Costumes da nossa gente
Livro:
Vila Velha de Outrora, Vitória, 1990.
Autora: Maria da Glória de Freitas Duarte.
Quando
se queria conversar com alguém de modo que outras pessoas
não entendessem, usava-se uma linguagem confusa. Havia
várias delas. As mais comuns eram assim:
“Vopô cepê gópos tapá depê
mipim? Ou então:
Vofaim cefaim gosfaim tafaim defaim mimfaim?”
E assim conversava-se o que se queria que outros não
percebessem.
Vila Velha tinha seus vários costumes bem interessantes
que hoje são recordados com ternura por aqueles que
os usavam. Qual a pessoa antiga de Vila Velha que não
se recorda com saudade dos casamentos em que o cortejo nupcial
com noivos, pais, padrinhos e convidados, desfilavam pelas
ruas, a pé, até a igreja, onde o padre os esperava?
Os noivos mais abastados, o que era raro, armavam um altar
em casa e o casamento se realizava sem a beleza e a graça
do desfile.
Era hábito nas famílias de menores recursos
curar as doenças sem recorrerem ao médico. Usavam
os remédios caseiros como: chá de erva cidreira,
para curar dor de barriga; chá de quebra pedra, para
os rins, chá de flor se sabugueiro, para “sair”
sarampo, etc...
Os mortos eram levados para o cemitério em redes.
Na quinta-feira Santa os garotos costumavam fazer uma caveira
de mamão verde, furando-lhe os olhos, rasgando-lhe
a boca e colocando uma vela acesa dentro. Enrolavam-se num
lençol e saíam à noite gritando: “Bão...
bão...bão... pega ele. Bão... bão...bão...
lá vai a morte com seu capote...”
Outro costume bem usado pelos jovens quando queriam se comunicar
com suas “giriobas” como chamavam as namoradas,
era o uso do “Dicionário das Flores”. Os
pais antigos não deixavam suas filhas “fazerem
tijolo”, isto é, namorarem. Então os “mancebos”
recorriam às cartas, cujos modelos encontravam-se em
livros próprios, a às flores, cada qual com
seu significado:
Perpétua – constância eterna.
Amor-Perfeito – quero-te muito.
Flor de Sabugueiro – último recurso.
Alecrim – tristeza.
Resedá – teus encantos me encantam.
Rosa – castidade.
Girassol – obediência.
Violeta – humildade.
Sempre-viva amarela – hei de amar-te até morrer.
Sempre-viva roxa – bem querer, etc...
E para toda necessidade de comunicação encontravam
uma flor que substituísse as palavras. Se hoje, o amor
entre os jovens, com tanta liberdade e facilidade, ainda é
a coisa mais bela do mundo, pensemos naqueles tempos com tantas
dificuldades e apreensões, como isto não tornava
o amor ainda mais sublime!...
As moças, além das flores, enviavam suas mensagens
através do leque:
O leque encostado nos olhos – vou dormir.
Caindo no colo – namoro acabado.
Mordendo o leque – ciúmes.
Abrindo e fechando – convite para passeio.
Batendo na mão – espere carta.
Abanando de encontro ao coração – você
é meu.
As cantigas de ninar usadas pelas pretas velhas embalando
carinhosamente seu “sinhozinho”, e pelas mamães
que as transmitiam às filhas, através das gerações,
também constituem um bem inestimável para a
nossa sensibilidade:
“Acordei de madrugada.
Fui varrer a Conceição,
Encontrei Nossa Senhora
Com um raminho na mão.
Pedi
um raminho,
Ela me disse que não,
Tornei a pedir,
Ela me deu seu cordão.”
Costumes, usanças e divertimentos singelos, ingênuos,
afetivos, que ficaram no passado superados pelo modernismo
prático e materialista.
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