O primeiro cinema de Vila Velha

Fonte: Livro ECOS DE VILA VELHA
Autor: José Anchieta de Setúbal

Vila Velha teve o seu cinema mudo na década de 1920. Ele se localizava à rua 23 de Maio, na Prainha. Esse cinema, chamado Cici, era propriedade de Durval Santos, conhecido como Tinininho. Como todo cinema mudo que se prezava, ele tinha seu fundo musical ao vivo, só que em vez do piano e do violino tradicionais, estavam presentes o violão e o cavaquinho tocados pelo casal Tanego Piratininga de Barros e Maria José Barros, respectivamente, que acompanhavam as cenas do filme. Mais tarde juntou-se à dupla Waldemar Bourguignon, que na época teria uns 14 anos e era carinhosamente chamado de Waldemar Cambota, pelo seu andar de pernas arqueadas.

No começo, o salão do cinema Cici não dispunha de cadeiras. Os espectadores tinham que levá-las de casa. Em dias de apresentação de filmes era comum verem-se famílias inteiras com seus filhos meninos na porta do cinema e cadeiras à cabeça. As crianças, na frente, diziam a senha ao transpor a porta: "Quem vem atrás paga." Atrás estavam os seus familiares ou alguém que se dispunha a pagar-lhes a entrada. Lá dentro os adultos se sentavam nas cadeiras, enquanto os transportadores ficavam em pé pelos cantos, encostados nas paredes ou mesmo sentados no chão. Os filmes eram divididos em atos. Quando terminava o primeiro, aparecia na tela a legenda: "Fim do 1º ato." Da mesma forma para o segundo, o terceiro e assim sucessivamente, até o último ato. Os filmes podiam ter de 1 a 7 atos e ao final de cada um deles acendiam-se as luzes para inserção de um novo rolo no aparelho projetor. Enquanto isso os músicos paravam de tocar, retomando assim que se apagava as luzes e recomeçava a projeção.

As sessões de cinema do Cici eram anunciadas pelas ruas de Vila Velha várias vezes num só dia. Os anunciantes ou pregoeiros circulavam com tabuletas de madeira penduradas às costas, do tamanho de uma meia porta, em que se fixava cartazes com cenas e título do filme. À tardinha, dois garotos, um de cada lado, levavam a tabuleta pelas ruas e iam gritando: "É hoje no Cici, belíssimo drama em 5 (ou 7) atos, O Conde de Monte Cristo. Cascudo." E concluíam: "Para conforto, não deixem de levar suas cadeiras! Criança só paga metade." O pagamento desses pregoeiros era a entrada grátis ao cinema, e para serem identificados exibiam à porta um dos braços marcados com uma cruz em tinta própria.