Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

Vende-se a capitania – Francisco Gil Araujo

Planta do Forte São João, Vitória - ES

Aliás, o governador geral desse período (1671-75) era o primeiro visconde de Barbacena, animador entusiasta dos caçadores de minas. Dele se conta que morreu de desgosto e melancolia por se ter perdido – com o falecimento de certo explorador – o roteiro de importante jazida de prata.(15)

Francisco Gil de Araújo(16) – com os olhos postos nas minas(17) – adquiriu a capitania de Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho, em 1674, após a licença del-rei (alvará de seis de julho daquele ano),(18) confirmada por carta regia de dezoito de março de 1675.(19) Quarenta mil cruzados foi a importância que Francisco Gil de Araújo pagou pelo Espírito Santo.(20)

Uma das primeiras providências do novo donatário foi embargar a jornada que José Gonçalves de Oliveira, capitão-mor, se propusera fazer até a região das esmeraldas.(21) Mercê de seu prestígio, ou porque Gonçalves de Oliveira era, definitivamente, “incapaz de empreender”(22) tal empresa, Francisco Gil de Araújo conseguiu revertessem em seu benefício todos os favores concedidos àquele – fornecimento de objetos e utilidades necessários à expedição, graças especiais aos que mais se distinguissem nas descobertas, cessão de índios de Cabo Frio e das capitanias do Rio de Janeiro e Porto Seguro.(23)

 

NOTAS

(15) - CAMPO BELO, Governadores Gerais, 84-5.

– Parece que as jazidas de prata eram as mesmas a que se referia o governador na carta de dez de julho de 1673, dirigida a Agostinho de Figueiredo, capitão-mor de S. Vicente (DH, VI, 244-7).

(16) - Francisco Gil de Araújo – Filho de Pedro Garcia (Múrias, Relação, 262) e de Maria de Araújo, descendia, por parte de sua mãe, de Catarina Álvares e Diogo Álvares. Pedro Garcia, “a quem chamavam o Velho, [era] mercador mui rico para aqueles tempos” (GÓIS, Francisco Gil de Araújo, 605).

Francisco Gil de Araújo veio a se casar, em data ignorada, com Joana de Araújo Pimentel, sua sobrinha (AFONSO COSTA, Genealogia, 131), de quem teve quatro filhos, entre eles Manuel Garcia Pimentel, “que herdou a casa de seu pai” (GÓIS, op. cit., 606).

RODOLFO GARCIA, resumindo-lhe a biografia, escreveu: “Francisco Gil de Araújo, soldado desde 1635, já era alferes quando Nassau invadiu a Bahia, em 1638, e governava naquela ocasião a companhia do mestre de campo D. Fernando de Lorena, com a qual defendeu o baluarte da banda do mar, tendo sido queimado no rosto e nas mãos por alcanzias que o inimigo lançou, só se retirando depois que os assaltantes o fizeram, pelo que obteve dois cruzados de vantagem cada mês sobre qualquer soldo que houvesse de ter” (DH, XVII, 333-5).

Em doze de junho de 1639, era capitão (ibidem, 334).

Entre os feridos do terço de D. Fernando de Lorena mencionou BRITO FREIRE (Nova Lusitânia, 545), o “Alferez do Mestre de Campo Francisco Gil de Araujo, depois Coronel nesta mesma Praça & esplendor da sua Republica, onde no esforço, & na liberdade se mostrou sempre magnifico como Soldado”.

Foi, de fato, personagem importante na sociedade colonial da época; ao coronel Francisco Gil de Araújo dedicou o padre SIMÃO DE VASCONCELOS a Vida do Veneravel Padre Joseph de Anchieta, Lisboa, 1672.

“Em 1660 foi juiz da Câmara da Bahia, e nesse caráter, vendo a falta de dinheiro que havia para socorro da infantaria, assistiu-a com pontualidade todo aquele ano nos socorros de cada mês com os subsídios dos vinhos e restos dos tesoureiros e recebedores das imposições e fintas passadas, que cobrou sem lançar outras de novo ao povo, serviço esse muito digno de prêmio” (Notas à HG, de VARNHAGEN, III, 299).

