O teatro em Vila Velha
Livro:
Vila Velha de Outrora
Autora: Maria da Glória de Freitas Duarte - 1990
O
teatro de Vila Velha vem de tempos bem remotos. Algum tempo
depois de iniciada a nossa colonização, os jesuítas
escreviam peças de fundo religioso, como o auto "Na
visitação de Santa Izabel", escrita em
1597, pelo Padre José de Anchieta e que foi representado
em frente da Igreja de Vila Velha.
Os
primeiros teatrinhos tinham o nome de "entremez"
(curta apresentação jocosa e burlesca). Eram
realizados em palcos armados na rua e a assistência
sentava-se em esteiras ou bancos.
O
teatro vilavelhense se tornou famoso não só
pela boa direção do ensaiador, mas também
pelo perfeito desempenho dos artistas, rapazes e moças
das famílias locais, entre outros: Elpídio Quitiba,
João Carneiro, Henrique Caldeira, Nenem e Augusto Aguiar,
Manoel Duarte de Freitas, Alcides Rodrigues, Antônio
e Adolfo Barcelos, Cleto Rodrigues que, sempre representando
o "cínico" da peça, se revelava um
ótimo ator, pois fora do palco eram bem o inverso do
que representava. Era um homem probo, honesto e de conduta
irrepreensível. O Sr. João Ramires, era especializado
em papéis cômicos. Recordamos da sua austera
figura de homem íntegro e respeitável, muito
ao contrário dos personagens que, na sua mocidade,
tão bem representava nos teatrinhos. Os pobres encontravam
nele um protetor solícito. Era o médico "homeopata"
daqueles tempos, distribuindo o remédio para o corpo,
acompanhado de um lenitivo para o espírito, sob a forma
de uma palavra amiga e confortadora para aqueles que dela
precisavam.
Além
destes, Pedro e Nilo Nobre, Acelino Lopes, que se vestia de
moça, pois naqueles tempos mais antigos as moças
não tomavam parte em teatrinho.
São
conhecidas várias passagens pitorescas, inclusive anedotas,
dos teatrinhos de Vila Velha. Os artistas não se apertavam
em cena e lançavam mão de todos os recursos
para não fracassarem nos seus papéis.
Certa
ocasião um protagonista de um drama devia assassinar
seu inimigo (que trazia escondido no peito um papo de galinha
cheio de sangue, para ser furado no momento azado). No ato
de receber a punhalada, a "vítima", com medo,
fez um movimento brusco e o papo rola no palco. O "assassino"
não se altera: sai atrás do papo apunhalando-o
enquanto exclamava: "miserável, vais morrer..."
De
outra feita, o marido traído entra em cena e diz: "que
cheiro de papel rasgado!" Isto porque dos bastidores
ele observou que a mulher, não achando os fósforos
sobre a mesa, rasgou a carta do namorado ao invés de
queimá-la.
Um
rapaz ensaiou durante vários meses o seu papel que
constava apenas do seguinte: aos gritos de "pega-ladrão",
teria de entrar em cena armado com um cacete e dizer: "para
ladrão temos cacete". No dia da apresentação,
entra no palco muito nervoso e sai-se com esta: "para
cacete temos ladrão".
Certa
vez, Acelino Lopes fazendo seu papel de "moça"
desmaia em cena, sendo imediatamente socorrido pelo "médico"
(Augusto Aguiar). Na afobação a cabeleira postiça
da "moça" agarra no botão do paletó
do "médico" e quando este saiu para apanhar
água, dá-se o desastre...
Distribuíam-se
programas do teatro. Aconteceu que, de certa vez, houve no
mesmo dia distribuição de impressos com propaganda
de cintas elásticas para homens, exibindo um homem
usando somente a cinta. A empregada da família de uma
jovem "artista", preta velha e analfabeta que muito
a estimava, pensando ver na propaganda um dos artistas do
teatro, exclamou: "só admiro Dª Yayá,
que é tão cuidadosa, deixá Gorita representá
com Docé (Diocécio) nu."
Mais
tarde, isto é, há uns 40 anos, os teatrinhos
de Vila velha contavam com figurantes bastante treinados,
verdadeiros artistas como: Lúcio e Nilo Bacelar, Clementino
Barcelos, Miguel Aguiar, Diociécio G. Lima, João
Saliba, Elógio Barcelos Duarte de Freitas, Antônio
Souza Rodrigues (Canico), Emiliano dos Anjos, Ernani e Romeu
Silva e muitos outros. Os "pontos" dos teatros eram:
o estimado Joaquim Junqueira, e mais tarde, o saudoso Saturnino
Rangel Mauro.
Senhoritas
daquele tempo, hoje vovós, adornavam os palcos de Vila
Velha. As artistas mais famosas daquele tempo eram: Pepenha
e Adília Barcelos, Pepenha e Glorinha B. Freitas, Marina
Marcelos, Edina Paiva, Zilda Caldeira, Nilda Coelho, Nely
e Maria Queiroz, Mirtes Viana, Iracema e Maria Leão,
Honorina Machado, Euclídia Silva, Lotinha, Yvoninha
e Dirinha Carvalho, Jacira Silva, Djanira e Maria Aldécia
Cruz e muitas outras.
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