Visita de D. Pedro II ao Espírito Santo
Fonte:
Livro Viagem de Pedro II ao Espírito Santo
Autor: Levy Rocha
Enfim,
a chegada!
Pela
manhã do dia 24 de janeiro de 1860 a esquadrilha de
Suas Majestades Imperiais partia de Valença, Província
da Bahia, levantando âncoras da enseada do Morro de
São Paulo e seguindo por dentro dos Abrolhos, após
dois dias de viagem, avistava, aos albores do dia 26, os contornos
da serra de Mestre Álvaro, ponto de referência
da baía de Vitória.
Quando,
do topo do Monte Moreno, o
vigia descobriu as embarcações que demandavam
o porto, deu o sinal convencionado, acendendo uma girândola
de foguetes. Incontinenti, outra girândola foi acesa
pelo vigia da Fortaleza de São Francisco Xavier da
Barra, e ainda ao mesmo tempo, outra, da Fortaleza de São
João (N.R.: atual Clube Saldanha da Gama), elevava-se
alviçareira acima do penedo, pondo em alvoroço
os capixabas.
No
torreão do palácio governamental foi arvorada
a bandeira nacional e por dez minutos repicaram os sinos da
capela nacional, os de São Gonçalo, Santa Luzia,
São Francisco, Conceição, Carmo, Rosário,
Misericórdia e Matriz. Aquelas festivas badaladas também
marcaram as oito horas da manhã.
Tocou-se
imediatamente, chamada da Guarda nacional e de 1ª Linha,
para a formatura em honra dos augustos visitantes.
As
embarcações ancoradas, os escaleres e os barcos
particulares, embandeiraram-se e, obedecendo às instruções
expedidas pelo capitão do porto, formaram em alas,
“no intuito de facilitar-se a passagem da esquadrilha
até o ancoradouro e o trânsito até o desembarque
no Cais das Colunas”, conforme o programa.
“Tudo
pôs-se em movimento – escreveu o correspondente
do Jornal do Comércio – a Vitória despertou
de seu contínuo letargo, em todos os semblantes divisava-se
ansioso esperar pela honra do desembarque.”
Quando
o Apa, navio que conduzia Suas Majestades Imperiais,
à frente da esquadrilha, passava entre a ponta Ucharia
e o rio da Costa, aproximando-se
da Fortaleza de São Francisco Xavier da Barra, a qual
servia para tomar o registro dos navios de cabotagem, prestando
as devidas continências, os canhões da fortaleza
abriram a salva de 21 tiros, enfumaçando em torno da
grande bandeira auri-verde imperial, lá hasteada; a
mesma que impressionara, pelo tamanho, o pintor François
Biard, na sua chegada.
Além
de Dom Pedro II e sua consorte, a Imperatriz Dona Teresa Cristina
Maria, viajava naquele navio capitânia, pequeno séqüito:
o Conselheiro de Estado, Cândido José de Araújo
Viana, Visconde de Sapucaí, como Camarista; Conselheiro
Luís Pedreira do Couto Ferraz, ex- governador da província
(1846-1848), futuro Barão e Visconde de Bom-Retiro,
como Viador; Conselheiro Antônio Manuel de Melo –
Guarda-roupa; Dr. Francisco Bonifácio de Abreu –
Médico da Câmara; Dr. Antônio de Araújo
Ferreira Jacobina – servindo de Mordomo; Cônego
Antônio José de Melo – Capelão;
Dona Josefina da Fonseca Costa – Dama de S. M. a Imperatriz;
mais alguns criados e criadas do serviço doméstico
de S. S. M.M I.I. Também acompanhavam a S. S. M.M.
o Conselheiro João de Almeida Pereira Filho –
Ministro e Secretário de Estado dos Negócios
do Império e o seu Oficial-de-Gabinete, Dionísio
Antônio Ribeiro Feijó – 1º Oficial
da Secretaria do Império.
Antes
que o Apa atingisse o começo da garganta que
a baía forma em frente ao Penedo ou Pão-de-Açúcar
e à Fortaleza de São João, antiga guardiã
da entrada da capital, disparava esta os seus canhões
cuja mudez permitia a familiaridade das teias de aranhas,
ramos de matos e camaleões.
O
correspondente do Jornal do Comércio registrou: “Ao
passar pelas fortalezas foram Suas Majestades saudadas com
as salvas que lhe são devidas, as quais correram regularmente,
ao inverso do que quase sempre há acontecido, pelo
mau estado da artilharia, pelo que não poucos desastres
tem havido.”
O
Imperador, a quem não escaparam os principais detalhes
da viagem, após esquadrinhar os horizontes com o binóculo
e a olho nu, pequeno lápis em punho , anotou na sua
caderneta de bolso;
“Entrada
do Espírito Santo, do lado do Sul Moreno;
Penha; Mestre Álvaro do
lado do Norte que se vê com tempo claro até 60
milhas ao mar; baixos do Burro e Cavalo ao Sul e da Baleia
ao Norte; ilha do Boi, do Des. Souto forte do Moreno; Vila-Velha
na base da Penha; portão e nicho no começo da
subida para a Penha; Pão d’Açúcar
ao Sul; forte de São João ao Norte; Jucutucoara
o do lado N., com seu mamilo sobre o comprido de granito no
alto da montanha, boa casa; do Monjardim, genro do Capitão-mor
Francisco Pinto do lado do Sul sítio da Pedra d’Água,
ou de Santinhos.
Fundeamos
perto da ponte de desembarque às 9, ¾. Desembarque
ao meio-dia.”
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