Silk, o filho de Gandhi - Por Sérgio Figueira Sarkis

Vitória, na década de 1950, era prato feito para apresentação de artistas extravagantes. Apareciam por aqui para ganhar algum dinheirinho. E então surgiu um cidadão peruano, se não me engano. Anunciou que ficaria 40 dias pedalando sem parar, em volta da Praça da Catedral e, no último dia, terminaria sua exibição no Estádio Governador Bley, em Jucutuquara.
Nosso grupo de amigos, que não era mole, resolveu fazer vigílias diurna e noturna para não permitir o mesmo parar em momento algum. E assim foi, até o final. Acho que o peruano, depois disso, nunca mais se apresentou em qualquer outro local.
Mas, de todos aparecidos por aqui, o que mais chamou atenção foi Silk, anunciado como "O filho de Gandhi". Alugou loja na Rua do Rosário, quase esquina com a então Avenida Capixaba — hoje, Avenida Jerônimo Monteiro. E lá se instalou, vestido de faquir, enclausurado numa urna de vidro transparente, com a parte de baixo tomada de pregos pontiagudos e cheia de cobras de toda espécie e tamanho.
Propunha-se ficar 30 dias dentro da urna, sem comer e sem beber. Prato cheio para nós. Passamos a vigiá-lo dia e noite. O tempo foi passando e, numa noite, resolvemos dar uma trégua ao faquir, indo assistir um filme no Cine Trianon, em Jucutuquara. Terminada a sessão, voltávamos para o Centro quando, ao passarmos em frente à loja do faquir, vimos as portas arriadas até quase ao chão, e as luzes apagadas.
Para um flagrante perfeito, era necessário uma autoridade policial. Fomos céleres à Delegacia de Polícia. Lá, encontramos o investigador Walter Carvalhinho, um dos mais dedicados policiais daquela época. Walter, antes de ser policial, tendo memória invejável, decorou todos os telefones de Vitória, seus assinantes e endereços, bem como todos os automóveis, suas placas, marcas, cores, proprietários etc.
Por ser um arquivo vivo da Capital, foi convidado a ingressar na Polícia, aceitando imediatamente. Relatamos o fato ao Walter e este seguiu conosco até a loja do Silk. Chegando, levantou a porta rapidamente, acendendo ao mesmo tempo uma lanterna, com foco na urna do faquir. E lá estava o famoso filho de Gandhi comendo, calmamente, um bruto sanduíche de filé, acompanhado de refrigerante, o Guaraná Prado.
Assustado com a invasão, tentou ensaiar um esporro, não permitido pelo Walter. Este, imediatamente deu voz de prisão ao vigarista, aproveitando nossa plateia para exercer todo o seu vocabulário próprio para a ocasião:
— Você não é filho de Gandhi coisa nenhuma. É um "grandi" filho da puta, seu vagabundo, salafrário...
O pobre do Silk só pode responder o seguinte:
— O senhor só está falando comigo desta maneira porque estou preso nesta caixa cheia de pregos e cobras e não posso nem me mexer.
Em consequência, o filho de Gandhi, encerrou sua apresentação.
Fonte: No tempo do Hidrolitol – 2014
Autor: Sérgio Figueira Sarkis
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2019
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