazes e moças das famílias locais, entre outros: Elpídio Quitiba, João Carneiro, Henrique Caldeira, Nenem e Augusto Aguiar, Manoel Duarte de Freitas, Alcides Rodrigues, Antônio e Adolfo Barcelos, Cleto Rodrigues que, sempre representando o "cínico" da peça, se revelava um ótimo ator, pois fora do palco eram bem o inverso do que representava. Era um homem probo, honesto e de conduta irrepreensível. O Sr. João Ramires, era especializado em papéis cômicos. Recordamos da sua austera figura de homem íntegro e respeitável, muito ao contrário dos personagens que, na sua mocidade, tão bem representava nos teatrinhos. Os pobres encontravam nele um protetor solícito. Era o médico "homeopata" daqueles tempos, distribuindo o remédio para o corpo, acompanhado de um lenitivo para o espírito, sob a forma de uma palavra amiga e confortadora para aqueles que dela precisavam.

Além destes, Pedro e Nilo Nobre, Acelino Lopes, que se vestia de moça, pois naqueles tempos mais antigos as moças não tomavam parte em teatrinho.

São conhecidas várias passagens pitorescas, inclusive anedotas, dos teatrinhos de Vila Velha. Os artistas não se apertavam em cena e lançavam mão de todos os recursos para não fracassarem nos seus papéis.

Certa ocasião um protagonista de um drama devia assassinar seu inimigo (que trazia escondido no peito um papo de galinha cheio de sangue, para ser furado no momento azado). No ato de receber a punhalada, a "vítima", com medo, fez um movimento brusco e o papo rola no palco. O "assassino" não se altera: sai atrás do papo apunhalando-o enquanto exclamava: "miserável, vais morrer..."

De outra feita, o marido traído entra em cena e diz: "que cheiro de papel rasgado!" Isto porque dos bastidores ele observou que a mulher, não achando os fósforos sobre a mesa, rasgou a carta do namorado ao invés de queimá-la.

Um rapaz ensaiou durante vários meses o seu papel que constava apenas do seguinte: aos gritos de "pega-ladrão", teria de entrar em cena armado com um cacete e dizer: "para ladrão temos cacete". No dia da apresentação, entra no palco muito nervoso e sai-se com esta: "para cacete temos ladrão".

Certa vez, Acelino Lopes fazendo seu papel de "moça" desmaia em cena, sendo imediatamente socorrido pelo "médico" (Augusto Aguiar). Na afobação a cabeleira postiça da "moça" agarra no botão do paletó do "médico" e quando este saiu para apanhar água, dá-se o desastre...

Distribuíam-se programas do teatro. Aconteceu que, de certa vez, houve no mesmo dia distribuição de impressos com propaganda de cintas elásticas para homens, exibindo um homem usando somente a cinta. A empregada da família de uma jovem "artista", preta velha e analfabeta que muito a estimava, pensando ver na propaganda um dos artistas do teatro, exclamou: "só admiro Dª Yayá, que é tão cuidadosa, deixá Gorita representá com Docé (Diocécio) nu."

Mais tarde, isto é, há uns 40 anos, os teatrinhos de Vila velha contavam com figurantes bastante treinados, verdadeiros artistas como: Lúcio e Nilo Bacelar, Clementino Barcelos, Miguel Aguiar, Diociécio G. Lima, João Saliba, Elógio Barcelos Duarte de Freitas, Antônio Souza Rodrigues (Canico), Emiliano dos Anjos, Ernani e Romeu Silva e muitos outros. Os "pontos" dos teatros eram: o estimado Joaquim Junqueira, e mais tarde, o saudoso Saturnino Rangel Mauro.

Senhoritas daquele tempo, hoje vovós, adornavam os palcos de Vila Velha. As artistas mais famosas daquele tempo eram: Pepenha e Adília Barcelos, Pepenha e Glorinha B. Freitas, Marina Marcelos, Edina Paiva, Zilda Caldeira, Nilda Coelho, Nely e Maria Queiroz, Mirtes Viana, Iracema e Maria Leão, Honorina Machado, Euclídia Silva, Lotinha, Yvoninha e Dirinha Carvalho, Jacira Silva, Djanira e Maria Aldécia Cruz e muitas outras.

 

Livro: Vila Velha de Outrora, 1990
Autora: Maria da Glória de Freitas Duarte 
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2011

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