O Natal e seus festejos
Livro:
Vila Velha de Outrora
Autora: Maria da Glória de Freitas Duarte
NATAL,
festa máxima da cristandade! Como hoje, também
a Vila Velha antiga se preparava para este grande dia.
A
residência do Desembargador Ferreira Coelho muitos dias
antes movimentava-se e era ornamentada pela beleza das jovens
que tomavam parte nos ensaios da LAPINHA, representação
trazida por ele, de Pernambuco em 1901.
Com
que dedicação realizava os ensaios! E, com a
paciência de um monge, ia aos poucos vencendo a timidez
tão natural nas jovens daquele tempo. Quanta diplomacia
tinha de empregar, quando, ainda nos ensaios, os ânimos
se alteravam pelo entusiasmo dos partidos - "Cordão
Azul" e "Cordão Encarnado". Mas todo
sacrifício era recompensado pelo êxito da apresentação
na noite de Natal.
Convidados
especiais não só da cidade mas também
da Capital, inclusive, de certa feita, o Presidente do Estado,
Coronel Henrique Coutinho, prestigiavam o ensaiador com suas
presenças. A banda de música da Polícia
Militar compareceu algumas vezes dando maior brilhantismo
à festa.
Bandeiras,
bandeirolas, faixas, tronos, coroas, fogos, bandejas de balas
e tantas outras surpresas eram preparadas às encondidas
pelas famílias, para homenagear seus partidos.
Vestidos,
gravatas, lenços e roupas das crianças, tudo
azul e encarnado. A cidade nesta noite quase se coloria só
de azul e encarnado.
A
representação significava a aparição
de um anjo aos pastores, anunciando o nascimento d´Aquele
que salvaria a humanidade.
As
mocinhas vestidas de branco com faixa da cor do seu partido,
chapéu de palha com flores, representavam as pastorinhas
que, dançando e cantando versos alusivos ao grande
acontecimento, acorriam ao presépio armado no fundo
do palco, para adorar o Menino Jesus e lhe oferecer prendas.
Em
uma fila ficavam as pastorinhas do "Cordão Azul"
com sua Contramestra e Libertina, que se destacavam dentre
as demais porque se apresentavam sozinhas, exibindo lindas
fantasias.
A
Libertina representava uma moça leviana que se deixou
conquistar por um belo jovem (o diabo disfarçado) e
se apresentava diversas vezes sozinha cantando versos referentes
ao seu amado. Mais tarde, após ser aprisionada pelo
dito cujo, é salva pelo Anjo Gabriel.
Na
fila do lado oposto, as pastoras do "Cordão Encarnado"
também com sua Mestra, Cigana, Graça e Flora,
em cujas apresentações isoladas davam um espetáculo
de beleza e graça. A Cigana se destacava de suas companheiras
pela beleza de sua fantasia que realçava sua figura
quando se apresentava no palco para cantar.
A
religião encabeçava a fila do "Cordão
Encarnado" e era também chamada a Mestra. Vestia-se
com um belo manto de cetim vermelho, portando um cetro.
Para
representar a Graça do "Cordão Encarnado"
era escolhida sempre uma jovem muito bonita, que fizesse jus
aos versos que cantava.
A
Flora sobraçava uma cesta de flores.
O
Desembargador Ferreira Coleho apresentou a Lapinha até
1914.
Onze
anos depois, embora não residindo mais o Desembargador
Coelho em Vila Velha, a Lapinha foi novamente apresentada
para alegira do seu povo. Desta vez o apresentador foi o Sr.
Clementino Barcelos, a quem Vila Velha muito deve, pois mesmo
desconhecendo a importância da conservação
destas tradições populares como a Lapinha, Reis
e outras, muito fez.
Voltou,
então, a Lapinha a ser apresentada durante muitos anos,
porém com fantasias mais atualizadas, inclusive baianas.
Em
diversos números, as pastorinhas cantavam bailando
e batendo pandeiros.
Desde
a sua primeira apresentação pelo Sr. Clementino
Barcelos em 1925, após um recesso de 11 anos, a Lapinha
nunca foi esquecida, pois de vez em quando é apresentada
em Vila Velha. Assim tem sido nos anos de 1925, 1927, 2932,
1935, 1940, 1944, 1960, entre outros.
No
decorrer desse período, 2 gerações tomaram
parte na Lapinha. Da citação de participantes
que, a seguir, fazemos, constam nomes de pais e filhos. Nair
e Araci Botelho, Emília e Maria do Espírito
Santo, Mário Braga, Alfredo Leite, Adir e Altair Feu,
Titila Guimarães, Ivete Jorge, Marina Bermudes, Venícia
Torres, João Barcelos, Eunice Guedes, Aurete e Siltes
Freitas, Marina Pitanga, Dilma e Dicla Leão, Ormi Viana,
Maria José Zamborlini, Sinaura Valadares, Isis Zata,
Aurete Machado, Joana Maria Mauro, Marli Caldeira, Penha e
Alzirinha Silva, Célia Marta Pitanga, Regina Helena
Silveira, Regina Lúcia Barcelos e Mauro Machado.
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