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Subsídios para entender o capixaba – Por Miguel A. Kill

Moqueca Capixaba

O capixaba é alegre. Não, é triste. Nada disso: é tímido, reservado. Admira o carioca, mas no fundo é parecido com o mineiro, os europeus... Há muitas versões sobre o tipo nativo do Espírito Santo. Poucas foram colocadas no papel. Aqui estão três visões diferentes, algumas já antigas, sobre quem é ou terá sido o capixaba. Discordâncias à parte, não há dúvida de que ele existe e está mais vivo do que nunca.

Miguel A. Kill é natural de Domingos Martins, tem 48 anos, é professor de Prática de Ensino de Geografia da Ufes, Mestre em Educação, autor de livros didáticos sobre o Estado e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo

Caracterizar uma pessoa é difícil. Muito mais é caracterizar a população de um Estado, principalmente sem se valer de uma boa pesquisa. Mas, contando apenas com a vivência e com a observação, quem pode negar que o capixaba, de um modo geral, urbano ou rural, não é, em boa parte, reservado, meio tímido, observador, hospitaleiro, mas meio desconfiado, ligado à família, meio tranqüilo, mas trabalhador, voltado para um futuro melhor?

Etnicamente, porém, não há dúvidas. Assim como o brasileiro, é resultado de uma mistura de raças (branca + negra + amarela). Uma boa e feliz mistura. Vemos como foi surgindo o capixaba de hoje e se há como fundamentar parte do seu perfil.

O Espírito Santo, desde o século XVI, teve uma pequena população, em uma área também pequena. O português colonizador, descendentes e a população escrava permaneceram no litoral por quase 300 anos.

Os mineiros, no século XVIII, começaram a descer para o Espírito Santo, através da bacia do rio Itapemirim e até meados do século XX ocuparam todo o Oeste do Estado, até a bacia do São Mateus, no Norte. No Sul, chegaram para cultivar café, principalmente. Aquele que "trabalha em silêncio" foi o que mais povoou o Oeste capixaba, mas sem deixar de ser mineiro, pois foi para terras despovoadas. Fluminenses e paulistas, em pequeno número, também no século XVIII, dirigiram-se para o Sul, para a bacia do Itabapoana. A população negra, escrava, no Sul, em 1856, chegava a 1659 pessoas. Em 1876, chegava a mais de 11000. Sua descendência é bem visível, hoje.

Os imigrantes europeus, principalmente italianos e alemães, chegaram na 2ª metade do século passado. Mais do que os mineiros, eram reservados e trabalhadores. Muito religiosos e sistemáticos. Culturalmente muito distintos. Foram verdadeiros heróis ao ocuparem terras cobertas de matas das zonas serranas do Centro e do Sul. Junto com os mineiros, ocuparam o interior do Sul do rio Doce, cultivando principalmente café. Descendentes de ambos, hoje, ocupam todo o interior do Norte do Estado.

Os baianos ocupariam, neste século, mais os municípios do extremo Norte, tanto no interior como no litoral (S. Mateus, Montanha, Mucurici, etc.). Sua influência lá é expressiva. Ao Sul do rio Doce é nula. No Estado, em geral, não houve baianização do capixaba.

Aos poucos, do Norte ao Sul, no século XX, começou a miscigenação entre todos os tipos de elementos vindos para o Estado, dando inicio ao surgimento do verdadeiro e atual capixaba, pois, antes da grande fusão, seus filhos mantinham as características dos pais. Com a mistura, diminuíam as diferenças; aumentavam as semelhanças entre todas as gerações futuras.

O capixaba original e único, até então, era tido como o nascido na Ilha de Vitória, mais de origem portuguesa. Os primeiros a serem assim chamados, segundo a tradição, foram alguns índios pacificados que viviam próximo ao atual Clube Saldanha da Gama, onde possuíam uma pequena plantação de milho e feijão. O local, em uma planta da cidade de Vitória, de 1805, já se chamava "Bairro da Capixaba". Mais tarde o termo se estendeu a todos os nascidos no Estado. Tal nome, tradicionalmente, significa "roça, pequeno estabelecimento agrícola".

