Lembranças
de Victoria
Autor: Edson Quintaes
Data: 08 de agosto de 2005.
Lendo
a história de "Victoria", estão vindo
na minha lembrança gradativamente, muitos fatos que
provavelmente muitos que residem em Vitória de hoje,
não sabem.
Vou relatar fatos de minha infância, até 8 anos
aproximadamente, que aconteceram e ficaram guardadas na minha
cabeça até hoje.
Leiam, e vejam que fatos interessantes:
Eu morei desde que nasci (em 15 de abril de 1938), até
os 8 anos, no final da Rua Padre Nóbrega, número
529, no centro de Vitória, após os 8 anos mudamos
para final da Rua 7 de Setembro número 526, próximo
a "Convertidora". Chamava-se convertidora, pois
recebia a luz elétrica na forma "corrente alternada"
e "transformava" para "corrente contínua"
para alimentar a linha dos bondes e onde havia também
a garagem/oficina de todos os bondes.
Depois destas informações, vamos às outras
lembranças:
Durante a segunda guerra mundial, na Convertidora, tocavam
à noite uma possante sirene e todos da cidade tinham
que apagar todas as luzes das casas, para que possíveis
aviões alemães não vissem a nossa cidade
e a bombardeasse. Era um exercício feito sem hora,
mas sempre à noite, e quando a sirene tocava, meus
pais e todos da casa apagavam todas as luzes pois se alguma
autoridade visse uma luz em uma casa, estariam todos com sérios
problemas com a polícia local.
Meu pai tendo conhecimento em eletrônica, consertava
rádios e mais rádios das pessoas de Vitória,
e nossa casa tinha no interior uma "fila" de rádios
para serem sanados os defeitos. Uma vez, um senhor muito conhecido
e de posição financeira boa, levou para o meu
pai um rádio pois o mesmo não "falava",
e disse para meu pai: "Balbino, meu rádio não
está falando, me disseram que você tem que "trocar
uma peça" para o rádio falar nosso idioma..."
( ? ? ?, eu tinha uns 4 anos por aí ...)
Meu pai era rádio-amador, (PY-1UH >o "última
hora") e ficava permanentemente em contato com o mundo,
com o pequeno transmissor que ele mesmo tinha montado, me
lembro, cor verde, com cantoneiras de alumínio, um
baita microfone. Sabia de notícias mais rápido
que muitos meios de comunicação.
Uma vez, ouvi meu pai dizendo: "Aumente o volume do rádio,
está dando uma notícia que os Russos se juntaram
aos aliados". Era a esperança de que desta vez
a segunda guerra mundial, teria um término, e teve
mesmo, graças a Deus. Quando foi jogada a bomba atômica
em Hiroshima, eu tinha por volta de 7 anos... parece que foi
ontem ! ! ! hoje tenho 67 . . .e com saúde... repito,
graças a Deus.
Outro fato interessante: Durante a segunda guerra mundial,
o combustível sumiu, então os carros das pessoas
mais ricas passaram a ter DOIS ENORMES CILINDROS VERTICAIS
OU INCLINADOS, NA TRASEIRA DOS CARROS. Eram movidos a "gasogênio"
(vide as fotos e as propagandas de vendas dos volumes enormes
que eram colocados nos veículos...e anunciavam "...sem
tirar a estética..." (veja que "coisa linda"
o carro da propaganda nas fotos ao lado).
Olha só o trabalho para ia sair de casa com o veículo
movido a gasogênio:
Dentro dos tubos tinha um carvão que era aceso, depois
de acesso a fumaça era levada para o carburador para
então o motor funcionar movido ao "gasogênio".
Ai houve um problema: o carro quando ia subir uma ladeira,
perdia a força, então o motorista tinha que
ir lá atrás do carro e com um "abanador",
aumentar o fogo para assim aumentar a produção
do "gasogênio". O carro teria mais força
e subiria a ladeira.
Foi então que tiveram uma idéia: colocaram do
lado do motorista uma "ventoinha" movida a mão
(essas de fornalhas pequenas), o motorista quando percebia
que o seu carro estava perdendo força, girava a ventoinha
para produzir mais vento nas brasas...teria mais gás
e o carro teria mais força...
O gasogênio era usado em ônibus, lanchas, caminhões
etc...claro, gasolina tinha desaparecido do mercado...era
a única solução.
