Ilha dos Bentos
Fonte:
VILA VELHA - Seu passado e sua gente
Autor: Dijairo Gonçalves Lima
O
antigo sítio Ilha dos Bentos é hoje um bairro
com o mesmo nome. Confronta com os bairros Boa Vista (antiga
sesmaria) e Vila Nova, em Vila Velha. No local ainda existe
um córrego parcialmente coberto por manilhas. A parte
descoberta é protegida por pequeno muro gabião.
Pessoas antigas informam que além do regato, hoje totalmente
poluído, a pequena elevação era circundada
por terrenos alagadiços. Daí o nome de ilha.
Por se tratar de um bairro bem populoso, torna-se difícil
ou até impossível encontrar ali qualquer ruína
ou vestígios de construção com mais de
400 anos.
O
Mosteiro
Em
1589, no governo de Luíza Grinalda, aqui chegaram,
vindos da Bahia, dois beneditinos, o frei Damião Fonseca
e o irmão-donato de nome Basílio. Acalentavam
o propósito de construir um mosteiro em Vila Velha.
Muito bem recebidos pela governadora, esta lhes ofereceu uma
casa construída numa elevação situada
na sesmaria Boa Vista, recebida por doação de
seu marido Vasco Filho. Depois de o mosteiro ser ali instalado,
a elevação passou a ter o nome de Ilha dos Bentos.
Mais tarde, em 1594, todo o sítio, inclusive a Ilha
dos Bentos, foi oficialmente doado à ordem dos beneditinos.
Talvez a grande distância entre a propriedade rural
e a sede da Capitania haja desencorajado os religiosos a permanecer
no local, pois na vila de Vitória a ordem havia iniciado
a construção de um convento em terras também
doadas pela governadora. O certo é que, tempos depois,
a sesmaria Boa Vista com a Ilha dos Bentos passou para o domínio
dos franciscanos que arrendaram o sítio a terceiros.
Em petição dirigida ao imperador Pedro II, no
ano de 1874, a Ordem Franciscana do Rio de Janeiro requereu
providências ao monarca para que o governo da Província
do Espírito Santo não permitisse a doação
do citado sítio a determinada pessoa que alegava tratar-se
de terrenos devolutos.
Em dezembro de 1591, a mesma governadora fizera à Igreja
doação da colina em cujo topo de granito foi
elevada a ermida da Penha com “todo o chão e
terra desde o pé do dito monte até o cume...”
A
Petição
Petição
manuscrita por
Francisco de Almeida e Silva ao imperador Pedro II
"Senhor.
O Padre Provincial da Ordem Franciscana do Rio de Janeiro,
vem respeitosamente perante Vossa Majestade Imperial Requerer
providências e a cautella d’uma parte do seu patrimônio
ameaçada de usurpação por meio sub-repticio.
Desde tempo imemorial a Ordem é senhora e possuidora
d’uns terrenos situados na Província do Espírito
Santo, junto a villa do mesmo nome, denominada Ilha dos Bentos.
Trouxe-os quase sempre arrendados e recebeu a renda sem duvida
nem contestação de differentes arrendatários.
Ultimamente o Suppte leo na Gazeta Espírito Santense
publicada na Capital d’aquella Provincia na parte do
expediente do Governo, em resumo, a petição
de Francisco d’Almeida e Silva, requerendo que lhe fossem
dados aquelles terrenos reputando-os devolutos assim como
viu o Suppte o despacho mandado ouvir a Câmara Municipal
e como pela legislação em vigor incumbe ao Governo
Imperial defender o patrimônio das ordens Religiosas,
vem o Suppte não só denunciar o facto, que prova
com o documento junto, como implorar as necessárias
providenciais afim de prevenir o esbulho premeditado.
O Suppte beija as mãos de Vossa Majestade Imperial.
E.P. Mce
Comtº de Stº Antº da Costa (ilegível)
outubro de 1874.
Fr. João do Amor Divino Costa"
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