O capixaba genuíno, o da Ilha de vitória, logo também, já no final do século passado, começou a receber a presença de migrantes e imigrantes. Quanto mais Vitória crescia, mais aumentava a mistura para surgir o novo capixaba.

Durante todo o processo de "mutação" do capixaba, ele foi vendo seus vizinhos do Sudeste cresceram econômica e populacionalmente de modo rápido, por motivos distintos, principalmente a partir do século XVIII. Enquanto isso, "até poucos dias" (década de 1980), via seu Estado se desenvolver pouco e lentamente, sem expressão política, etc. Inconscientemente, isso sempre o incomodou. Estar rodeado de Estados fortes econômica e politicamente, sem poder medir forças com eles, nunca o agradou. Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo tornaram-se gigantes do lado dele. A capital paulista, logo ali, depois do Rio, recebe mais visitas do capixaba do que Belo Horizonte, muito mais próxima.

Será que isso teria levado o capixaba a se complexar, a se desanimar, a se acomodar ou, inconscientemente, a ter um desejo de lutar, de vencer, de mostrar que também é capaz? Parece que a história mostra que sempre foi um lutador.

Os cariocas sempre influenciaram o capixaba, porém mais pelas idas dele ao Rio do que pela vinda deles ao Estado, a não ser pela televisão. Comenta-se que Vitória e o Sul do Estado sempre foram um subúrbio do Rio. Sempre recebeu mais influência dos cariocas, mineiros e paulistas, inclusive como turistas, atraídos pelas praias. Por isso o capixaba é típico do Sudeste.

O capixaba que mais pode ter se descaracterizado é o da Grande Vitória, com a implantação de grandes indústrias (CST, etc), a partir da década de 1980, recebendo milhares de migrantes de outros Estados. Mas seu crescimento foi mais em função do êxodo rural e da migração oriunda de cidades do interior do próprio Estado. Recebeu mais capixabas, portanto, continua capixaba, ainda... e meio provinciano, como alguns afirmam.

Temos que admitir, finalmente, a poderosa influência da televisão, com a nacionalização do Rio e São Paulo, como um seriíssimo motivo para muitas mudanças no capixaba. Apesar de tudo o que foi exposto, fazendo um balanço geral, será que ainda não podemos dizer que o capixaba continua bastante capixaba? De tudo o que mais teria pesado para a formação do seu modo de ser e viver não teria sido o fato de ter, em 50 a 60%, sangue de imigrantes europeus em suas veias? Mais da metade de uma população de uma mesma origem não pesa? O sangue mineiro não é muito diferente. Dentre todos os elementos misturados, quem prevaleceu não importa, pois as diferenças unidas resultaram numa certa singularidade — o capixaba.

O capixaba tem dificuldade em traçar seu perfil psicossocial pelo fato, talvez, de tanto ter olhado para os outros que o rodeiam, muito mais numerosos, famosos, poderosos e bem sucedidos, que acabou deixando de olhar mais para si mesmo, de se valorizar e de se destacar, apesar de pouco numeroso. O capixaba existe; ainda existe; cada vez mais misturado, como sempre foi e será e sendo influenciado pelos vizinhos. Será absorvido um dia ou os "estrangeiros" serão absorvidos lentamente por ele, através do seu peculiar processo de se tornar capixaba?

 

Fonte: Os Capixabas, A Gazeta 14/12/1992
Autor: Miguel A. Kill
Pesquisa e textos: Abmir Aljeus, Geraldo Hasse e Linda Kogure
Fotos: Valter Monteiro, Tadeu Bianconi e Arquivo AG
Concepção gráfica: Sebastião Vargas
Ilustração: Pater
Edição: Geraldo Hasse e Orlando Eller
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2016

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