– Da lápide de sua sepultura, na catedral da cidade do Salvador, consta o seguinte: “Hic iacet / Franciscvs Gil de Aravio / Prefaectvrae spus sancte / Domine gubernator. Conditor magnifice patron / Singularis huius Maiollis sacerii / Quod / Santiss.º iesu nomine erexit in titulum / ipsis societi construvxit in monumento / sibiq ac posteris svis, posvit in cepulchro. / Obiit / anno domni M.DCLXXXV Decem XXIV.”

(17) - CALMON, Hist. Brasil, II, 320-1.

(18) - PENA, História, 71-2; JOSÉ MARCELINO, Ensaio, 27; DAEMON, Prov. ES, 121; MARQUES, Dicion. ES, 113; RUBIM, Notícia, 340, registram seis de julho. PEREIRA, Homens e Cousas, 9-10, consignou seis de junho.

(19) - GARCIA, Notas à HG, de VARNHAGEN, III, 299.

(20) - O seguinte trecho colhido n’A Capitania do Espírito Santo, de MÁRIO A. FREIRE, permite fazer idéia aproximada do valor por que foram vendidas as terras capixabas: “Pouco antes escrevera o padre Antônio Vieira, a respeito do que vira no Pará: ‘Tudo quanto há na Capitania do Pará, tirando as terras, não vale dez mil cruzados, como é notório’. Anos depois, afirmava o arcebispo da Bahia, escrevendo a André Furtado: ‘Toda a Capitania dos Ilhéus não vale, vendida, o que Vossa Mercê quer que se lhe dê para livrá-la dos tapuias’. André Furtado oferecera ao arcebispo cinco mil cruzados, a fim de livrar os moradores dessa Capitania das ‘hostilidades dos bárbaros’. Nesse tempo, um engenho real de açúcar absorvia, só na instalação, segundo Roberto Simonsen, cerca de dez mil cruzados. Construções privativas do homem de cabedal e governo, segundo Antonil, havia-os de quarenta, cinqüenta e sessenta mil cruzados” (op. cit., 77).

(21) - A catorze de agosto de 1675, Barbacena escrevia a José Gonçalves de Oliveira, à Câmara da vila da Vitória e ao governador do Rio de Janeiro sobre a viagem do primeiro, instruções sobre a entrega do governo à segunda, durante a ausência do capitão-mor e, finalmente, ordenando ao governador fornecesse cento e cinqüenta índios, para a expedição (DH, XI, 45-9). Pouco depois, devido ao embargo oferecido pelo donatário, o governo da Bahia desautorizava a entrada do capitão-mor (DH, XI, 58).

(22) - DH, LXVII, 189.

(23) - DH, LXVII, 179-91; DH, XI, 61-5. Na Seção de Manuscritos da BNRJ são encontrados documentos sobre a entrada de José Gonçalves de Oliveira e suas desavenças com Francisco Gil de Araújo nas seguintes cotas: I-8, 4, 17, n.º 6; I-8, 4, 17, n.º 8; I-8, 4, 17, n.º 18; e I-8, 4, 17, n.º 19.

 

Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, julho/2017

História do ES

A Ilha do Boi

A Ilha do Boi

Após a chegada de Vasco Fernandes Coutinho, donatário da capitania do Espírito Santo, ele fez a doação de duas ilhas: uma ao fidalgo D. Jorge de Menezes, hoje conhecida por Ilha do Boi, e a outra a Valentim Nunes, identificada por Ilha do Frade

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

O Espírito Santo na 1ª História do Brasil

Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576

Ver Artigo
O Espírito Santo no Romance Brasileiro

A obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro

Ver Artigo
Primeiros sacrifícios do donatário: a venda das propriedades – Vasco Coutinho

Para prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda

Ver Artigo
Vitória recebe a República sem manifestação e Cachoeiro comemora

No final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações

Ver Artigo
A Vila de Alenquer e a História do ES - Por João Eurípedes Franklin Leal

O nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto... 

Ver Artigo