Me lembro de um enorme "zepelim", um grande dirigível
passando por cima da Baía de Vitória, tive muito
medo, pois ouvíamos dizer que vários navios
tinham sido torpedeados na nossa costa... e o mundo em guerra
tudo era possível.
Me lembro da carrocinha de leite, parando na rua 7 de Setembro
e uma fila enorme de pessoas com seus litros e panelas na
fila comprando o leite. O leiteiro, me lembro do nome dele,
"seu Paulo", sentado no banquinho de madeira vendendo
o leite, que muitas vezes azedavam e no dia seguinte era aquela
bronca, mas ele fazia a reposição de todo leite
azedado sem o "Copom".
Me lembro da paz, sem assalto, quase todas as pessoas se conheciam,
passeios no Parque Moscoso, com vários jacarés
nos lagos, tomando sol..., gansos, etc, a Praça Costa
Pereira, as mocinhas girando em um sentido e os rapazes no
outro sentido. Homem que andasse no sentido contrário
era considerado "suspeito" .... tudo em paz, que
coisa linda.
Meu avô fazendo diariamente antes de ir para o trabalho,
uma caminhada até o final da Avenida Capixaba, o Adelpho
Poli Monjardin (grande atleta do remo), caminhando pelas calçadas
com o seu "andar empinado", passadas largas, balançando
para a direita e para a esquerda, sempre sério mas
muito admirado por todos. Após essa caminhada meu avô
ia para o trabalho, na Prefeitura de Vitória, colocava
o seu chapéu na "chapeleira" e iniciava a
rotina diária do seu trabalho como tesoureiro.
Tinha um funcionário chamado Gilberto Espíndula,
(teria tido meningite quando criança e tinha pequenos
problemas) e quando chegava na Prefeitura, colocava o chapéu
na chapeleira e ia para o trabalho. No final do dia ele pegava
o chapéu rapidamente e saía bem depressa.
Foi então que alguém colocou no lugar onde ele
pendurava o chapéu, "cola". Já viram
no que deu...quando terminou o horário de trabalho,
o Gilberto pegou o chapéu bem rápido e puxou,
mas O FORRO FICOU GRUDADO NA PONTA DA MADEIRA do chapeleiro.....foi
uma baita confusão que no final acabou em paz...
Estes e outros fatos, deixaram uma boa lembrança que
tenho de "Victoria".
Dando "um pulo" para o futuro, nas décadas
de 50, 60, 70, 80 eu como músico, ah, tocando durante
33 anos nas noites do Espírito Santo, interior de Minas
Gerais, Rio de Janeiro e algumas vezes fazendo testes de equipamentos
(órgão e sintetizador), em "inferninhos"
de São Paulo... quantas cenas, quantas lembranças
até cômicas dentro de clubes...me lembro e fico
rindo de muitas cenas... muitas me levando a risos, outras
que deixavam lágrimas nos olhos, como uma Bodas de
Diamante no Cerimonial Itamaraty, não me esqueço,
um casal bem velhinho, e o padre que realizava a cerimônia,
me informaram que era neto deles. As palavras de sacerdote
aos avós, foram tão belas que me lembro ainda:
até os garçons estavam com lágrimas nos
olhos sensibilizados com a cena... linda não seria
a palavra, foi algo sobrenatural.
Em outra ocasião uma festa da Carmélia M. de
Souza, no Iate Clube, a festa "Humor negro". Era
mais ou menos assim: O salão todo ornamentado com "coroas
de flores", no meio do salão um caixão
de defunto e com um "defunto de mentira" dentro
do dito caixão. Aí acontecia o seguinte: Uma
pessoa passando-se por um religioso, "encomendava a alma
do defunto" e no final jogava um copo de bebida no rosto
de dito defunto. Nesse momento o "defunto" ficava
em pé, olhava para todos, dava "uma banana"
e eu com o meu conjunto iniciávamos o baile... que
terminava lá pelas 4 da madrugada !
Uma vez eu saí do funeral de meu sogro, e fui para
o Iate Clube tocar o baile "Humor Negro"... que
situação atípica heim? Coisas da vida
! ! ! Vida de músico.
Agradeço a Deus, tudo valeu.
Hoje estou com meus 67 anos e olhando para trás, vejo
que "Ele" foi muito bom para mim, obrigado.
Talvez um dia, escreva mais sobre nossa querida "Victoria",
cidade presépio do Brasil. De Vila Velha, faço
fotos das belas imagens.
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