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Por que o nome Burro? - Por Ormando Moraes

Burro com cangalha, retranca e peitoral - Besta dianteira com peitoral

Seja burro, mula ou besta, os muares sempre foram e ainda são de extrema utilidade ao homem, para o transporte da carga em larga escala, agrupados nas tropas, para puxar carroças nas áreas urbanas mais modestas, para puxar bondes antes da eletricidade, para montaria nos íngremes e difíceis caminhos de velhos tempos e, hoje, para o transporte interno nas fazendas de terras muito acidentadas. Entretanto, não obstante o reconhecimento de muitos, outros os tratavam com bastante desprezo e desconsideração, associando a pouca inteligência, a ignorância, a in-transigência, a brutalidade e a teimosia aos nomes burro, mula ou besta, daí expressões como "deixa de ser besta", “não seja burro", "é uma besta quadrada", "teimoso como uma mula", "cabeça dura que nem mula velha", e assim por diante. Mas, donde veio o nome burro para substituir asno, que é a denominação original dos muares machos? Quem nos ensina é o professor Aylton Rocha Bermudas, emérito latinisa, neste excelente trecho:

Como o asno virou burro

O asno transformou-sé em burro na Península lbérica.

O adjetivo virou substantivo, processo que consiste na mudança de classe gramatical da palavra, sem intervenção de sufixo (Cf. Ismael de Lima Coutinho — Pontos de Gramática Histórica, pág. 63 — Edição 1938). Os adjetivos móvel, corrente, bravo se tornam substantivos por esse recurso da língua.

Na Península Ibérica, os asnos tinham geralmente a cor vermelha. Vermelho, em latim, língua que ali se falava, por causa da conquista romana, se dizia burrus, asinus burrus, asno vermelho, alazão, como se dizia mala burra, maçãs maduras.

Com o tempo, pela associação de idéias, princípio que influi na significação dos vocábulos (semântica), o animal tão prestativo passou a ser designado. apenas pelo termo que lhe indicava a cor — burro — omitindo-se a palavra asno (Cf. Silveira Bueno, Gramática Normativa da Língua Portuguesa, pág. 265).

A exceção do espanhol, o termo burro, para significar asno, não existe nas outras línguas neolatinas, como o Italiano e o Francês, que usam a palavra derivada do substantivo asinus, asino e ãne.

Aí está como, por associação de idéias, o asinus latino passou a ser burro, pouco importa a sua cor.

Vitória, 04 de julho de 1987 — a) Aylton Rocha Bermudes.

 

Fonte: Por Serras e Vales do Espírito Santo – A epopéia das Tropas e dos Tropeiros, 1989
Autor: Ormando Moraes
Acervo: Edward Athayde D’ Alcantara
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2016

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