A Bossa em Vitória
Vitória
esteve afinada com este movimento musical desde o seu nascedouro.
Os músicos locais iam se entusiasmando com a bossa
nova, ainda pouco conhecida e, aos poucos, a batida e a harmonia
já estavam diferentes, enquadradas no moderno. Até
o clássico Maurício de Oliveira participava
com entusiasmo dos nossos encontros madrugada adentro na praça
Costa Pereira. Algumas coincidências felizes fizeram
com que os ventos da Bossa Nova chegassem a Vitória.
João Gilberto, que revolucionou a batida, os acordes
do samba e a forma de cantá-lo, baixou aqui para uma
longa lua de mel com Astrud, sua primeira mulher. O Sérgio
Ricardo, um compositor inspiradíssimo, cantor que se
acompanha em vários instrumentos, veio a Vitória
a meu convite e acabou se apaixonando por uma linda jovem,
com quem nunca sequer conversou. Já meio enturmado
com os caras locais, tinha razões de sobra para voltar
inúmeras vezes aqui para fazermos serenatas em Vila
Velha. O Tamba Trio veio com Ronaldo Boscoli fazer um show
com a também capixaba Maysa e acabaram alugando uma
casa e ficaram por aqui. Foram muitos os exempos, como estes,
que ofereceram chance aos músicos capixabas de se atualizarem
com as novidades musicais.
Jorge
Saad, antes mesmo dos 18 anos, já coordenava ao piano
o conjunto Jorginho Saad, recém-criado com Afonso Abreu,
um irreverente, irrequieto e muito alegre contrabaixista,
e o Mário Rui, baterista que foi seduzido por Afonso
a trocar de conjunto, saindo do Gato Preto. Integrava ainda
o grupo Honório Ramalho (Zé Colméia)
que, apesar de excelente saxofonista, foi obrigado a deixar
o time porque, com frequência, o Afonso se divertia
roçando por trás, pela perna dele acima, a baqueta
do baterista, sempre nas horas dos agudos, deslizando-a até
os lugares mais delicados do corpo. Além do Honório,
Afonso também teve momentos de frustração
ao ver, tempos depois, o seu baixo acústico navegando
e naufragando nas águas do Iate. Quanta brincadeira
de mau gosto!
O
conjunto de Hélio Mendes era o mais sofisticado e também
mais tradicional, com Maurício Oliveira (guitarra),
Cícero Ferreira (trompete e vocal), Marinho Carlos
(acordeon), Moacyr Barros (sax e clarinete), Betinho (bateria)
e Edílio (baixo). Tinha uma agenda cheia que os obrigava
a ficar com o pé na estrada.
O
Gato Preto, que atuava muito na região no Parque Moscoso,
era também um conjunto inovador, e tinha no titular,
José Anselmo, o seu grande charme. Ele tocava um violino
lindo e afinado, instrumento que estava sendo apresentado
à música popular por Fafa Lemos, nacionalmente
aplaudido na época por participar das inigualáveis
apresentações do Trio Surdina. O bandolim era
também uma das habilidade musicais de José Anselmo,
que continua produzindo lindas melodias.
Fonte: Crônica de Carlos Lindenberg Filho
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