Estrada de Ferro Vitória Minas
Fonte:
Revista Nos Trilhos - outubro/2005
Texto: Roberta Palma
Era
o início do século 20. Os primeiros automóveis
a gasolina eram produzidos nos Estados Unidos, enquanto o
brasileiro Alberto Santos Dumont projetava o 14 Bis e realizava
seu primeiro vôo, que ocorreu em 1906, na França.
No Brasil, a população vivia os primeiros anos
da República, deixando para trás o período
imperial e vislumbrando um futuro de muito desenvolvimento.
Café, madeira e minério chegavam aos portos
do país no lombo de jumentos e, embarcados em navios,
seguiam para a Europa e América do Norte, ampliando
as fronteiras da economia brasileira por meio das exportações.
Para impulsionar a produção nacional e o crescimento
do interior do país, o governo federal lançava
incentivos para a construção de ferrovias ligando
as diversas regiões nacionais, com o objetivo de trazer
as riquezas para o litoral e levar o progresso.
Foi nesse cenário que o engenheiro Pedro Nolasco desenhou
o traçado da Estrada de Ferro Vitória a Minas.
Sua idéia inicial era construir uma ferrovia partindo
do litoral capixaba rumo a Diamantina, no interior mineiro,
para escoar toda a produção agrícola,
de pedras preciosas e de madeira. Com a ajuda financeira de
seu sogro, o marquês de Sapucahy, e de investidores
estrangeiros, o apoio político do deputado baiano João
Neiva e a mão-de-obra de trabalhadores vindos em grande
maioria do Nordeste brasileiro, Nolasco e seu grupo superaram
dificuldades. Calor, chuvas, pântanos e rochas não
impediram o avanço dos trilhos. Em 13 de maio de 1904,
foram inaugurados os primeiros 30 quilômetros da linha,
ligando os municípios capixabas de Cariacica e Alfredo
Maia.
Em menos de quatro anos, já haviam sido assentados
mais de 300 quilômetros de trilhos, que chegavam ao
território das Minas Gerais. Nessa época, eram
as locomotivas a vapor que cruzavam a divisa dos Estados puxando
vagões de carga. O trem de passageiros se resumia a
um único carro para 40 pessoas. Mesmo assim, “as
plataformas das estações regurgitavam de povo,
homens usavam guarda-pó por causa da fuligem da maria-fumaça,
enquanto as senhoras se vestiam sobriamente”, segundo
explica o escritor Ceciliano Abel de Almeida.
A descoberta do minério de ferro provocou uma mudança
nos rumos da Vitória a Minas. Diamantina deixou de
ser o objetivo final. Tornou-se necessário fazer com
que o minério extraído das minas de Itabira
e região chegasse até o porto no Espírito
Santo. Assim, em 1932, a linha chegou a Nova Era, com a inauguração
da estação de Desembargador Drumond, para onde
as cargas de minério eram levadas em carros de boi,
vindos do Morro do Cauê, em Itabira. A uma velocidade
máxima de 30 quilômetros por hora, as tradicionais
locomotivas levavam mais de 30 horas para completar o percurso
entre Cariacica a Nova Era.
Pouco depois, a Estrada de Ferro Vitória a Minas perderia
seu idealizador, Pedro Nolasco. Mas sua morte não acabou
com o sonho da ligação entre mar e montanha.
“Os trilhos seguiam, como a vida, entre altos e baixos,
empurrados por gente como João Linhares, João
Chrisostomo Belesa, João Teixeira Soares e Eliezer
Batista”, conforme historiador Antônio Tavares
Paula.
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