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Os clubes e festejos de Vila Velha

Carnaval de Vila Velha, 1953 - Acervo: Edward Alcântara

Numa época que não havia ainda a televisão, pouquíssimos jornais e revistas, com o rádio iniciando, a cultura popular se desenvolvia em torno das festas juninas, das festas do natal e outras festas religiosas da igreja Católica como a festa da Penha e de diversos santos, e do carnaval.

As festas cívicas ficavam mais em torno da área escolar, e dos militares.

“Vila Velha, teve seus áureos tempos, em que o movimento social era intenso durante todo o correr do ano, desde o Natal, ao mês Junino. Ninguém poderia esquecer as lapinhas do Mestre Clê, os catirites do Cantinho da casa do Adolfo Barcelos, Pequinino, Manoel Feu, Pedrolino e da Casa do Clementino.” – Ernani Pestana Silva.

A lapinha foi trazida do Nordeste pelo Desembargador Ferreira Coelho, pertencente ao ciclo natalino, e por ele mesmo ensaiada, formando o bloco dos encarnados e dos azuis, que a seguir foi liderado por muitos anos pelo Mestre Clê, como era chamado o Clementino de Freitas Barcelos.

O livro “Vila Velha de Outrora, de Dona Maria da Glória Freitas Duarte, é riquíssimo de informações dessa época toda.

Há projeto da Casa da Memória de Vila Velha, de re-encenar a lapinha no Natal de 2012 com ensaios a ocorrer a partir de agosto vindouro, em que Dona Eunice Belumatti seria a Diretora de Honra.

Catirete é uma dança de sapateado, muito antiga no Brasil, e Cantinho é o cantinho da Prainha, que é a esquina do encontro da antiga rua São Bento (hoje Bernardo Schneider) com a rua Frei Pedro Palácios, onde moraram os Pitanga e mesmo a Rosélia Caldeira. É a esquina do Colégio Godofredo Schneider.

Pequenino era o João Tomaz de Souza Jr, que tomava conta da fábrica de tecidos de Inhoá, (que existiu onde hoje fica a EAMES) e que chegou ser Prefeito de Vila Velha.

“Existiam na década de 1920 a 1930 diversas sociedades recreativas que congregavam toda a sociedade vilavelhense, em toda a sua estrutura” - Ernani Pestana Silva

Essas sociedades recreativas, se intitulavam clubes, ranchos, companhias de teatro, imitando o que se fazia nos grandes centros. E na Prainha se concentravam na casa de algum líder político ou comunitário, e muitas apresentações de disputas, quando tratava de brincadeiras de salão, eram feitas no refeitório do célebre Hotel do João Nava, na Rua Vasco Coutinho.

Os animadores culturais de outrora e carnavalescos eram o Clementino Barcelos, Miguel Aguiar, Jair Amorim (no período que morou em Vila Velha), Pedro Silva, Manoel Feu, Fernando Lyra, Saturnino Rangel Mauro, Lucio Bacelar, Pacífico, os irmãos Carino e muitos  outros que sempre deram tudo, mesmo em situações adversas, para que o povo canela verde se divertisse e fizesse sempre  apresentação de destaque.

Então nessa fase havia:

- o Democrático, clube conservador das tradições de família e da história capixaba;

- a União das Flores, que congregava a sociedade local e tinha a sua estrutura na cooperação técnica de oficiais e  sargentos do 3º BC.

Fez o União das Flores os melhores carnavais quer de Vila Velha, quer de Vitória, onde todo ano ia abiscoitar o 1º prêmio” - Ernani Pestana Silva

Existiam ainda:

-Recreio das Flores, -(por certo alguma dissidência);

-Destemidas;

-Cartola e Cartolinhas, com sede em Inhoá.

-Vai Quebrar – “que era uma agremiação de congo, que tanto tomava parte nas Festas de São Benedito em Maxambomba, como entrava firme no Carnaval, pois existiam lá grandes foliões ainda nossos conhecidos como Maçarico e tantos outros.” - Ernani Pestana Silva

Os Democráticos com seu bloco “Renegados”, também extasiou os vitorienses com suas belas marchas e morenas faceiras, pois todos os blocos de Vila Velha, levavam a Vitória a expansão máxima da beleza praiana, uma das atrações que representava para o vitoriense a passagem desses blocos com seus afinados coros locais.” - Ernani Pestana Silva

Nesses deslocamentos uma figura importante, era o Augusto Italiano, que com seu caminhãozinho ou de alguém para quem dirigia, levava essas turmas para baixo e para cima.

