Festejos de Natal: Reis
Fonte: Vila Velha de Outrora
Autora: Maria da Glória de Freitas Duarte
Como
o "Reisado", o Reis era também apresentado
no dia consagrado àqueles que, ao verem a estrela anunciando
o nascimento do Messias, iluminados pela graça, deixaram
seus palácios e, sem esmorecimento, empreenderam a
longa caminhada, sempre guiados pela estrela para, em profunda
e ardente adoração, oferecerem ao Salvador,
ouro, incenso e mirra - Os Reis Magos.
O
Reis foi introduzido em Vila Velha pelo Padre Antunes de Sequeira.
Filho de Vitória, onde nascera a 3 de fevereiro de
1832, muito ilustrou a sua terra com sua brilhante inteligência.
Ordenado em 1854, no Seminário São José
do Rio de Janeiro, foi um digno representante da inteligência
capixaba.
Poeta,
escritor, orador sacro dos mais admirados, latinista erudito,
foi, sobretudo, um sacerdote humilde, procurando o modesto
povo de Vila Velha para com ele passar uma grande parte da
sua vida, só o deixando quando da sua morte a 29 de
novembro de 1897.
O
primeiro Reis cantado em Vila Velha foi de sua autoria. Veja
o estribilho:
"Alegres
mortais
vinde adorar!
o Deus feito homem
nos veio salvar."
Desde
esse tempo, o Reis aparecia de vez em quando para que o povo
de Vila Velha não esquecesse este acontecimento de
tão profunda e admirável significação.
Havia,
também o Reis do Sr. Anselmo Cruz, que filho da pátria-irmã
- Portugal - logo aprendeu a amar nossa terra, fazendo-a sua
nova pátria. Extrovertido, comunicativo, bem-humorado,
o Sr. Anselmo procurava levar aos outros a sua alegria, proporcionado
aos filhos da terra um divertimento sadio, com a apresentação
do seu bem ensaiado Reis, com o qual recolhia presentes que
eram distribuídos aos menos favorecidos da sorte, por
sua esposa Dª Celeste e outras damas.
Em
príncipios de janeiro, Filogônio Pacheco endereçava
cartas às famílias que recebiam a visita do
Reis. Eis na íntegra, os termos da missiva:
"Exmo.
Sr.
Os Reis Magos, que viajam do Oriente, com o fim de anunciar
o nascimento de Jesus Redentor, chegarão a estas plagas
na noite de 5 do corrente.
De passagem por esta cidade, participam a V. Exa. e Exma.
Família, que terão o grande prazer de levar
ao vosso lar a sua visita, onde esperam ser recebidos com
as honras da pragmática.
Gaspar, Belchior, Balthazar.
Rio, 2 de janeiro de 1926."
Na
noite de 5 de janeiro o harmonioso grupo saía visitando
as famílias previamente avisadas pela carta. Na chegada
cantava (veja trecho):
"Aqui
estão os pastores
Vieram anunciar
Que nasceu o Deus Menino
Veio ao mundo nos salvar."
Após
pequena pausa, continuava o canto com outras melodias ainda
do lado de fora (trecho):
"Queremos
entrar... queremos entrar...
Para descansar... para descansar...
Dormir não queremos...dormir não queremos...
Pois temos que andar... pois temos que andar..."
Batendo
na porta que se conservava fechada, pois assim era o uso,
o grupo cantava:
"Agora
abri a porta
Desejamos descansar
aceitando vossa oferta
Podemos nos retirar."
Logo
que se abria a porta, Abrahão Fernandes saudava a família
visitada, gritando várias vezes "Boas festas",
razão porque ficou muito tempo conhecido como Abrahão
"Boas festas". Entrando, continuava o canto (trecho):
"Queremos
doces e frutas
Que sejam do nosso agrado
E não tendo o que pedimos
Aceitamos milho assado."
Colocada
a oferta no saco, cantava-se um versinho alusivo ao dono da
casa, como este (trecho):
"Dr.
Melo gosta de dar
Quenopódio pra gente tomar
Dr. Melo, remédio não,
Nosso bloco está todo são."
A
apresentação de Reis era encerrada com animado
baile, onde eram servidos aos componentes do grupo pães
recheados à moda de Portugal, cangica à brasileira
e outras iguarias.
Nas
últimas vezes que o Reis foi apresentado em Vila Velha,
foi dirigido pelo Sr. Clementino Barcelos que, com entusiasmo,
amor e carinho, ensaiava moças e rapazes para, às
portas das famílias amigas, cantarem lindos versos
exaltando as figuras dos Reis Magos que, com gesto de adoração
a Cristo, nos deixaram belo exemplo de piedade cristã
e fé.
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