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Quarto Centenário de Vila Velha

Comemoração do Quarto Centenário, 1935 - Prainha em Vila Velha, com a presença dos aviões da Esquadrilha da Fumaça

23 de maio de 1935 é considerada a data do Quarto Centenário da Colonização do Solo Espírito-santense. Por que não Quarto Centenário de Vila Velha, se foi aqui que tudo começou? Foi nessa data que Vasco Fernandes Coutinho aportou na enseada da Prainha com a sua caravela Glória para dar início à colonização da capitania.

Os festeiros Miguelzinho Aguiar, Clementino Barcellos, Lucio Bacelar, acompanhados de outras pessoas influentes da cidade e com integral apoio do prefeito, o engenheiro civil Francisco Almeida de Freitas Lima, entenderam que aquele centenário deveria ser comemorado condigna e festivamente, e de acordo com as tradições da cidade. Assim resolveram encenar a chegada de Vasco Fernandes Coutinho com seu séqüito à Prainha.

Ouvida a sociedade local, esta mostrou-se disposta a colaborar e aguardava tão-somente que se distribuíssem os papéis para providenciar os respectivos paramentos. Os ensaios e as indumentárias de época ficaram a cargo de Clementino Barcellos (Mestre Clê). Índios foi o que não faltou. Constituiu-se uma numerosa tribo com índios de verdade, de olhos pretos, castanhos ou mesmo azuis, como o do indiozinho Walter de Aguiar, índios de todos os tipos, ciosos da importância do seu desempenho. Só faltaram índias porque as mulheres não se atreviam a expor o corpo. A verdade é que as mulheres daquele tempo não ousavam sair das suas malocas. Assim, o cacique dessa imensa tribo, Lúcio Bacelar, num traje bem a caráter, chefiava apenas índios do sexo masculino.

Tudo preparado, no dia marcado estavam todos a postos para a grande encenação. Na falta de uma embarcação que representasse apropriadamente a caravela Glória, os fidalgos e sua comitiva aportaram ao cais da Prainha numa lancha. Fizeram troar um arremedo dos tiros de canhões que teriam espantado os índios das proximidades para que se pudesse fazer um desembarque mais tranqüilo.

Na cena, o primeiro a saltar foi o capitão-mor, Vasco Fernandes Coutinho, representado com muito garbo por Miguelzinho Aguiar. Atrás dele vinha, como sua esposa, Luíza Grinalda ou Grimadi, como querem estudiosos da nobreza de além-mar, protagonizada por Oraide Freitas Lima, também compenetrada do seu papel.

Representando Dom Jorge de Menezes, exibia-se na sua indumentária de fidalgo o Mestre Clê e atrás dele vinham os demais componentes do séqüito. Tudo era simbolismo. Luíza Grinalda não poderia ter descido como esposa de Vasco Coutinho, uma vez que fora esposa de Vasco Coutinho Filho.

Por certo, algumas palavras foram pronunciadas pelo representante de Vasco Coutinho ao tomar posse simbólica da capitania hereditária e, assim reunidos, paramentados e sob os aplausos populares, os participantes caminharam até à Prefeitura, sendo recebidos pelo prefeito Francisco Almeida de Freitas Lima.

Os índios, em grande quantidade e dirigidos pelo cacique (Lúcio Bacelar), acompanhavam arredios os acontecimentos, ora pelo meio do povo, ora se esgueirando ou subindo pelas árvores, cumprindo o papel que lhes fora atribuído. Dando destaque à programação, com evoluções acrobáticas sincronizadas, sobrevoou Vila Velha, para delírio do povo, pequena esquadrilha do Exército composta de cinco aviões. Como se isso não bastasse, Melo Maluco, o piloto mais arrojado da época e por muitas décadas, fez uma exibição à parte.

O que ele fazia com o seu pequeno avião era coisa de maluco mesmo. Desligava o motor em pleno ar e descia de ponta-cabeça, em parafuso, deixando para acionar o motor quando já se encontrava perto do solo, dando a impressão de que não conseguiria o seu intento. Fazia coisas inimagináveis. Dizem que não passou por baixo das Cinco Pontes porque as asas do seu monomotor eram grandes demais para os vãos entre pilastras, mas que tentara fazê-lo. Conseguiu passar, meio de banda, sob os fios estendidos do morro do Penedo ao Clube Saldanha da Gama, no Forte São João. Era um piloto fora de série, perseguido pelas autoridades, que chegaram a proibi-lo de voar, o que não conseguiram por muito tempo. Com suas piruetas imprevisíveis, Melo Maluco se imortalizou no meio aeronáutico. Não existiu outro igual a ele no tempo e no modelo em que voou.

Como se vê, as comemorações do IV Centenário foram as que mais marcaram o 23 de Maio em Vila Velha. Parte do que ocorreu durante o dia foi isso. Imaginem o que não aconteceu durante a tarde e a noite. Isso, pedindo escusas, deixamos por conta da imaginação de cada um. 

 

Trecho transcrito do Livro: Ecos de Vila Velha, 2001 - Pág.: 176 a 179
Autor: José Anchieta de Setúbal
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2012


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