“Em 1930, parece que um sopro nefando, vindo não se de onde, derrubou por terra, todas essas tradições e os velhos clubes que tantas vitórias nos deram em carnavais memoráveis.” - Ernani Pestana Silva

Por certo foi por conta da revolução de 1930 que aqui teve prelúdio já em fevereiro no célebre comício do Carmo em Vitória, onde morreu gente no tiroteio que houve.

“O tempo, o progresso e a evolução, podem influir financeiramente nos costumes, mas nunca matar ou aniquilar a alma de um povo e então em 1931, antigos carnavalescos do extinto clube dos Democráticos, aliados a remanescentes do União das Flores fundaram o clube carnavalesco Fenianos. –O primeiro carnaval, foi o ano do “seu cabelo não nega”, marcha que deixou todo mundo doido, e a alma carnavalesca do canela verde, se inflamou.”- Ernani Pestana Silva

Dá para entender que os que não se ligavam bem com os Democráticos e com os da União das Flores que sobreviviam nos Fenianos, fundaram o Clube Carnavalesco Oriente, que bons carnavais realizaram. 

"Os carnavais dos Fenianos, com seus blocos “Deixa Falar” e “Falar é fôlego”, ultrapassou as fronteiras do município, indo se espraiar em Vitória, onde sempre trouxa a palma dos vitorienses." - Ernani Pestana Silva

"Havia também o bloco Modo Cruel." - Silmo de Souza Rodrigues

“Infelizmente a rivalidade entre esses blocos foi tal que dividiu as famílias e os carnavalescos que faziam o carnaval, por carnaval, acharam por bem acabar com essa situação e em reunião memorável , em que tomaram parte as Diretorias dos Clubes e Blocos existentes, foram extintos os dois clubes e todos os blocos, nascendo dessa fusão o clube carnavalesco “Celestial” que evitando o bairrismo ainda em fusão no meio do novo clube, adotou novas cores na sua bandeira que não coincidia , com as cores das bandeiras dos clubes extintos ou dos blocos, ficando o celestial com as suas cores azul sobre ouro, que não fugindo a regra ainda fez grandes carnavais, quer em Vila Velha quer em Vitória. Depois a alma carnavalesca foi morrendo e outras sociedades com outros rumos foram surgindo...” - Ernani Pestana Silva

Mudando para Vila Velha em maio de 1960, comecei observar a existência dos seguintes clubes :

- Golfinho – ainda numa meia água coberta com folha de coqueiros, e cerca de bambu, no quintal do Ivan Schalders, na Prainha, que havia adquirido a casa de Dona Celeste, viúva de Anselmo Cruz, junto ao portão principal da EAMES.

- Olímpico – funcionando em salão alugado pelo Sr. Aloísio Freitas, sobre o Bar Gardênia, em cima do que é hoje o bar Armazém na Prainha – ali depois funcionou também por certo tempo a Câmara Municipal. O Olímpico fora fundado em 1944 e foi conduzido por remanescentes dos antigos carnavalescos, mas teve fim praticamente inglório por volta de 2004, tendo sido demolida sua sede que conseguiram.

- Albatroz – dos suboficiais da Marinha, e existiu na Praça Tamandaré, tendo fim inglório em meados da década de 1980, quando foi desapropriado para a construção da expansão do  Fórum na Prainha.

- Monte Castelo – do pessoal do 3º BC, funcionando num apartamento na rua Jerônimo Monteiro no Centro de Vila Velha, e hoje sobrevive no conjunto militar do Parque das Castanheiras,

- ARCI – Associação Recreativa do Ibes, que sobrevive até hoje.

- Clube Atlântico de Paul

- Atlético – que em época de carnaval, fazia bailes dentro do Cine Continental, onde desmontavam as cadeiras, e isso antes de ter sede própria na Av. Champagnat, até sua extinção, também infelizmente ao que tudo indica inglória.

- Sírio Libanês – o colosso de mármore, na Praia da Costa, que tenta sobreviver,

- Clube da Glória – teve intensa atividade nos anos 70 e 80.

- Clube de Aribiri – na estrada Jerônimo Monteiro, logo depois da antiga estação de bonde, e existe o imóvel até hoje, com data no frontspício.

 

Autor: Roberto Brochado Abreu – membro da Casa da Memória de Vila Velha, fevereiro/2012
 

 



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