Um engano histórico?
Revendo
nossos arquivos, encontramos mais documentos, livros e relatos
sobre a chegada de Vasco Coutinho ao ES. Em uma de nossas
fontes, é afirmado que o donatário do ES chegou
à Praia do Ribeiro, aos pés do Morro do Moreno,
e não na Prainha, como apregoa a história oficial
do ES. Confira:
O rei de Portugal D. João III de Aviz, querendo administrar
economicamente a Colônia, dividiu em 1530 o Brasil em
Capitanias Hereditárias. Coube ao fidalgo português
Vasco Fernandes Coutinho, filho de Jorge de Melo, “O
Lágio”, e de Branca Coutinho, a donataria do
Espírito Santo. Guerreiro em Málaga, Molucas,
Tamou, Goa e outras praças da Ásia e África,
Coutinho fora ainda Alcaide (prefeito) de Ormuz. Homem de
fama militar incontestável, que servira na Índia
ao nobre e generalíssimo Afonso de Albuquerque, preso
a uma fé medieval, obediência cega ao Rei, sedução
pelo perigo e aventura, além de desprezo pela vida
aristocrática sem ação, não vacilou
em vender sua Quinta em Alenquer, casas, ou trocar seus rendimentos
vitalícios por equipamentos, provisões e homens
para a ocupação do seu “feudo” ultramarino.
Em 23/05/1535 chegou o donatário a bordo da caravela
“Glória”, numa enseada aos pés de
um rochedo (onde mais tarde o espanhol franciscano Pedro Palácio
daria instruções para a construção
do Convento da Penha), sendo recebido pelos nativos da praia
(local atual do 38º Batalhão de Infantaria). Era
Domingo de Pentecostes, razão para o batismo do lugar
com o nome de Espírito Santo. A Carta régia
assianda em Évora, Portugal, em 1/6/1534, garantia
a Coutinho a demarcação primária da Capitania,
passível de expansão.
Vasco Fernandes Coutinho possuía mais de cinqüenta
anos (teria nascido em 1484 e falecido em 1561). Os colonos
que trouxe para povoar, além de gente do povo, misturavam
alguns personagens inscritos nos livros da nobreza lusitana.
Exemplo: Jorge de Menezes (degredado por crime de morte) era
fidalgo de linhagem, descobridor da Nova Guiné, possuindo
títulos de ordens dinásticas. Simão de
Castelo Branco, outro fidalgo. Fernandes Vélez, idem;
Braz Telles de Menezes, cavaleiro da Casa Real, servidor do
Príncipe Dom Luís, irmão de Dom João
III, Rei de Portugal. Sebastião Lopes, escudeiro e
morador de Vila de Muge. Antônio Espera, cavaleiro da
ordem de San Thiago, almoxarife e feitor (nomeado a 2/9/1534)
da Capitania. Duarte Lemos, fidalgo e cavaleiro da Casa Real.
O desembarque na enseada de Santa Maria (antiga Foz do Rio
da Costa), entre o Morro do Moreno e o Penhasco da Penha,
com 63 colonos, foi um desafio ilimitado. O donatário
teve missão árdua. Não encontrando construções
ou comodidades, feitorias, teve que começar do zero.
A capitania rica em belezas naturais, o “vilão
farto”, conforme descrevia o velho fidalgo, recebeu
logo providências tais como fortificações
contra ataques dos nativos (legítimos donos da terra),
corte de pau-brasil, plantio de cana-de-açúcar
com tecnologia e mudas trazidas da Ilha da Madeira.
Além da insubmissão dos indígenas, o
donatário teve que enfrentar as dissensões entre
os portugueses. A seus companheiros Jorge de Menezes e Duarte
lemos concedera extenas sesmarias, usando os poderes que recebera
juntamente com a carta de doação. Com isso criou
dois rivais implacáveis.
Foi assim das mais duras a empreitada de Vasco Fenandes Coutinho.
Para o patriarca do Espírito Santo, a capitania foi
um prêmio que se transformou em castigo: teve de empenhar
todos os haveres para conservar sua vila, e acabou por morrer
pobre e desvalido.
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