O
Pórtico do Convento da Penha
POR
JAIR SANTOS
Certa
vez, quando estudávamos a história da
fundação do Estado do Espírito
Santo, na Casa da Memória de Vila Velha, houve
uma pergunta a respeito do antigo Portão dos
Fiéis, de difícil resposta.
- O que
nos dizem aquelas duas figuras humanas moldadas no “frontispício”
desse portão? Por não se conhecer nenhuma
citação delas, o assunto saiu da pauta
dos trabalhos... Mas a questão, não me
saiu da cabeça. Alguns dias depois, em nova reunião
de estudos, reabri o tema. Segundo nosso imaginário,
apresentei uma hipótese, coma seguinte explicação:
- diz o nosso dicionário que, “Frontispício”
significa: Portada, Fachada principal, Rosto, ou Face.
Sendo este Portão de acesso, bonito e construído
tal qual a fachada de um templo, quis o artesão
da construção da época colonial
representar nele a figura de dois colonos portugueses
(veja na ilustração), suas roupas, seus
chapéus, etc. É possível que sejam
eles, dois nobres colonos portugueses, como foram Vasco
Fernandes Coutinho e Dom Jorge de Menezes, a quem o
Capitão Vasco, deu como sesmaria a Ilha do Boi.
Poderão ser também as figuras dos fraternos
amigos da frei Pedro Palácios, mencionados por
Jaboatão, embora tenha sido ali colocado há
um ou dois séculos depois, o que justificaria
o comentário de J.J. Gomes Neto quando disse
em Maravilhas da Penha – “após sua
morte, seus sucessores e coadjutores, foram os fiéis
intérpretes do seu pensamento”.
- Mas,
por que iriam os construtores fazer esse tipo de coisa?
Ao que acrescentei: o “Frontão” ou
parte superior dos edifícios, de forma triangular
ou em forma de arco era, exatamente, onde eles costumavam
anunciar o que havia de bom, de belo ou de muito importante,
na região. Faziam também enfeites em forma
de arabescos com a argamassa de revestimento.
A título
de observação... Leia, agora, por que
este autor fez questão de desenhar, minuciosamente,
o Pórtico desta ladeira antiga.
Por ter
sido criado na região da Praínha, ali
estava, diariamente, envolvido nos folguedos infantis,
acostumado a olhar estas obras históricas; o
Portão Antigo, a Gruta de frei Pedro Palácios
e o Oratório.
Muitos
anos transcorreram sem que se fizesse ali nenhum serviço
de conservação ou de manutenção.
Por causa desse desleixo, não me lembro de ter
observado esse pórtico na sua completa originalidade.
Até que, no ano de 2003, fui surpreendido, ao
ver um restaurador montando um andaime de ferros, na
frente. Fui conversar com ele e, gentilmente, ele me
contou que, estava chegando e começaria um trabalho,
a mandado do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional) e que, para surpresa minha,
começaria na terça feira subseqüente.
Dito e
feito, no dia seguinte, iniciou minucioso trabalho de
raspagem que logo mostrou se constituir de várias
camadas de tinta branca (aguada de cal) que resultou
ser muito grossa difícil de ser removida, por
isso, o trabalho seria lento, sem pressa e não
admitia erro. Essa era a principal etapa da restauração
de mais de um ano, até que, apareceram os primeiros
traços de um desenho variado, certamente feito
no período de 1774 a 1777, quando foi esse Pórtico
erguido!
Diariamente,
em 2003, à tarde, lá estava eu munido
de material de desenho, e uma máquina fotográfica,
afim de não perder essa oportunidade de descobrir
algo desconhecido.
Assim,
a cada dia, já no meu ateliê, sobre a prancheta
e baseado nos rascunhos e fotografias fiz a reconstituição
do trabalho original que estava ali escondido desde
o século XVIII.
Material
transcrito por Walter de Aguiar Filho – Setembro/2010
Fonte: Vila Velha – Onde começou o Estado
do Espírito Santo - Fragmentos
de uma História
Autor: Jair Santos – 1999
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