Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

Quinca Cigano - A GAZETA, Bienal Rubem Braga

Rubem Braga, um cochoeirense

Em uma de suas mais conhecidas crônicas, Quinca Cigano, 1951, Rubem Braga fala dos pios de Cachoeiro. A fábrica fundada em 1903 por Maurílio Coelho ainda funciona no mesmo casarão, às margens de um braço encachoeirado do Rio Itapemirim. Mas em tempos de consciência ecológica, os pios não são mais usados para caçar. A expressão “de caça” foi até retirada da denominação oficial da fábrica, a única do gênero existente na América Latina.

“Entre os números que a grandeza do município de Cachoeiro de Itapemirim há este, capaz de espantar o leitor distrído: 25.379 pios de aves anualmente. Não, a Prefeitura espalhou pela cidade e distritos equipes  de ouvidores municipais, encarregados de tomar nota cada vez que uma avezinha pia. Tratam-se de pios feitos por caçadores. E quem os faz é uma família de caçadores de ouvido fino – os Coelho – cujas três gerações moram na mesma e linda ilha, onde o rio se precipita naquele encachoeirado, ou cachoeiro, que deu nome a cidade.

Trata-se de um artesanato sutil; não lhe basta a perícia técnica de delicados torneiros que faz, desses pios bem acabados, pequenas obras de arte; exige uma sensibilidade que há de estar sempre aguçada. Direis que é uma arte assassina; e na verdade, incontáveis milhares de bichos do Brasil e da América do Sul já morreram por acreditar, em um momento de fome ou de amor, naqueles pios imaginados entre os murmúrios do Itapemirim.

Dizem que os Coelho fazem até, em segredo, pios para caçar mulher. Famosa caçada é essa, em que não raro é o caçador a presa da caça...”

E o Rio Itapemirim, referência em tantos textos do cronista, foi o lugar escolhido para lançar suas cinzas. Quando soube que sofria de câncer, Rubem Braga tomou providências práticas para a cremação do corpo e deu instruções à família, conforme consta no bilhete transcrito no livro do sobrinho Afonso Abreu, para a coleção Grandes Nomes do Espírito Santo, lançado no ano passado. O filho Roberto seguiu as orientações à risca.

“...após a cremação de meu corpo providencie que as cinzas sejam lançadas no  Rio Itapemirim, de maneira discreta, sem cortejo e sem qualquer cerimônias, por pouquíssimas pessoas da família e, de preferência, no local que só a sua tia Gracinha, minha irmã Anna Graça, tenha conhecimento. Nem o dia deve ser divulgado, tudo isso para evitar ferir suscetibilidades de pessoas religiosas, amigos e parentes. Agradeça a quem pretenda qualquer disposição em contrário, por mais honrosa que seja...”

E assim, serena e discretamente , o velho Braga saiu de cena.

 

Fonte: Jornal A gazeta de 27/05/2006 – Caderno Especial Bienal Rubem Braga
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2012

 

Literatura e Crônicas

Dona  Domingas - Por Elmo Elton

Dona Domingas - Por Elmo Elton

Magra, negra, feia, desdentada, embodocada, lenta nos gestos e no andar, voz grave, parecendo de homem

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

Ano Novo - Ano Velho - Por Nelson Abel de Almeida

O ano que passou, o ano que está chegando ao seu fim já não desperta mais interesse; ele é água passada e água passada não toca moinho, lá diz o ditado

Ver Artigo
Ano Novo - Por Eugênio Sette

Papai Noel só me trouxe avisos bancários anunciando próximos vencimentos e o meu Dever está maior do que o meu Haver

Ver Artigo
Cronistas - Os 10 mais antigos de ES

4) Areobaldo Lelis Horta. Médico, jornalista e historiador. Escreveu: “Vitória de meu tempo” (Crônicas históricas). 1951

Ver Artigo
Cariocas X Capixabas - Por Sérgio Figueira Sarkis

Estava programado um jogo de futebol, no campo do Fluminense, entre as seleções dos Cariocas e a dos Capixabas

Ver Artigo
Vitória Cidade Presépio – Por Ester Abreu

Logo, nele pode existir povo, cidade e tudo o que haja mister para a realização do sonho do artista

Ver Artigo