CAPITANIAS
OU FEUDOS?
Fonte: ESPÍRITO SANTO - História de suas Lutas
e Conquistas
Por: Neida Lúcia Moraes
Cada
vez que procuramos compreender os primórdios da nossa
civilização tentamos colocar-nos no ambiente
brasileiro da metade do século XVI.
“Ah!
Quem te vira assim, no alvorecer da vida
Bruta Pátria, no berço, entre as sevas dormida
No virginal pudor das primitivas eras,
Quando, aos beijos do sol, mal compreendendo o anseio
Do mundo por nascer que trazias no seio,
Reboavas ao tropel dos índios e das feras!”
Era
essa a terra, onde a realidade apresentava matas espessas,
povoadas de nativos ferozmente ciosos dos seus direitos e
de endemias devastadoras para os estranhos que a ousassem
violar, mas que a fantasia e as lendas enchiam de tesouros
esplêndidos, que era preciso dominar.
Chegara a hora da alternativa: ocupar o Brasil ou perdê-lo.
Os franceses, desde 1524, tentavam apossar-se do Norte do
Brasil.
Havia a necessidade, tornada urgente, de substituir a simples
ocupação, já insustentável nos
moldes adotados pela colonização.
Portugal, cuja população nessa época
pouco excedia os 2 milhões, se via em apuros econômicos
com a enormidade de suas conquistas. A África e a Ásia
absorviam todos os recursos nacionais, dez vezes fossem mais
elevados.
Tomou-se a resolução de dividir a imensa costa
em lotes, verdadeiros feudos, e atribuí-los a fidalgos
que os aproveitassem, defendessem e os fizessem produzir.
Segundo o professor Ruy Ulrich: “As Capitanias eram
um tipo perfeito do regime feudal – facto estupendo
este, pois o feudalismo rigorosamente caracterizado, nunca
existiu no Portugal europeu. O que aqui não existira
julgou-se, porém, adequado para as Colônias e
lá se usou. Os donatários das Capitanias eram
autênticos senhores feudais, com direitos de propriedade
e de soberania, que se transmitiram hereditariamente, e tributários
perpétuos da Corte suzerana...”
Numa linha em que o fato é dado como consumado, o Padre
Serafim Leite fala em “regime feudal dos donatários”.
Entretanto, alguns historiadores discordam de que tenha sido
implantado um regime feudal na Colônia.
“Não me parece razoável” –
escreve Roberto Simonsen – “que a quase totalidade
dos historiadores acentue em demasia o aspecto feudal do sistema
das donatarias, chegando alguns a classificá-lo com
um retrocesso em relação às conquistas
políticas da época”.
Além dos vários considerandos sobre o peculiar
regime jurídico das donatarias brasileiras e as motivações
que terão presidido à sua criação,
suficiente no entender de Simonsen para lhes subtrair o cunho
feudal, acrescenta: “Os nossos historiadores, quando
se referem a donatarismo, o consideram como se estivessem
diante de um regime feudal. O fato se explica pela falta de
conhecimento das características da vida medieval que
somente os recentes estudos mais aprofundados da história
econômica têm esclarecido suficientemente”.
E acrescenta: “Dom Manuel, com sua política de
navegação, com seu regime de monopólios
internacionais, com suas manobras econômicas de desbancamento
do comércio de especiarias de Veneza, é um autêntico
capitalista. Os seus vassalos não ficam atrás.
Não fazem a conquista como os Cavaleiros da Idade Média.
Procuram engrandecer o país. Querem que Portugal seja
uma potência”.
Não há dúvidas da existência de
semelhanças, no plano jurídico, entre o regime
das donatarias e o feudalismo. Entretanto, o sistema estava
enquadrado no contexto do capitalismo comercial, que orientava
a empresa colonial portuguesa. E mais: Não só
os estudos mais recentes da história econômica
têm esclarecido a questão. Estudos sócio-culturais
e políticos vêm contribuindo para uma visão
bastante abrangente da vida medieval.
Estabelecidas as normas que deveriam ser empregadas na administração
das primeiras 14 Capitanias, escolhidos os 12 primeiros donatários,
a coroa portuguesa dava por encerrada a sua tarefa.
O donatário era um governador, subordinado ao controle
da administração portuguesa. Cabia-lhe a tarefa
de conquistar e colonizar a sua Capitania com recursos próprios,
materiais e humanos.
As sesmarias eram lotes de terra distribuídos pelos
donatários aos que tivessem condições
de cultivá-las. A verdade é que essas terras
eram distribuídas a amigos poderosos que nem sempre
cuidavam desses domínios.
LINKS
RELACIONADOS:
Uma capitania atribulada
A
morte do primeiro donatário
Quarto
Centenário de Vila Velha
Perfil - Vasco Fernandes Coutinho
Primeiro núcleo de Vila
Velha
Vasco Coutinho veio na certa!
Barrinha - A foz do Rio da Costa
O Morro do Moreno na história
do ES
|